Assim como os filmes, os quadrinhos, e as
demais produções de natureza artísticas, acabam por revelar, consciente e/ou
inconscientemente, questões cruciais de natureza política, econômica e social
de sua época de produção. Nesse sentido, ainda que seus criadores muitas vezes
não notem essa “influência” do contexto no resultado da obra, ela aparece, as
vezes de maneira um pouco confusa, as vezes bastante clara.
Acredito que o caso das histórias em quadrinhos
dos X-men, podem até ser
caracterizados no segundo caso em questão. Sim, por mais que a alusão a
questões de sua época de produção, a série começou a ser produzida em 1963,
muitas vezes apareçam subliminarmente, algumas outras parecem emergir como
metáforas bem observáveis e claras.
É o caso da suposta e polêmica analogia entre
as duas principais personagens da saga, e duas importantíssimas figuras
históricas americanas. Em outras palavras, muitos estudiosos tem defendido que
as personagens Prof.Xavier e Magneto seriam claras alusões as lideranças Martin
Luther King e Malcom X.
Desenho que faz alusão a suposta analogia entre as personagens. |
Os quadrinhos e até os filmes mais recentes na
qual a “complementaridade” e ao mesmo tempo as “divergências” das personagens
são expostas ajudariam na demonstração dessas alusões. Ambos as personagens são
“mutantes” que a seu modo, lutam pela inserção e aceitação dos “mutantes” em
sociedade: o primeiro a base da construção do respeito, da desconstrução do
preconceito, e o segundo pela via mais brusca, a violência.
Tal construção das personagens denotaria
claramente a atuação dessas lideranças no decorrer dos anos 1960, momento que,
como dito, foram iniciados os quadrinhos dessa saga. Martin Luther King Jr,
pastor de formação, liderou o movimento dos direitos civis para os negros nos
Estados Unidos, durante todo os anos 1960, até ser assassinado em 1968. Em sua
defesa, o ideal do “I Have a dream”: ou seja, a defesa de um mundo em que todas
as pessoas pudessem viver pacificamente, sem qualquer discriminação. Seu
artificio era a oratória, a paz.
Professor Xavier e Magneto: entre algumas concordâncias e várias discordâncias |
Malcom X foi contemporâneo a Luther King, mas
apesar de basicamente defenderem o mesmo ponto, divergiam em alguns aspectos
cruciais: Malcom X defendia um fortalecimento da causa negra nos EUA por meio
da força, haja vista que acreditava que o caminho da conversa não estava
resultando em nada. Acabou sendo assassinado também, três anos antes de Luther
King, em 1965.
Enfim, muitos críticos dos quadrinhos tem
sustentado essa questão, mas também tem observado que tais personagens não
podem ser reduzidas a apenas uma simbologia de luta. Em outras palavras, tanto
nos quadrinhos como nos filmes, as personagens em questão acabam por
representar outros grupos que historicamente tem sofrido com preconceitos,
discriminações, e etc.
O próprio caso de Magneto é singular nesse
sentido. Tal personagem é uma sobrevivente dos horrores do Holocausto. Sua
personagem também simboliza a luta dos judeus que passaram pelo terror do
nazismo e tiveram que sobreviver a posteriore na lembrança do terror sofrido e muitas vezes do preconceito
que continuou a existir.
Tal como os filmes, repito, as histórias em quadrinhos, são importantes meios para analisarmos o contexto histórico em
questão. No caso de X-men, ainda que eu não tenha conhecimento tão profundo
para analisá-los, pelo pouco que sei, muitas tematicas dos anos 1960 são partes
fundamentais em suas histórias: o contexto da Guerra fria nos anos 1960 e sua
corrida armamentista, o medo em relação aos mutantes como possíveis “outros”,
ou seja, “comunistas”, muito bem
demonstrando na película “X-men: the first class” (2011), dentre várias
questões.
Ass. Rafael Prata
Mestrando em História pela Universidade Federal
de Sergipe