Alfred
Hithcock(1899-1980) foi certamente um dos maiores cineastas de todos os tempos.
Suas películas de suspense, thriller, drama, etc, fizeram deste cineasta
britânico, um exemplo a ser seguido no que tange a perfeição cinematográfica.
Aliás, perfeição é uma palavra que remete realmente diretamente a sua figura,
pois, Hithcock era, no uso de um termo chulo, aquele cineasta “chato”, disposto
sempre a somente terminar o dia de filmagens, quando tudo havia corrido como
imaginado em sua mente perfeccionista.
No
afã desse seu perfeccionismo, tem quem defenda, hoje em dia, que o cineasta
tenha sido bastante “carrasco” no trato dos artistas, principalmente, em relação
as atrizes. Conta-se que, quando indagado em relação a esse aspecto, Hithcock
teria justificado que “era preciso torturar as mulheres” para se conseguir a
produção de uma boa trama.
Hoje
em dia, uma série de estudiosos e biógrafos do cineasta tem discutido a
veracidade desse suposto tratamento obsessivo e até perverso de Hithcock em
relação as suas “louras”, as protagonistas de boa parte de suas películas.
Alguns tem defendido veementemente esse “modus operandi” de Hithcock, e outros
tem matizado tal questão, postulando que se criou um mito cinematográfico
exagerado em torno disso.
Nunca
saberemos ao certo, mas o fato inegável é que Hithcock nutria uma espécie de
predileção (obsessão?) por atrizes louras, sempre escolhidas como as
protagonistas ideais para os seus mais diversos filmes. Durante os anos
1950-1960, e nos demais também, poderiamos listar uma série de grandes atrizes
nesse rol; Ingrid Bergman, uma das maiores atrizes da história do Cinema, foi a
preferida de Hithcock durante os anos 1940. Como protagonista, Ingrid
participou das películas “Interlúdio” (1946), “Sob o Signo de Capricórnio”
(1949) e “Quando fala o coração” (1949).
Gracy Kelly, a futura Princesa de Mônaco, foi
a preferida de Hithcock nos anos 1950. Trabalhou com ele em “Disque M para
Matar”(1954), Janela Indiscreta(1954) e Ladrão de Casaca(1955), até que, para
grande desgosto de Hithcock, a atriz abandona o Cinema para se casar com Rainier
III, o príncipe de Mônaco.
Gracy Kelly e Hithcock |
Kim
Novak, que participou da película “Um corpo que cai” (1958) teria sido uma das “louras”
que mais sofreram nas mãos do machismo de Hithcock. Nas gravações da película,
Hithcock supostamente não abria espaços para a conversa com a atriz, outorgando
sua vestimenta, a repetição cansativa de inúmeros takes,e etc. Outra loura
imortalizada por uma participação em película de Hithcock foi Tippi Hedren, que
ao protagonizar o clássico “Os Passaros” (1963) também teria sido vitima dos “excentrismos”
do cineasta. Conta-se que, o cineasta, para que a atriz pudesse “assimilar” o
horror e o sentido do filme, teria trancado-a em um quarto com uma grande
quantidade de pássaros, sem espaço algum para a fuga. E por fim, outra das
louras hithcockianas foi Janet Leigh, a qual protagonizou a clássica cena do
chuveiro em “Psicose”(1960).
Tippi Hedren, a "loura" dos pássaros de Hithcock |
Os
estudiosos de Cinema e os biógrafos de Hithcock tem ainda divergido acerca da
realidade dessa questão. Algumas dessas atrizes citadas, como a própria Kim
Novak, ainda viva, tem confirmado esse “lado” de Hithcock. Ao que parece, o “mestre
do suspense”, caso tal questão tenha sido mesmo verdadeira, agia com um forte
machismo, e alguns biógrafos, tem apontado que tal postura seria fruto de uma espécie de amor e ódio que o cineasta nutria por suas protagonistas, resultado
da impossibilidade de, no plano prático, possuí-las.
Hithcock
era casado com Alma Reville, com a qual permaneceu durante toda a sua vida,
tendo sido esta uma figura importantíssima durante toda a sua carreira
cinematográfica. Recentemente a película “Hithcock”(2012), na qual Anthony Hopkins e Hellen Mirren interpretam ao casal, o cineasta
Sasha Gervasi discute sobre essa suposta natureza machista de Hithcock em
relação as suas louras, dentre outras questões.
Tal
polêmica ainda se encontra em aberto, e dificilmente se chegará a um consenso,
se há uma verdade crua e indesejável do mestre do suspense, ou um mito
cinematográfico por demais reproduzido.
Att.
Rafael Prata
Mestrando
em História pela Universidade Federal de Sergipe