A Utilização do Cinema pelo Estado não
é algo que nos surpreenda mais hoje em dia. Tal relação apresenta inúmeros
casos de destaque onde a evidencia dessa empresa é inegável, como ocorreu com a
apropriação da maquina cinematográfica pelos estados totalitários durante a década
de 1930 e 1940, em destaque, o Cinema Nazista de Leni Riefenstahl – com suas
aclamadas obras “Olímpia” (1938) e o “Triunfo da Vontade” (1934) – e o Cinema soviético de
Sergei Eisenstein – com “Outubro” (1927) e “O Encouraçado Potemkin” (1925).
Nesses
e noutros casos, a práxis conjugava a cineastas, produtores, roteiristas e todo
o demais meio do Cinema estar a serviço do Estado, promovendo e produzindo películas
com claro teor patriótico, ideológico, em suma, atendendo aos interesses
daqueles que o patrocinavam.
No entanto, há um caso único, raro, que
necessita ser destacado. Houve o dia em que essa intromissão, essa apropriação
foi mais intensa, direta: um líder de Estado participara diretamente da
produção de uma película como um “roteirista fantasma”.
Esse foi o general espanhol Francisco
Franco que, no ano de 1941, escreve, sob pseudônimo de Jaime de Andrade, o
roteiro da película “Raza”, que seria levado as telas pelo cineasta José Luiz
Sáenz de Heredia.
De clara inspiração no mais aclamado
modelo alemão - “O Triunfo da Vontade” de Leni Riefenstal – a película “Raza”
foi, conforme o Historiador Wagner Pinheiro Pereira, “o modelo oficial de filme
de propaganda franquista” [1].
Segundo o mesmo:
Entre 1940 e 1941,
o “Caudilho” redigiu o texto de Raza, cujo o roteiro parecia mostrar a
“secreta” intenção de estar destinado ao cinema. Em 1941, com a criação da Cancillería
del Consejo de la Hispanidad, dependente da Subsecretaría de Educácion Popular,
o cineasta José Luis Sáenz de Heredia, primo do fundador da Falange (José
Antonio Primo de Rivera), ficou encarregado da realização desse filme, que
deveria servir de modelo para as próximas produções cinematográficas dos
franquistas [2].
Como
consequência, o enredo da película apresenta:
Um panorama da
Espanha de 1898 a 1939 por meio do destino da família Churruca. O relato, uma
transposição biográfica do autor, tem em conta algumas das muitas frustrações
de Franco e da pequena burguesia a que pertencia, para o que se constrói uma
dupla imagem: o “Caudilho”, ser mítico e intocável, e o oficial de infantaria
José Churruca (...) A trama narra como a família Churruca enfrentou a guerra: o
esquerdista Pedro queria ser deputado, o oficial José não tardou a se unir aos falangistas,
Jaime era sacerdote e Isabel casara-se com o oficial Luís Echevarría. Enquanto
o primeiro e alguns dos demais morrem defendendo suas ideias, o segundo aparece
triunfante no “Primeiro Desfile da Vitória”. Sem dúvida, o mérito do filme está
em ter sido um compêndio do pensamento franquista [3].
Franco desejava assim, associar a sua
imagem ao daquele mítico caudilho hispânico, para dentre outras questões,
fortalecer ainda mais, a sua “áurea sagrada”, se utilizando para tal, do Cinema
para massificar seus intentos. A Película "Raza" se apresenta assim como um caso único, sendo considerado até hoje, a única vez em que um estadista interferira diretamente nos meandros de produção de uma película.
Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe
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