Quando
o jovem cineasta George Romero – que tinha 28 anos à época da produção do filme
- iniciou o projeto de produção de “A Noite dos Mortos Vivos” pretendia que sua
película fosse mais do que um mero filme de terror sobre zumbis comedores de
carne humana.
Pretendia
impactar de todas as formas, desde o caractere artístico até o conteúdo moral
do filme. E conseguiu. O Filme, além de revolucionar o gênero do terror, sendo
um dos primeiros a demonstrar com crueza, uma violência atípica para os filmes
do gênero a época – o terror até aquele momento era velado, sugestivo, um
suspense na verdade – com cenas de sanguinolência, fartura de carne humana em
decomposição servindo como alimento para os mortos viventes.
Enfim,
só por esta questão, a película inovou. Dentro do gênero “terror”, George
Romero trouxe o sangue, a carnificina, se tornando então o molde não somente
para os filmes de “zumbi” que se tornariam febre dali em diante, mas como
também a qualquer outro filme de terror.
Entretanto,
a qualidade da obra vai muito além desse quesito “artístico”. A Película, como
tem sido apontada pela critica cinematográfica especializada, inova ao se
apresentar como de grande teor subversivo no que tange a montagem de seu
enredo, a apresentação dos caminhos de sua história.
E
isso se torna verdadeiramente evidente quando assistimos ao filme. Ao narrar à
história de uma moça que vai a um cemitério, e não mais que de repente, se vê
seguida por mortos que andam, tendo que acorrer a uma casa abandonada, o filme
coloca então como personagens principais da película, além da moça citada, um
jovem negro que aparece para socorrê-la.
Dentre
as inúmeras “subversões” que o filme apresenta, é esta que pretendo destacar
nessa postagem: o protagonismo do personagem Ben, interpretado por Duane Jones.
O
Negro que irrompe para socorrer a jovem Barbara pode ser entendido como um símbolo
da luta racial nos anos 1960, e essa questão perpassa subliminarmente todo o
filme, pois é a incapacidade de união entre as “duas raças” – brancos e negros –
a grande problemática do filme, que explica por sinal, o final apocalíptico e
desastroso do mesmo.
Os
mortos do filme são bastante lentos. E são pouco numerosos. O que explicaria a
dificuldade encontrada pelos vivos na hora da fuga?! Justamente essa
incapacidade de aliança.
O
Filme se desenrola dentro de uma casa no campo, na qual, além da jovem Barbara
e do personagem Ben, estão presentes uma família composta por um homem branco
racista, sua esposa e sua filha “adoentada” que foi mordida por um dos mortos.
É
nesse tom que o filme se desenrola: mortos lentos cercando a casa, sem
apresentar um risco tão aparente. Pessoas discutindo dentro da casa, sem
conseguir em momento algum, por em prática um pingo de aliança que bastaria
para que aqueles saíssem sãos e salvos daquele recinto.
E isso
se dá por conta justamente do racismo que perpassa as ações do homem branco
racista, que impede que o grupo se fortaleça e consiga sair daquela situação. A
resposta ao seu racismo é apresentada pelo próprio filme como uma resposta
nefasta a esse seu “caractere” de caráter: é morto ao ser atacado por sua filha
“adoentada”, quando procura se trancar em um porão com sua família.
Quando
ao negro Ben e a jovem Barbara, são estes os únicos que conseguem sobreviver.
Mas é aqui que reside o ponto mais acachapante da película, a critica mais
forte efetuada por Romero; o personagem Ben é “confundido” com um zumbi por um
membro de um esquadrão de extermínio de zumbis, sendo morto após praticamente
toda uma saga por sobrevivência.
É
uma morte fria, crua, um tiro certeiro na testa. Romero deixa em aberto à
questão: houve realmente uma confusão ou a morte foi efetuada por puro
racismo?! Enfim, perguntas a se refletir.
Ao
fim, George Romero procura novamente demonstrar como o racismo é um mal a ser
combatido, que dentre outras coisas, impede a boa convivência e a capacidade de
associação entre as pessoas, ao demonstrar como aqueles zumbis – lentos e
fracos – foram facilmente dominados por esse pequeno grupo de extermínio.
Muito
além do que um simples filmes de terror, a pelicula soube assim trabalhar uma característica
bastante corriqueira não só da realidade norte – americana dos anos 1960, mas
como também dos dias atuais, que é o racismo. Romero tem o mérito assim de
conseguir impactar a sociedade norte – americana através de um gênero pouco
cultuado a época, que era o terror.
Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal
de Sergipe