Sabe um daqueles filmes que assistimos, procurando uma imparcialidade no olhar, ainda que utópica, mas ao final, nos deparamos justamente com o seu inverso?!Pois é, o filme "A Vida é bela", talvez para mim, seja o exemplo mais perfeito deste tipo de situação. Não há como fugir, não há como negar. É simplesmente isso.
O resultado é Admiração e Emoção Pura.
É tambem o tipo de filme ou arte, que você procura a mais bela, merecedora, e impactante palavra que encaixe perfeitamente na dimensão do filme, mas você não encontra de forma alguma. Talvez não precise encontrar, e justamente é neste desencontro, onde se encontra toda a magnitude do filme.
Desta forma, até que me provem o contrario, é impossível assistir " A Vida é bela", sendo imparcial, e muito menos sem se emocionar com algumas de suas cenas, ou com a totalidade da obra.O mais frio dos seres humanos poderá negar, dissimular, mas sabe ele que o filme o tocou de alguma forma.
Nesta insensata procura por uma definição do filme, eu só consigo enxerga-lo de uma abstrata maneira: Trata-se de um filme absurdo. Aqui se entenda absurdo como o único adjetivo que eu consegui encontrar para algo que se aproxima ao que procuro definir sobre esta arte.Poderia caracterizá-lo como uma Bela Tragicomédia, ou um filme que é a propria pura arte em seu refino maior, como com certeza Ingmar Bergman deve ter se arrepiado ao ter assistido esse filme.Mas só encontrei esta definição: Um absurdo.
Um Absurdo de genialidade. Um filme que de tão simples, é absurdamente fantástico e tocante.Não há nada de fantastico no enredo do filme. A Situação já é conhecida por nós: O Holocausto.
Mas é justamente a simplicidade tomada por Benigni na criação do filme, sim haja vista que ele além de compor o personagem principal é tambem o diretor do filme, que torna esta obra tão particular e que com certeza entra no hall de filmes inesquecíveis e que perdurará por toda a eternidade.
O que eu estou escrevendo não é nenhuma novidade. Tambem não sou o primeiro nem o último a utilizar alguns minutos de sua breve vida para admirar e qualificar esta película.
Diga-se de passagem, que versar duas ou três palavras sobre esta obra, é de uma dificuldade enorme, haja vista que não há condições de dotar em meras palavras, toda a carga fantástica que o filme nos traz.e produz .
Ainda assim, quero tecer algumas pequenas considerações, que se aproximam mais de elogios e homenagens do que de comentários alusivos a obra.
Em Primeiro lugar, cabe destacar a perfeita atuação de duas personagens do filme.
Guido e Giosué
Primeiramente, a atuação do fantástico Roberto Benigni. Pouco conhecido até o ano de lançamento do filme, 1997, Benigni já era um aclamado ator de cinema e de teatro italiano, de onde por sinal, ele retirou todos os ensinamentos e sua base de "Arte total" na hora de atuar.
É fantástico, talvez um Chaplin italiano, ou um ator que Bergman teria todo o prazer de dirigir, como sendo um ator total, versatil, profundamente artistico.
Sem correr o risco de esta minha afirmação ser totalmente infundada, assistam ao filme e comprovem tudo o que estou retratando.
Desde o lançamento e o sucesso do filme, que ganhou inumeros premios, inclusive o Oscar de melhor filme Estrangeiro, já se passaram treze anos, tornando-o praticamente um filme cultuado no cenário do cinema, como uma das manifestações artisticas mais perfeitas que a telinha já viu.
Quem assiste ao filme, tem a sensação de estar dentro da história, sofrendo,impaciente, e ansiosamente no decorrer da história , torcendo pelo sucesso de Guido e sua familia. Sente-se como dentro de um fillme chapliano, de uma comédia de uma vida repleta de dramas, mas de onde se busca até onde se pode alcançar, um mero sorriso, puro e repleto de amor.
Outra atuação magnífica é a da criança Giorgio Cantarini. Sua personagem Giosué é fabuloso. Quem não sorriu ou se emocionou com as perguntas e as inquietações desta inocente criança com certeza está mentindo ( ou tem uma grande afta na alma kkk..)
Certamente esta atuação, pode ser tida como uma das maiores encenações juvenis da história do Cinema desde suas origens. Poucas são as obras que conseguem trazer a atuação de uma criança, e diga-se de passagem que nesta obra é uma criança ainda bem pequena atuando em uma obra dificil, que tenha tido tanta perfeição.
Ainda que outras crianças tenham tido ótimas atuações, talvez eu não me recorde de nenhuma atuação tão fantástica como esta. Talvez eu também não tenha tanta bagagem par a afirmar tais coisas.
