De certa forma, o
falecimento do genial comediante e roteirista mexicano Roberto Gómez Bolanos
acabou por “reacender” a memoria em torno de outra grande figura cômica
mexicana: Mário “Cantinflas” Moreno. De imediato, uma grande quantidade de textos acabaram sendo
criados na maioria das vezes com o propósito de colocar em debate uma certa
comparação entre ambos os cômicos, para saber “quem foi o maior” entre eles.
Conversa vai, conversa
vem, e a polêmica, totalmente desnecessária, permanece sem resposta. O que dá
para responder, e isso sem sombra de dúvidas, é que ambos os cômicos
representam o supra-sumo da chamada comédia de “crítica social” mexicana.
Certamente Cantinflas e Bolanos foram os maiores expoentes desse gênero,
possuindo, entre suas particularidades, mais aproximações do que diferenças no
modus operandi de fazer comédia, e isso explica a amplitude que obtiveram em
suas carreiras, as quais, de certo modo se encaminhariam por vias um pouco “diferentes”:
Bolanos, apesar de ter participado de filmes, foi um gênio da comédia
televisiva, enquanto que Cantinflas foi um genial cômico dos cinemas mexicanos.
Mas
quem foi Mário Moreno, o “Cantinflas”? Nascido na Cidade do México em 1911, Mário Moreno foi o maior comediante cinematográfico mexicano, tendo sido
apontado por nada mais, nada menos que Charles Chaplin, que o conhecera
pessoalmente, como o “homem mais
engraçado do mundo”.
Cantinflas, o alter ego de Mário Moreno |
Seu
apelido “Cantinflas” teria nascido da expressão “cuan inflas”, que em outras
palavras seria o resultado de uma característica de seus personagens: falar
muito, se embolar em meio as palavras, e no fim não falar nada.
Oriundo do mundo dos circos populares, Cantinflas levou para as telas do cinema
mexicano, a mais pura expressão da realidade social da qual ele próprio nascera,
o que explica a sua ascensão rápida e o sucesso em meio ao público popular.
Seus personagens quase sempre representavam o mesmo modelo: um sujeito simples, esperto e de bom coração que em meio a sua ingenuidade procura subir na vida
por meio de seus próprios esforços.
"Se eu fosse deputado", um dos clássicos filmes de Cantinflas |
O
Cinema de Cantinflas é sobretudo um cinema de extrema crítica social. Películas
como “Se eu fosse deputado”(1951) e “O Analfabeto” (1961), além de outras
tantas películas, dão a tônica exata de sua produção cômica permeada de olhares
críticos, onde a miséria, a fome, a pobreza, os desmandos políticos e a
educação aparecem sempre em primeiro plano.
Cantinflas
era o Carlitos Chapliano de Mario Moreno. Seu sucesso foi tamanho que em 1956 o
comediante foi convidado para participar do aclamado filme hollywoodiano “A
Volta ao mundo em 80 dias”, baseado na clássica obra de Julio Verne, quando
ganhou o “Globo de Ouro” para melhor ator, surpreendendo e abrindo os olhos do
mundo para aquele genial comediante.
Cantinflas em "Volta ao Mundo em 80 dias" (1956) |
Quem
foi mais genial? Não sei, e sinceramente não me preocupo em achar uma possível
resposta para tal. Ambos foram sensacionais em seus campos de atuação, moldando
um cinema crítico e de enorme amplitude frente a sociedade. Aliás, ambos
chegaram a trabalhar juntos, pois em 1966, Cantinflas chegou a escolher os
roteiros de Bolanos para uma série televisiva chamada “Os Estudios de
Cantinflas”, mas a série acabou não saindo do papel.
Cantinflas
faleceu em 1993, com câncer de pulmão, mas até hoje sua fama permanece no
México, e além dele. Nesse próximo ano de 2015, o cinema mexicano disputará ao “Óscar de Melhor filme estrangeiro” com a película “Cantinflas – a magia do Cinema”.
Nada mais justo para quem foi tão genial.
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