Em 1933, quando o Partido Nazista
assumiu o poder do Estado Alemão, ocorreu em praça pública, diante de toda a
população alemã, um evento de grande teor ideológico chamado “Bücherverbrennung”. Esta longa expressão expressa em sua tradução,
uma prática que de certo é até bastante comum no decorrer da história: a
chamada “queima de livros”.
A
Inquisição, durante o seu apogeu, no limiar da Idade dita “Moderna”, procurava
não somente queimar aqueles considerados desviadores de conduta – os hereges –
mas como também, enxergava nos livros, os símbolos potenciais daqueles desvios;
dai que foi uma prática bastante comum, principalmente na América espanhola, a
queima desses livros.
Em
ambos os casos, é a vontade inata de aniquilar qualquer conteúdo que seja
considerado subversivo as ideias dominantes que se deseja efetuar; Logo, os
livros, obras literárias de todo o gênero, se tornam verdadeiros inimigos do
Estado, da Igreja, ou qual for a Instituição de Controle que se verifique a
época.
É
com esta premissa histórica que o escritor Ray Bradbury escreve em 1953, um dos
maiores clássicos distopicos do século XX: Fahrenheit 451, a temperatura que um
livro se arde e se consome.
A
Obra retrata um futuro não tão distante, em que os livros passam a ser
considerados prejudiciais a vida moderna, pois levariam a pensamentos obscuros
e desviadores de uma conduta pragmática para se viver em sociedade. Nesse
mundo, os bombeiros, cuja profissão exige justamente apagar a manifestação do
fogo, assumem paradoxalmente a função de queima-los em praça pública,
extirpando-os da população, e em todo caso, prendendo as pessoas que possuem
livros escondidos em suas casas.
Essa
grande obra literária, foi então transpassada as telas do Cinema no ano de
1966, pelo cineasta francês François Truffaut, de forma excepcional. Na
película, assim como no livro, somos levados à ruptura na vida do bombeiro Guy
Montag, que passa a se questionar sobre a ordem vigente, sobre a sua profissão,
a essência da mesma. Questionando-se sobre isso e outras questões, Guy percebe
a inversão dos valores contemporâneos; As pessoas, como a sua própria esposa,
satisfazem-se apenas com coisas fúteis, em destaque, uma alienação promovida
pela mídia, através dos subterfúgios oferecidos pelos grandes conglomerados
televisivos, através de reality shows e etc.
O
Vazio é tão frequente nessa sociedade, que a personagem Mildred Montag, esposa
da personagem principal Guy Montag, procura esconder seus medos, só conseguindo
dormir através da ingestão de pílulas em grande quantidade, fato que em
determinado dia quase a leva ao suicídio. O Curioso é que nesta ocasião, existe
um órgão do Estado destinado a remediar tal função: restabelecer a vida física
destas pessoas, trocando seu sangue. A esposa de Guy é salva de maneira tão fria,
tão burocrática e usual, que demonstra como aquela função era necessária em
sociedade, tão comum, era apenas mais uma pessoa a entrar nas estatísticas.
Enfim,
tanto a obra como o filme são de natureza riquíssima, de forma que outras
questões poderiam ser aqui citadas, mas para evitar o “maldito spoiler” assim
não o farei.
Essa postagem vale
apenas como uma indicação, uma sugestão para aqueles que se interessem, entre
outras tantas coisas que ambos discutem, a refletir sobre o esvaziamento da
sociedade contemporânea, e sobretudo o modo como os livros nunca deixarão de ser os verdadeiros recantos da inteligência humana, ainda que vez ou outra, são elevadas ao status de “inimigo outro” das instituições que dominam as esferas do poder em
nosso tempo.
Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe.