Charles
Chaplin. Buster Keaton. Harold
Lloyd. Todos nós conhecemos a trajetória da comédia durante o Cinema Mudo, a
partir da carreira destes, ou de alguns destes, comediantes. Poderíamos ter
citado outros tantos como Laurel e Hardy (que aqui no Brasil ficaram conhecidos
como o Gordo e o Magro), Roscoe “Fatty” Arbuckle, Harry Langdon, entre tantos
outros que poderiam ser citados. De fato, não foram poucos os comediantes que,
infelizmente por descaso do próprio público ou do destino, acabaram não
sobrevivendo aos percalços do tempo, sendo esquecidos pela História.
Como
um avido admirador da Comédia em tempos do Cinema Mudo, essa questão é algo que
tenho justamente observado no decorrer das minhas leituras, pesquisas, enfim,
quando procuro investigar a comédia durante aquela época, e em todos os casos,
acabo percebendo que a comédia foi muito mais do que algo reduzido a um pequeno
número de grandes comediantes, tendo ficado outros tantos, de qualidade irretocável,
a margem dos louros da História do Cinema.
Dentro
justamente dessa constatação, acabou por me sobressaltar outra questão mais surpreendente
ainda: a “raridade” da participação feminina – como protagonistas – desse gênero
fílmico. E de outra maneira, como as poucas comediantes que existiram, acabaram
sendo esquecidas a posteriore.
O
primeiro ponto a ser destacado é a coragem destas mulheres. Há de se pensar
que, por mais que o Cinema fosse galgando cada vez mais espaços no decorrer do
começo do século XX, ainda havia certa resistência de um publico a aceitar a
participação das mulheres dentro de vários gêneros, e na comédia, mais ainda.
Em um mundo totalmente masculinizado, algumas
delas procuraram vencer e quebrar essas barreiras, ingressando numa seara,
cujos olhares de admiração e de repulsa se misturavam. Nesse espaço do sorriso
masculino, algumas delas souberam pouco a pouco galgarem seus espaços, mas, o
quadro que pudemos perceber ainda assim é ínfimo, pelo menos o que chegou a
nós. Dessa forma, obviamente que de forma superficial, traço dois perfis da
participação feminina no gênero “comédia”: ou elas participavam de filmes de
grandes comediantes, como coadjuvantes, servindo como um par romântico para
Chaplin, Keaton, entre outros - o que não as impedia de mostrar seu talento,
sua graça – ou no mais raro dos casos, conseguiam até encontrar o protagonismo
dentro do gênero.
Comecemos
pelo ultimo dos casos citados, pois é de ordem raríssima. De forma paradigmática,
cito o caso da comediante Mabel Normand, que atuando durante a década de 1920,
conseguiu o status que a leva a ser considerada até hoje a maior comediante da
História. Seu talento era tão grande que, em um de seus filmes, chamado “A
estranha aventura de Mabel”, a atriz contava com a participação do “coadjuvante”
Carlitos, álter – ego de Charles Chaplin, no decorrer da execução da comédia.
Trabalhando para a Keystone, Mabel não só encenava aos
filmes, mas também escrevia e dirigia aos seus próprios filmes, o que demonstra
o talento indiscutível dessa, não só para a Comédia, mas como para a toda
extensão produtiva do Cinema. Tendo participado como protagonista de uma
enormidade de filmes que vão do inicio da década de 1910 até o inicio dos anos
1930, infelizmente Mabel Normand teve um fim trágico de uma carreira que
coincidira com o fim de sua própria vida: acabou falecendo por conta de uma
tuberculose aos 34 anos de idade.
Entretanto, Mabel foi realmente uma exceção. Em geral, o que
se observou foi justamente o primeiro perfil apontado; moças engraçadíssimas atuando
como coadjuvantes de comedias românticas de grandes atores da época, em
destaque, aquelas que ficaram conhecidas por terem atuado com Charlie Chaplin.
Foram às garotas dos “filmes de” e não propriamente os “filmes dela”. Há uma
grande diferença entre essas duas expressões.
Como dito, as atrizes que ficaram mais conhecidas nesse
sentido foram justamente aquelas que ficaram conhecidas como “The Girls Chaplin”;
aquelas que serviram como par romântico de Charles Chaplin em suas películas.
O Caso mais conhecido então é o da atriz Edna Purviance que
atuara em mais de 30 produções de Charlie Chaplin, no decorrer da década de 1920
e 1930. Seu papel de maior destaque foi no filme “O Garoto” de 1922, quando
ficou conhecida por suas caras engraçadas de surpresa e de susto, além de sua
doçura característica.
Um caso que foge ao caso por não estar situado dentro do gênero
comedia, mas que deve ser citado é o da aclamadíssima atriz Lilian Gish.
Considerada uma das maiores atrizes de todos os tempos, talvez a maior durante
a década de 1910 a 1930, Lilian participara de inúmeros filmes do grande
cineasta David Griffith, que em geral eram para serem dramas. Na verdade eram
dramas, só que é inevitável não perceber como o talento cômico de Lilian Gish
sobressaia nessas obras. Em filmes concebidos parem serem dramas, como os históricos
“O Nascimento de uma Nação” de 1915 e “Intolerância” de 1916, Gish dá um show a
parte, arrancando risos e gargalhadas ainda hoje em quem porventura procure
assistir as películas. Em “Intolerância”, Gish dá um show ao interpretar uma
jovem moça da antiga Babilônia, que procura de todas as formas, fugir dos
casamentos impostos naquela sociedade eminentemente patriarcal.
Enfim, se hoje temos inúmeras atrizes – comediantes há se de
se mencionar que em outras épocas esse fenômeno foi mais reduzido. Que se citem
as causas como machismo da sociedade, conservadorismo, etc. No fim, o que se
deve ter, em primeiro e em último caso, é que o sorriso não tem sexo!
Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe
Oi amigo, parabéns pelo blog. Só um pequeno detalhe, a atriz citada como sendo Lillian Gish no filme "Intolerance" é na verdade Constance Talmadge. Um abraço ;)
ResponderExcluirOi amigo, parabéns pelo blog. Só um pequeno detalhe, a atriz citada como sendo Lillian Gish no filme "Intolerance" é na verdade Constance Talmadge. Um abraço ;)
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