sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Quando o seu maior fã é Adolf Hitler: Fritz Lang e a sua fuga da Alemanha Nazista


       Década de 1920. O movimento expressionista chegava ao seu auge artístico com, dentre outros tantos, aquele que seria um de seus maiores expoentes no campo cinematográfico: o cineasta austríaco Fritz Lang.
        Grande cineasta que era, Fritz Lang conseguia captar as agruras e as incertezas de seu tempo, transpondo-as para a ambientação sombria e reflexiva típica da composição expressionista. Foi desta maneira, por exemplo, que se tornou conhecido com sua pelicula “Dr. Mabuse” (1922) na qual procura refletir sobre os riscos do condicionamento psicológico de massa, entre outras questões.

        Entretanto, seu maior sucesso viria cinco anos depois. Sua grande obra prima: Metropolis (1927). Até hoje considerado um dos maiores filmes de todos os tempos seja qual for o quesito de análise, essa pelicula sem sombra de duvidas foi a que projetou Fritz Lang inclusive aos olhos do Estado, o qual, ao enxergar o talento daquele, procurou coopta-lo.
        Nesse sentido, é que se costuma mencionar que, seu compatriota, o ditador de origem austríaca Adolf Hitler, mas radicado na Alemanha, ao assistir a pelicula teria saído da sala de Cinema bufando maravilhas. De fato, Hitler, assim como qualquer pessoa, ficou maravilhado com esta que é uma das películas mais bonitas e fascinantes da historia da sétima arte, de teor verdadeiramente atemporal.

        Percebendo como aquele grande cineasta poderia ser útil para o sistema propagandístico do Estado, Hitler então convida Fritz Lang e sua esposa, Thea von Harbou (a roteirista do filme) para servirem ao Estado. O Ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, reitera então o desejo expresso de contar com eles para dar prosseguimento às películas produzidas anualmente a serviço da legitimação do mesmo.
        Lang, que além de ser judeu, percebia lentamente a verdadeira essência do Estado em questão, não aceita o convite, optando por fugir da Alemanha em direção a Paris, por meio de uma arriscada empreitada. Sua esposa Thea von Harbou, entretanto, que se mostrara afeita aos preceitos do Nazismo, ficou por ali servindo ao Estado alemão.

        Isso tudo se deu as vésperas da subida do Partido Nazista ao Poder em 1933. Lang que recentemente havia produzido a pelicula “M – O Vampiro de Dusseldorf”, na qual faz por meio de metáforas, uma serie de criticas ao partido, foge então da Alemanha, tendo sido esse filme proibido pelos nazistas quando da tomada do poder em 1933.
        Em Paris, passa a produzir filmes com orientação antinazista, quando também em 1934, emigra para os Estados Unidos onde irá produzir mais ainda, filmes com essa vertente, como o clássico “Os Carrascos também morrem” do ano de 1943. Com a derrocada do Nazismo aos fins de 1945, Fritz Lang foi lentamente pensando seu retorno à Alemanha, fato que se concretizou aos finais dos anos 1950, quando o cineasta retorna a Berlin, de onde havia saído fugido quase vinte anos antes.

         
      Lang falece em Los Angeles em 1976. Quanto a sua esposa Thea von Harbou, ao final da guerra, foi detida pelos britânicos, quando foi obrigada a limpar os entulhos de guerra. Pouco depois foi solta pelas autoridades.
      O Cineasta, além de deixar um grande legado de belíssimas obras, nos ajuda também a demonstrar como a resistência e a luta contra um sistema opressor que se é contrario é possível, não corroborando assim com qualquer tipo de posicionamento cumplice perante a estas questões.



Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Meia Noite em Paris (2011): um filme sobre o tempo, a nostalgia... e sobre a História!


