sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Quando um Líder de Estado decide escrever um roteiro de Cinema: Francisco Franco e sua película “Raza” (1942)


         A Utilização do Cinema pelo Estado não é algo que nos surpreenda mais hoje em dia. Tal relação apresenta inúmeros casos de destaque onde a evidencia dessa empresa é inegável, como ocorreu com a apropriação da maquina cinematográfica pelos estados totalitários durante a década de 1930 e 1940, em destaque, o Cinema Nazista de Leni Riefenstahl – com suas aclamadas obras “Olímpia” (1938) e o “Triunfo da Vontade” (1934)  – e o Cinema soviético de Sergei Eisenstein – com “Outubro” (1927) e “O Encouraçado Potemkin” (1925).
         Nesses e noutros casos, a práxis conjugava a cineastas, produtores, roteiristas e todo o demais meio do Cinema estar a serviço do Estado, promovendo e produzindo películas com claro teor patriótico, ideológico, em suma, atendendo aos interesses daqueles que o patrocinavam.
         No entanto, há um caso único, raro, que necessita ser destacado. Houve o dia em que essa intromissão, essa apropriação foi mais intensa, direta: um líder de Estado participara diretamente da produção de uma película como um “roteirista fantasma”.

      Esse foi o general espanhol Francisco Franco que, no ano de 1941, escreve, sob pseudônimo de Jaime de Andrade, o roteiro da película “Raza”, que seria levado as telas pelo cineasta José Luiz Sáenz de Heredia.
         
      De clara inspiração no mais aclamado modelo alemão - “O Triunfo da Vontade” de Leni Riefenstal – a película “Raza” foi, conforme o Historiador Wagner Pinheiro Pereira, “o modelo oficial de filme de propaganda franquista” [1].
         



           Segundo o mesmo:
         Entre 1940 e 1941, o “Caudilho” redigiu o texto de Raza, cujo o roteiro parecia mostrar a “secreta” intenção de estar destinado ao cinema. Em 1941, com a criação da Cancillería del Consejo de la Hispanidad, dependente da Subsecretaría de Educácion Popular, o cineasta José Luis Sáenz de Heredia, primo do fundador da Falange (José Antonio Primo de Rivera), ficou encarregado da realização desse filme, que deveria servir de modelo para as próximas produções cinematográficas dos franquistas [2].

         Como consequência, o enredo da película apresenta:
         Um panorama da Espanha de 1898 a 1939 por meio do destino da família Churruca. O relato, uma transposição biográfica do autor, tem em conta algumas das muitas frustrações de Franco e da pequena burguesia a que pertencia, para o que se constrói uma dupla imagem: o “Caudilho”, ser mítico e intocável, e o oficial de infantaria José Churruca (...) A trama narra como a família Churruca enfrentou a guerra: o esquerdista Pedro queria ser deputado, o oficial José não tardou a se unir aos falangistas, Jaime era sacerdote e Isabel casara-se com o oficial Luís Echevarría. Enquanto o primeiro e alguns dos demais morrem defendendo suas ideias, o segundo aparece triunfante no “Primeiro Desfile da Vitória”. Sem dúvida, o mérito do filme está em ter sido um compêndio do pensamento franquista [3].


         Franco desejava assim, associar a sua imagem ao daquele mítico caudilho hispânico, para dentre outras questões, fortalecer ainda mais, a sua “áurea sagrada”, se utilizando para tal, do Cinema para massificar seus intentos. A Película "Raza" se apresenta assim como um caso único, sendo considerado até hoje, a única vez em que um estadista interferira diretamente nos meandros de produção de uma película.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe




[1] PEREIRA, W. P. Cinema e propaganda política no fascismo, nazismo, salazarismo e franquismo.  História: Questões & Debates. n.38. Curitiba: UFPR.
2003, p, 101 – 131, p.128.
[2] Idem.
[3] Idem, p.127 – 128.

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