Com certeza, nenhum outro
grupo de comédia fez tanto sucesso no Brasil quanto aquele denominado “Os
Trapalhões”. O Grupo formado pelos comediantes Renato Aragão (Didi), Dedé
Santana (Dedé), Antônio Carlos Gomes (Mussum) e Mauro Gonçalves (Zacarias)
marcaram o cenário cinematográfico e televisivo brasileiro num período que vai
do final da década de 1960, quando o primeiro filme – “Na onda do iê-iê” (1965)
- é produzido(contando no momento apenas com Didi e Dedé), até os primeiros
anos da década de 1990, quando o último filme do grupo foi produzido, a
película “Os Trapalhões e a Árvore da Juventude”, de 1991.
De cima para baixo, da esquerda para a direita: Dedé, Mussum, Didi e Zacarias |
No total, foram 23 filmes produzidos
entre 1978 e 1991, sob a batuta da formação clássica, caracterizada quase
sempre pelo experto Didi Mocó, pelo cérebro do grupo Dedé, pelo alcoólatra Mussum e pelo tímido Zacarias, os quais unidos se metiam sempre em grandes
confusões, contando sempre é claro com um grandíssimo elenco formado por atores
globais.
Nunca as salas de Cinema
conseguiram tanto público como durante as exibições dos filmes dessa trupe.
Aliás, dos dez maiores públicos do Cinema Nacional, sete são originários dos
filmes do grupo, o que demonstra o sucesso comercial do grupo.
No entanto, apesar de se
basearem numa suposta simples comédia do tipo “pastelão”, boa parte dos filmes
produzidos pelo grupo estavam embutidos de um certo teor de crítica social. Não
foram poucos os filmes que estiveram revestidos de algum tipo de crítica
endereçada a segmentos específicos ou questões relevantes da sociedade.
Talvez, o mais relevante desses
filmes foi a película “Os Trapalhões e o Mágico de Oroz”, rodada no ano de
1984, uma “releitura” do clássico livro “O Mágico de Oz”(1900) do escritor
L.Frank Baum. Nesta película, o grupo “adapta” de forma inteligentíssima, o
conto de Baum a realidade nordestina, no intuito justamente de efetuar uma
crítica a realidade social nordestina do momento ( e porque não dizer de todo o
sempre).
Assim, a película conta a
história do humilde sertanejo Didi – uma espécie de Dorothy sertaneja - que,
padecendo de fome diante da seca do sertão nordestino, parte juntamente com
seus companheiros Soró e Tatu em busca de melhores condições de vida,
peregrinando em busca de uma nova vida longe da fome. Nessa sua saga, acaba
encontrando justamente com o “Espantalho” (Zacarias), “O Homem de Lata”(Mussum)
e o Leão(Dedé), todos eles segundo o modelo de sonhos do clássico conto de
Baum: o Espantalho desejando um cérebro, o Homem de Lata ansiando um coração, e
o Leão pedindo por coragem em detrimento de sua típica covardia.
Didí, o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão |
E quanto a Didi, partilhava
de um desejo comum a todos eles: agua. Ao entrarem em contato com a lenda do “Mágico
de Óroz”, partem então para os meandros do sertão, local onde residiria esse
ser lendário que poderia concretizar seus sonhos.
Ao encontrarem o conhecido
Mágico de Óroz, este lhes orienta a encontrarem um suposto “monstro de metal
que jorra água pela boca” que teria o poder então de acabar com a seca do
sertão. No entanto, em meio a sua peregrinação, o grupo acaba entrando em
conflito com o famigerado Coronel Ferreira, um grande latifundiário da região,
que além de seus lucros com a terra, enriquece comercializando a pouca agua dos açudes de Óroz a pobre população local. Mas a trupe consegue derrotá-lo, e logo
então, satisfeito com a perseverança do grupo, o Mágico de Óroz por meio de um
feitiço leva o grupo ao encontro do dito “Monstro de metal que jorra agua pela
boca”. Tal monstro seria curiosamente uma torneira gigante localizada no centro
do Rio de Janeiro.
O "Grande Monstro que jorra agua pela boca" |
Emocionados com a
descoberta, carregam então, com muito trabalho, a gigantesca torneira até os
confins do sertão, para delírio da pobre população total, mas algo ao fim dá
errado. A torneira só funcionava por conta da encanação local, logo, não havendo
encanação por ali, não haverá agua. Como resultado, a população de Óroz se
revolta e condena a morte seus antigos salvadores.
Na hora da morte, o perseverante e cheio de fé Didi não desiste, e logo então passa a motivar seus amigos, repetindo em grande voz, como um verdadeiro mantra:
“Vamos todos pensar firme, vamos todos pensar forte, pra cair um pingo d´agua e mudar a nossa sorte”.
E então o “milagre”
acontece: chove no sertão, o monstro passa a funcionar, e num passe de mágica,
o sertão passa a ter água, e os membros do grupo passam a ter realizados seus
sonhos.
Ao final da película, o
grupo direciona uma mensagem as autoridades do país:
“E choveu. Que a chuva que molhou o sofrido chão do Nordeste não esfrie o ânimo de nossas autoridades na procura de soluções para a seca”.
A Dita mensagem final do filme |
Enfim, trata-se de uma
grandíssima comédia com toques de drama e crítica social. Como nenhum outro
grupo, aqueles sabiam muito bem como trabalhar temáticas sociais de relevo e
consonancia com o seu tempo, sabendo dozar os risos com os lágrimas. Desse filme,
como visto, fica uma simples porém inteligente crítica a negligencia e o
descaso governamental frente a dificil realidade do sertanejo, o dominio de
poder nessas regiões pelos históricos “coronéis”, e por outro lado, são bem
representadas caracteristicas marcantes dos sertanejos, como a perseverança e a
fé, dentre outras questões.
Ass: Rafael Costa Prata
Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe
Rpz... voltei poucos (POUCOS mesmo!!) anos atrás!! Amava os filmes dos trabalhões e revendo hoje você pode enxerga-los como espelhos sociais de uma época.
ResponderExcluir(kkkkkkkkkkkkkkkk) Isso mesmo Isis Garcia... Também era (sou) muito fã dos filmes dos Trapalhões, e esse em especial, tem essa crítica social... Bons tempos! XD!
ResponderExcluirBELÍSSIMO FILME, NINGUÉM NUNCA PERCEBEU A INTELIGÉNCIA GRANDIOSA DO GRUPO, OS BRASILEIROS SÓ REVERENCIAM OS AMERICANOS, COM BRASILEIROS MARAVILHOSOS E INTELIGENTES COMO DIDI E DEDÉ, HOJE AINDA VIVOS.
ResponderExcluirQual cidade foi gravado o filme ? Alguém sabe.
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