É mais do que natural que de tempos em
tempos, a indústria do Cinema encontre em um ou outro ator o modelo arquetípico
de herói que se encaixa com perfeição nos padrões estéticos da época.
Nos anos 1950 – 1960 não foi diferente,
muito pelo contrário, esse fenômeno foi mais acentuado. Numa época em que o
chamado “gênero épico” teve seu apogeu, encontrar atores/atrizes que se
adequassem perfeitamente ao modelo dramático/heroico que as películas exigiam
era algo mais do que necessário.
Nesse sentido, nenhum outro ator na
História de Hollywood conseguiu personificar com tanta perfeição esta procura,
como o ator Charlton Heston. Encenando seu primeiro épico, a adaptação do drama
histórico de Shakespeare de nome “Júlio Cesar”, dirigida no ano de 1950 por
David Bradley, na qual Heston interpreta a Marco Antônio, o jovem ator de 27
anos entraria em definitivo no hall dos grandes interpretes de heróis bíblico-históricos
daquele momento em diante.
Obviamente que a sua vastíssima carreira
marcada por filmes de temáticas diversas não se restringe somente a este modelo
épico, contudo, sua carreira não deixa de ser marcada hoje em dia, justamente
por esses filmes que cortaram como uma espécie de marcador temporal, toda a sua
carreira.
Logo, em 1956, quatro anos após “Júlio
Cesar”, Heston voltaria a participar de um grande épico, nesse momento, não
como um personagem coadjuvante, mas sim como personagem principal ao
interpretar a figura bíblica de Moises na película “Os Dez Mandamentos” de
1955, do grande gênio dos épicos, Cecil B. De Mille.
Foi seu momento de sagração como ator dramático
dentro desse gênero épico. Heston conseguia reunir em torno de sua figura, todas
as virtudes que chamavam a atenção do público norte – americano e, por
conseguinte, dos produtores que o contratavam: era um ótimo ator, sabia encarar
um drama com extrema facilidade, e fisicamente mantinha uma aparência de galã,
aspecto que também ajudava na concretização do lado romântico de tais
películas. Sem contar é claro o seu físico forte, que o ajudava a com
naturalidade, interpretar seus personagens em cenas de luta, conflitos, guerras
e etc.
Dentre pouco tempo, Heston seria
convidado a participar daquela que é com certeza a sua consagração maior no
Cinema; A película bíblica Ben Hur, do ano de 1959, dirigida por William Wyler,
até hoje uma das películas com o maior numero de estatuetas ganhas – foram 11
em 12 indicações ao Oscar – levou a sua aclamação pela critica ao interpretar o
personagem homônimo ao filme, o príncipe judeu Ben Hur. Heston levou o premio
de melhor ator nesse ano, de maneira incontestável.
Dois anos depois, Heston é “convidado” a
participar da película “El Cid” do ano de 1961, na qual interpreta a lendária figura
do herói espanhol, Rodrigo Diaz de Vivar, o El Cid, naquela película excepcionalmente
patrocinada pelo generalíssimo espanhol, Francisco Franco. Nada melhor que
contratar o mais conhecido ator de épicos dramáticos e históricos da época para
interpretar a maior figura histórica nacional.
Seguindo o ritmo incessante de
interpretações históricas, Heston interpreta ao pintor italiano Michelangelo na
película “Agonia e Êxtase” do diretor Carol Reed no ano de 1965.
No mesmo ano,
sem cansar, Heston retorna aos tempos de Jesus para interpretar seu primo, João
Batista, na película “A Maior História de todos os tempos” de direção de George
Stevens.
De forma peculiar, no ano de 1968, Heston
de tão importante como era, interpreta certamente a própria Humanidade no
clássico distopico “O Planeta dos Macacos” de Franklin Shaffner, onde atua como um cientista perdido
em um futuro dominado por símios.
Heston parou para respirar, mas em 1970,
voltou a interpretar Marco Antônio no remake do filme “Júlio Cesar”, dessa vez
dirigida por Stuart Burg. Em 1973, volta a dirigir uma figura histórica, dessa
vez, o cardeal francês Armand Richalieu (foto) na película “Os Três Mosquiteiros”
dirigida por Richard Lester.
Como se pode perceber, obviamente que com
o passar do tempo, Heston tornava se mais velho, e em alguns casos, inapto para
continuar interpretando personagens que exigissem o esforço físico de sua juventude.
Entretanto, Heston continua inserido nos filmes, atuando como personagens mais
velhas, sábios, etc.
Enfim, dos anos 1950 até os 1970,
encontramos o período de apogeu de um ator que soube muito bem se encaixar nos
mais variados rótulos e personagens diversos a que era convidado a interpretar.
De Michelangelo a El Cid, de João Batista a Marco Antônio, talvez nenhum outro
ator tenha conseguido se inserir dentro de uma dimensão histórica como Heston
conseguiu.
A titulo de curiosidade, já em sua
velhice, Heston ainda interpretara o medico alemão Josef Mengele em uma película
homônima produzida no ano de 2003, e dirigida por Egídio Eronico.
Heston que em vida fora uma figura
politicamente polemica, engajada em questões complicadas, como a defesa do
direito de porte livre de armas aos americanos, no Cinema, após seu falecimento
em 2008 aos 84 anos, só deixou o rastro de uma belíssima obra a altura de um grandíssimo
ator. Afinal, é pra poucos ir de Moises a El Cid!
Ass:
Rafael Costa Prata
Graduando
em História pela Universidade Federal de Sergipe
Somente para completar seu excelente texto, penso que o filme Spartacus seria ainda melhor se Charlton Heston fosse o personagem título ao invés de um insosso Kirk Douglas. E somente ele seria capaz de ser tão bom quanto Peter O`toole no fenomenal Lawrence da Arábia, o maior de todos os épicos.
ResponderExcluirSomente para completar seu excelente texto, penso que o filme Spartacus seria ainda melhor se Charlton Heston fosse o personagem título ao invés de um insosso Kirk Douglas. E somente ele seria capaz de ser tão bom quanto Peter O`toole no fenomenal Lawrence da Arábia, o maior de todos os épicos.
ResponderExcluirSimplesmente o maior de todos os tempos nas artes cênicas!
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