Mas enfim, é esta atuação tão fantástica porque, como no geral do filme, de tão simples, o garoto nos traz uma leveza de atuação, que recria uma emoção pura e original que comove pela ingenuidade, pelo sonho, e pelo amor que nutria por seu pai e sua mãe.
A Relação de amor entre Pai e filho, das personagens de Benigni e do garoto Cantarini, por sinal, me faz recordar justamente de um filme que com certeza serviu de inspiração para Benigni.
Trata-se justamente do filme “O Garoto” de Charlie Chaplin, do ano de 1921, que possui uma carga dramática parecidíssima .
No filme, temos um garoto órfão abandonado que é recolhido por Carlitos, um vagabundo, que fará de tudo para sustentá-lo, ainda que se utilizando de artimanhas para isso. É a prova cabal do amor que Carlitos nutre pela criança. Sem condições, passa por apuros para criar aquele jovem órfão.O Filme é uma bela comédia dramática, que nos faz sorrir e emocionar ao mesmo tempo.
De fato, Chaplin era fabuloso, nos trazendo isto já em 1921. Sua atuação e do jovem ator Jackie Coogan, que é a criança, certamente serviram de modelos para Benigni e para o menino “ Giosué” em “ A Vida é Bela”.
Definitivamente eu não falarei mais nada sobre esta obra. Não vou colocar nenhum spoiler ou resumo, ou até uma resenha mais apurada, pois o resultado final não chegaria aos pés do que o meu pensamento desejaria escrever em linhas. Não que eu tenha uma analise muito boa ou absurda para expor sobre o filme. Mas é justamente porque o filme fala por si só.
Todo mundo já o assistiu. Assistamos de novo. Só temos a ganhar.
Em menos de 120 minutos de filme, nos encontramos diante de um misto de emoções tanto dentro da telinha como no que é produzido dentro de nós.
Guido é a pureza em pessoa. Nos traz uma ingenuidade e amor tão sutis e fascinantes que o filme nos prende de forma impactante até seu fim. Um reflexo do filme talvez seja a nossa alegria ou surpresa diante das ações de Guido.
Suas enrascadas, grande parte fruto de sua ingenuidade ou de seu jeito desastrado, com o tempo tornam-se frutos de seu amor diante de sua esposa e de seu filho. Quem procura enxergar o filme, sabe como vês ou outra, todos nós nos pegamos fazendo alguma extripulia em pró de alguém que gostamos. Guido é essa atitude durante o filme todo.
Sua graça nos comove, e seu sofrimento mais ainda.Este sofrimento de Guido só termina quando tem de fazer sorrir a quem mais ama: Seu filho Giosué, e sua esposa Dora.
Alguém realmente ainda acha que Guido realmente morreu ?
A imagem alegre e pura de Guido é tão forte, que ainda que saibamos que possa ter morrido ( e realmente morreu, mas eu me recuso a aceitar e/ou acreditar), só conseguimos recordá-lo a partir dos seus valores transmitidos com o filme.
Sua fábula é uma lição para a humanidade. Uma revisão não só do que tem sido os valores humanos, mas uma necessidade que deve ser inerente a todos nós. Afinal, nesta selvageria do dia a dia, quem se doaria tão completamente ao seu proximo, ainda que filho, como Guido fez?
Só para finalizar, o filme também é genial na medida em que trabalha com fatos históricos com uma sutileza que emociona sem necessariamente ter que voltar a imagens mais fortes, como massacres, tiros, closes nas mortes com um foco mais detalhado. Tudo na obra é subetendido.
Fato é que tudo isso existiu, mas o filme prefere abordar por um lado mais sensível, que por sinal, lhe trouxe muitas criticas por alguns considerarem que o filme suaviza demais o Holocausto. De certo, estes, não entenderam de forma alguma a mensagem principal do filme.
Para tocar, o filme não precisa necessariamente apelar a visualização de um tiro na cabeça de Guido. Todos sabemos que ele morreu naquele instante ( ou torcemos que não tenha morrido) , e talvez, penso eu, que você se emocionou, sem necessariamente ver a cena. Caso tivesse visto, talvez tivesse hoje repulsa ao filme pela crueldade em mostrar a destruição de nossa personagem.
A emoção é maior ainda quando Giosué, que narra a história, encontra a sua mãe Dora ao fim da guerra, pronto para voltar para casa de tanque. Seu sonho maior.
Enfim, é isso o que eu tenho a dizer.
Não é uma resenha, não é um texto que faça algum sentido.
Talvez uma justa homenagem a um belíssimo filme que eu tenha mais uma vez assistido.
Há todos que reservaram valiosos minutos de sua vida para ler estes comentários, espero que não tenha sido perda de tempo.
Espero realmente ter sido de alguma valia.
E não se esqueçam: Ainda que nos encontremos diante de muitas dificuldades no dia a dia, a Vida ainda é Bela.
Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História, 5ª Périodo, Ufs.