A História do
movimento anti-apartheid na África do Sul não se resume apenas a figura
magnifica de Nelson Mandela. Assim como Mandela, outros tantos homens lutaram
para romper com o regime racista e segregacionista que vigorava na África do
Sul desde o ano de 1948.
Com certeza,
uma dessas figuras mais importantes foi o ativista Steve Bantu Biko, que
durante os anos 1970, no auge do apartheid, se tornou uma das mais importantes
vozes negras contra este sistema deplorável do apartheid.
Por suas
palavras e por sua força, Biko foi morto. Em Setembro de 1977 foi preso pela
polícia sul-africana e espancado até a morte por quase uma semana em uma penitenciaria. Biko morreu, mas sua mensagem foi transmitida.
Assim, três
anos após a sua morte, o cantor inglês Peter Gabriel, ex-líder da grande banda
Genesis e com certeza um dos artistas mais ativos e politizados da história da
música, compôs a música “Biko” em sua homenagem, de modo a lembrar a sua vida,
sua morte e os horrores do vigente apartheid.
A Música é
curta, mas é de uma beleza imbatível. Na primeira estrofe da música, Peter
Gabriel canta:
Setembro de
1977
Clima agradável
no Porto Elisabeth
A rotina era a
mesma
Na sala
policial 619
De imediato
percebemos que a primeira estrofe se refere diretamente a prisão de Steve Biko
naquele dito mês de Setembro de 1977, em Porto Elizabeth, na África do Sul.
Gabriel deixa claro também que a prisão do ativista e de outros tantos era de
natureza normal naquela conjuntura de opressão, assim “a rotina era a mesma”.
Nos dois
estrofes seguintes, Gabriel continua:
Oh, Biko, Biko, Por que Biko?
Oh, Biko, Biko, Por que Biko?
Yihla Moja, Yihla Moja – O homem está morto.
Quando tento dormir à noite
Meus sonhos são vermelhos
Lá fora o mundo é negro e branco
Com apenas uma cor morta.
Nestes versos, além das lamentações pela Morte de Biko, Gabriel
demonstra, por meio de metáforas entre as cores negra e branca, a violência
a que sofriam as pessoas negras na África do Sul. Nos sonhos deles, o sangue
aparece, e nesse mundo segregado, se torna aparente que esse sangue jorrado
são da pessoas negras, massacradas pelo regime do apartheid. É a cor negra quem
morre diante dessa violência.
Na penúltima estrofe da música, Peter Gabriel informa quase como
um manifesto:
Tu podes assoprar uma chama
Mas não podes fazê-lo com uma fogueira
Uma vez que as fagulhas incendeiam algo
O vento as tornará maiores
Oh, Biko, Biko, Porque Biko?
Ou seja, a mensagem é: vocês podem ter matado Biko (a chama), mas
a fogueira (suas mensagens) vocês não conseguirão apagar. Muito pelo contrário,
de certo, a morte de Biko ajudou a potencializar as suas mensagens e a luta
contra o apartheid, na medida em que cada vez mais os olhares externos se
voltaram a realidade sul-africana.
E por fim, no derradeiro estrofe da canção, Gabriel reforça esta
questão:
Yihla Moja, Yihla Moja – O homem está morto.
E os olhos do mundo agora estão vigilantes.
Biko está morto, porém os olhos do mundo agora estão voltados a
África do Sul. Além da música de
Gabriel, outras tantas homenagens foram feitas a Biko, como a película “Cry
Freedom” dirigida por Richard Aftenborough no ano de 1987, a qual retrata a
história de vida e de luta deste grande ativista político.
De certo, esta grande canção de protesto de Peter Gabriel ajudou a
tornar sempre viva a memória e a mensagem deste que foi um dos grandes
ativistas sul-africanos na luta contra o famigerado regime do apartheid. Biko is
alive!
Ps: Segue o video da canção com a tradução:
Ass: Rafael Costa Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe
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