segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A experiência visionária em “Machete” (2010): a eleição de Donald Trump, a construção do muro na fronteira Estados Unidos-México e a situação dos latinos em solo americano

É certo que não é de hoje que uma ala da sociedade americana tem defendido a proposta de construção de um “muro” divisor entre os Estados Unidos e o México. Tal proposta separatista quase sempre fora encabeçada por indivíduos/grupos de matriz reacionária que, em momentos de crise, procuraram sempre enxergar na presença do “outro latino” a raiz de todos os seus problemas.
Esta questão galgara tamanha força que se tornara, inclusive, uma das principais “propostas” defendidas pelo “republicano” Donald Trump durante as eleições presidenciais ocorridas neste ano de 2016. Ao apresentar-se como candidato, o milionário empresário Trump procurou então apresentar como um dos pilares de seu governo, a aplicação de uma serie de rígidas leis de imigração calcadas justamente na construção de um “eficiente” muro ao longo da fronteira Estados Unidos-México.
     Em uma entrevista concebida ao canal MSNBC, Trump anunciara, inclusive, que os gastos com a construção deste muro divisor seriam então entregues ao próprio México como parte de uma “dívida” que aqueles supostamente nutririam com os Estados Unidos. Segundo este: "É uma pequena fração do que, provavelmente, perdemos com o México. Temos um déficit comercial astronômico com o México. Fazemos tantas coisas pelo México e perdemos uma fortuna nos negócios com eles."

Trump e a sua "promessa" de construção de um muro na fronteira EUA-México

         Nesse sentido, o governo mexicano se tornaria então o responsável por aplicar uma soma de 8 bilhões de dólares a fim de arregimentar um muro divisor entre as fronteiras americanas e as mexicanas.  Em resposta a esta proposta de Trump, o ex-presidente mexicano Felipe Calderón respondera com as seguintes palavras: "Não vamos pagar um só centímetro para um estúpido muro como esse. E é preciso que saibam”.
       Ao assistir os meandros da campanha presidencial alçada por Trump não tive como não recordar da película “Machete”, do diretor Robert Rodriguez, lançado em 2010. Nascido em San Antonio em junho de 1968, Rodriguez, filho de mexicanos imigrantes, Rodriguez se tornara, desde os anos 1990, um dos diretores americanos mais reverenciados, tendo produzido uma série de películas de ação cuja temática quase sempre acaba refletindo questões políticas envolvendo as relações entre os americanos e os mexicanos.

Robert Rodriguez, Jessica Alba e Danny Trejo no lançamento de "Machete" (2010)

      O ápice desta posição cinematográfica se deu certamente com a produção da película “Machete” no segundo semestre de 2010. Contando com um elenco estrelado – nomes como Robert de Niro, Steven Seagal, Danny Trejo, Jessica Alba, Michelle Rodriguez, entre outros -, o cineasta levou as telas então a história de Machete Cortez, interpretado por Danny Trejo, um ex-agente federal mexicano, que após ser traído por seu chefe corrupto, acaba perdendo a sua filha e esposa em um assassinato cometido por um traficante de drogas.

Poster Promocional de "Machete" (2010)

       Três anos após este acontecimento trágico, Machete, agora operário, acaba aceitando então a oferta de um empresário para assassinar o Senador John McLaughin, candidato a presidência da república, cuja proposta de governo é justamente a expulsão de todos os imigrantes mexicanos e a posterior construção de um muro elétrico que impedisse a entrada daqueles.
      Ao aceitar a proposta, Machete acaba caindo novamente em um ardil, de maneira que acabou sendo usado como um bode expiatório pelo empresário e pelo senador em questão como parte de um plano que visava representar todos os mexicanos como sanguinários terroristas, a fim de convencer a população americana de que a construção do dito muro elétrico seria a melhor solução a se seguir.

Senador John McLaughin, interpretado por Robert de Niro.

    Apesar de todo o caráter “trash” nutrido pela película, repleta de mortes sangrentas e diálogos canastrões, a película “Machete” soube captar muito bem o estado da questão desses debates, discutindo é certo da sua maneira bastante peculiar à problemática questão da fronteira americana frente aos mexicanos e, sobretudo todo um “ideário” separatista simbolizado na construção de um muro divisor.
     Não sabemos se este muro será construído. O recém-eleito presidente Donald Trump ao alçar esta proposta como um dos pilares de seu governo, tem se mostrado resoluto na execução desta “promessa”.
    O que podemos afirmar é que tais medidas certamente acabarão causando um profundo estremecimento nas relações entre os Estados Unidos e o México, relações estas que historicamente nunca foram das melhores, abrindo assim espaço para um quadro de imposição de hostilidades ainda maiores para os “outros” residentes em solo americano. Mexicanos, brasileiros, porto-riquenhos, etc, tendem a serem ainda mais hostilizados, evidentemente que sem generalizar esse pensamento hostil para toda a população norte-americana, em uma conjuntura governamental que de imediato deve se mostrar cada vez mais hostil a presença daqueles.

Ass. Rafael Costa Prata.
Mestre em História pela Universidade Federal de Sergipe.



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