             Poucos cineastas conseguem se apropriar do Passado de uma forma tão inteligente e poética como Woody Allen. Não é de agora que este aclamadíssimo cineasta se apropria de fatos, eventos e personagens de nosso passado para dar corpo as suas películas. Em “Zelig” (1983), o cineasta “brinca” com fatos do passado ao contar a historia de um descontrolado e sem identidade homem de nome homônimo ao titulo do filme, que se vê passando por inúmeros eventos de nossa história, influenciando a tudo e a todos.
            O Efeito de realidade que insere Zelig nos mais inimagináveis eventos históricos possíveis seria consagrado praticamente dez anos após este filme, com o sucesso de público “Forrest Gump: o contador de histórias” (1994), na qual seu diretor, Robert Zemeckis, se utiliza do mesmo instrumento, para contar a história da sociedade norte – americana pelo ponto de vista da personagem de Gump.

            Mas é com “Meia Noite em Paris” que Woody Allen atinge seu ponto máximo no que tange a esse jogo entre ficção, realidade e história. O grande charme e ponto alto da película é justamente o modo como o romântico cineasta se transpõe, praticamente se metafigura – característica de quase todos os seus filmes – na personagem Gil, interpretado por Owen Wilson, para discutir a chamada “Síndrome da Era do Ouro”, uma faculdade, ou melhor, um defeito comum aos seres humanos seja qual for à época.
            E o principio dessa “síndrome” é a nostalgia por aquilo que não se viveu, mas se queria viver, ou seja, a História que foge das nossas mãos. O Cineasta procura assim discutir a limitação humana em se satisfazer com seu presente em curso, refletindo justamente sobre como os seres humanos, seja qual for à época, será, como diria aquele outro, “um eterno insatisfeito”.
            Nas palavras do próprio Allen em forma de Gil (Owen Wilson): O presente é isso mesmo. É insatisfatório. Porque a vida é insatisfatória.
         Aliás, a interpretação do fenômeno também é dada por um curioso personagem do filme, um pseudo-intelectual.  Este afirma que: Nostalgia é negação. Negação do presente penoso (...) a noção de que uma outra época é melhor que aquela em que vivemos é uma falha na imaginação romântica daqueles que têm dificuldade em lidar com o presente.
            É partindo desta questão que o cineasta vai procurar demonstrar que o ser humano não conseguirá encontrar a felicidade nem quando atingir sua utopia, sua era de ouro. A inconstância, a desilusão, e a incapacidade de ser feliz por completo, por ser uma capacidade de todos os seres humanos, acabar por impedir a concretude de uma felicidade plena, coletiva. 
            Isso é tão fato para Woody Allen que, quando a personagem Gil magicamente retorna a Paris dos anos 1920, sua era de ouro, local onde habitam pessoas como S.Fritzgerald, Hemingway, Picasso e outros, não consegue concretizar o seu amor pela jovem cortesã pela qual se apaixona, pois esta irrompe para aquilo que é a sua era de ouro, a Paris oitocentista, ou seja, a Paris antes de chegar ao século XX.
            Não há, portanto uma era de ouro. Existem várias eras, individuais; cada um por tentar corresponder, pelo artificio do sonho e da fantasia, os anseios do vazio humano.
            Enquanto que Gil está plenamente feliz naquela Paris sonhada dos anos 1920, a jovem Adriana, nascida naquele momento, só deseja retornar a Paris de 1890 para ali ser feliz. Desencontram-se, portanto.
            Ao fim de tudo, a mensagem que Allen quer nos passar é que o ser humano deve tentar ser feliz da melhor forma possível onde ele sempre vai estar: no seu presente em curso, com suas limitações.
            O ser humano, avido pela nostalgia do que passou e foi bom, e até do que não passou, mas que acredita ter sido bom, vai sempre se segurar no Passado, nos eventos apresentados pela História, para buscar um refugio, a imagem de um tempo perfeito que não volta mais, para se sentir mais infeliz ou limitado em sua contemporaneidade.
Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe
           
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