Em tempos em que se tem discutido o racismo na
sociedade brasileira, e também em todo o mundo, e sua “manifestação” dentro dos
campos de futebol, quando uma série de jogadores tem sido alvo de horrendas
manifestações racistas, como a ocorrida recentemente com o jogador Aranha,
goleiro do Santos, por parte de uma torcedora gremista, convém destacar aquele
que deve ter sobremaneira enfrentado com toda força, o peso de uma sociedade
altamente racista: Francisco Carregal, o primeiro jogador negro do Brasil.
O Futebol, aos príncipios do século XX, era visto como
“esporte de branco”, de uma elite aristocrática que passara a praticar o
esporte importado por Charles Miller de terras britânicas. Assim, boa parte dos
clubes amadores que passam a se formar, são compostos basicamente por homens
brancos, filhos de uma elite, sendo praticamente vedada a participação de
negros na composição dos times.
No entanto, consta-se que em 14 de maio de 1905, esse
“tabu” foi quebrado, ao menos em uma partida. Foi quando o Fluminense, clube paradigmático da aristocracia carioca da época, enfrentou ao Bangu no jardim da
Fábrica Bangu, tendo o primeiro vencido a partida por 5 a 3.
Francisco Carregal com a posse da bola |
No meio dos jogadores do Bangu, estava o operário negro
Francisco Carregal, atuando entre os brancos jogadores de ambos os times. O
tecelão da Fábrica Bangu, se tornou, portanto, o primeiro jogador negro de
nosso país.
Curiosamente, o Fluminense, o time adversário que
protagonizou tal “quebra do tabu”, ficaria famoso posteriormente também por um
caso envolvendo a um jogador negro, tendo inclusive obtido um certo apelido por
conta do episódio. Tudo aconteceu em 1915, dez anos depois, quando o clube
aristocrata aceitou em seu escrete a adesão de um jogador negro de nome Carlos
Alberto. O jogador, em sua estreia, procurando “disfarçar” sua cor, por medo do
preconceito, acabou se utilizando do artificio do “pó de arroz”, mas no
decorrer do jogo, diante do suor, tudo se desmanchou, de modo que, a torcida
adversária de imediato começou a gritar “pó de arroz”, expressão que de
imediato viraria apelido da equipe.
Outro clube carioca, no entanto, ficaria famoso por
conta de sua luta contra o preconceito: o Vasco da Gama. O Time da Colina foi o
primeiro clube a se revoltar contra o preconceito existente no seio futebolístico, quando no ano de 1924, o Vasco, formado por uma grande
quantidade de jogadores negros, foi alvo de uma tentativa de afastamento do campeonato
carioca por ação dos demais clubes cariocas. Como reação, a equipe cruzmaltina
publicou um manifesto direcionado a associação de atletas, apresentando seu
repudio tanto ao preconceito quanto as tentativas de afastamento.
Os "desclassificados" seriam justamente os jogadores negros do elenco vascaino |
Do começo do século XX para cá, a situação obviamente
que mudou muito. No entanto, o racismo ainda é, infelizmente, uma parte
presente da sociedade, não somente a brasileira, como também de outras nações
do mundo. Uma chaga que se recusa a deixar de existir. No fundo, o Futebol se
apresenta como mais um espelho da sociedade, que reflete todas as suas mazelas,
seus preconceitos. Sonhemos com o dia em que não veremos mais essa triste série
de acontecimentos envolvendo atletas, desde o aqueles ocorridos em nosso país –
Aranha, Grafite, etc -, como também os ocorridos em solo europeu – Daniel Alves,
Roberto Carlos, etc - , e que isso aconteça no âmbito geral de todas as sociedades,
em outras palavras, lutemos para que o esperado dia em que o preconceito será extinguido,
se torne cada vez mais próximo!
Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe