George Romero é talvez o
maior cineasta do gênero terror de todos os tempos. Entretanto, é pouco
reverenciado. Em uma outra postagem, demonstrei como este ousado diretor,
através da película “A Noite dos mortos
vivos” (1968), demonstrou e combateu a segregação racial que era uma tônica
constante na sociedade norte – americana. Uma crítica forte e substancial em um
filme de terror, gênero que, na maioria dos casos, é costumeiramente desprovido
de qualquer consciência social.
Passados dez anos da produção
de seu primeiro filme, George Romero retorna com mais uma película em torno dos
famigerados “mortos vivos”. Desta vez, a película que se chamaria “O Despertar dos Mortos”, de forma velada,
entre muitas questões, faria uma sutil critica ao exagero, ao consumismo
exacerbado de nossa sociedade.
A película que se passa em um
shooping tem então um argumento claro e incisivo: de imediato, os seres humanos
que conseguem sobreviver, se refugiam em um shooping, algo que parece remontar
a um lar, um local onde, mais que qualquer outro, se sentem naturalmente bem.
De outro modo, naquele local fechado, conseguem, a despeito de todo o caos
social externo, manter toda uma vida centrada no consumo de produtos
industrializados e etc, aspectos que a todo momento são reproduzidos no filme.
No entanto, a critica de
Romero talvez seja mais decisiva em alguns pontos; em dias de black Friday, ou de liquidição em massa,
os zumbis seriamos nós. Nossa atitude consumista se assemelharia a conduta
daqueles que, sedentos, correm atrás de seu alimento por puro instinto. No
nosso caso, o instinto é o consumismo.
Quando os zumbis caminham sem
rumo, subindo e descendo escadas rolantes, caminhando entre lojas, se
esbarrando nos manequins, o paralelo que se traça é a própria situação do homem
moderno, confinado no cada vez mais imediato consumismo predador. Será que não
caminhamos sem rumo, sem proposta, como verdadeiros zumbis, muitas vezes no
feitiço do consumismo?
Há uma cena inclusive bastante engraçada nesse
tom: o auto falante do shooping chega a anunciar uma liquidação em uma das
lojas, e curiosamente, por algum instinto fortíssimo mantido, os zumbis caminham,
em sua lentidão habitual, a caminho da loja onde a liquidação estaria
ocorrendo. Chegando lá, os portões estão fechados, e os zumbis “se revoltam”,
se esbarrando e jogando os corpos frente a seus portões. Seria o consumismo nosso
instinto mais indestrutivel?
Enfim, por essas e outras
questões, é que as películas produzidas por George Romero devem sempre ser
vistas como portadoras de alguma crítica social. Seus filmes, do gênero terror,
mais comumente em torno dos mortos vivos, conseguem assim levar a uma reflexão
em torno de certos temas bastante atuais em nossa sociedade.
Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela
Universidade Federal de Sergipe