terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O Pescador de Ilusões (1992): uma parábola “medieval” sobre queda e redenção

Um dos filmes mais bonitos que já assisti na vida. Foi a conclusão que cheguei ao termino das duas horas   da película. “The Fisher King”, ou, “O Pescador de Ilusões” como foi traduzido por aqui, é daqueles filmes com um enredo aparentemente simples, porém, de uma profundidade psicologica incomensuravel.
Seu título em inglês, “The Fisher King”, já demonstra bem de onde veio a inspiração para o diretor Terry Gilliam: a película é inspirada no conto medieval do “Rei Pescador, parte componente do ciclo arthuriano. Nesse conto, narra-se a história de um rei que, por estar ferido, acaba por não ter condições de guiar seu povo, suas terras, só lhe restando pescar em um rio proximo ao seu castelo. Na narrativa, uma serie de cavaleiros de terras distantes, aparecem para curá-lo, mas só o portador da pureza conseguirá.
É com esse “pano de fundo” que “O Pescador de Ilusões” é desenvolvido. Primeiro filme como cineasta do genial Terry Gilliam, ex-membro do grupo Monty Pithon, a película consegue cumprir o que promete desde o inicio: criar um misto de sorriso e pranto.
O Filme conta a história de um egocentrico e arrogante radialista interpretado por Jeff Bridges que, após não dar muita atenção – e até estimular - a um ouvinte que comunicou um massacre em massa que seria realizado por ele em um Pub, acaba por cair em desgraça após a realização do ocorrido. Jack Lucas, o radialista, acaba então encontrando, após uma noite de muita bebida, um mendigo chamado Perry, interpretado pelo genial Robin Williams, e daí em diante a vida de ambos é mudada.

Com o tempo, Jack Lucas descobre que Parry é um ex – professor de História Medieval que enlouqueceu após uma grande tragedia pessoal. Parry vive em meio a uma fantasia onde parece ver constantemente cavaleiros medievais e outras figuras fantasiosas que só existem em sua mente.
Enfim, é justamente esta relação entre o radialista Jack Lucas e o ex – professor de história medieval Parry que remonta a parabóla do “Rei Pescador”: ambos os personagens são o reflexo da dor, da ferida aberta e ainda não resolvida, mas que, curiosamente, quando unidos passam a se recuperar. Ambos são como o dito “Rei Pescador” a espera da cura que vem de uma terra distante por meio de alguém puro, mas no caso deles, ambos são a própria cura, um para o outro.
É essa a mensagem que “The Fisher King” quer passar. Um filme belíssimo que se utiliza de uma parabóla medieval para, por meio de uma roupagem moderna, repassar uma mensagem que é sempre universal: a necessidade da ajúda após uma queda, o fomento da redenção.

Ass: Rafael Costa Prata

Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

sábado, 28 de dezembro de 2013

O Homem de aço (2013): os paralelos e simbolismos entre o Superman e Jesus Cristo

Antes de tudo, preciso deixar claro que não sou especialista em HQs. Sou bastante leigo, aliás, por isso de antemão, já peço desculpas por qualquer equivoco.. Certa vez li em algum local que no ato de criação do personagem “Superman”, seus criadores, os judeus Joe Schuster e Jerry Siegel, lá no distante ano de 1938, o criaram imbuidos de certo sentido messianico.
O “Superman”, nasce então as vesperas da eclosão da segunda guerra mundial, tendo inclusive, muitas de suas primeiras publicações voltadas ao combate do Nazismo, aparecendo Adolf Hitler como um inimigo do Homem de Aço.
Estudiosos da origem do “Superman” tem dito que, para percebermos o “pano de fundo religioso” do heroi em questão, não precisamos ir muito fundo; uma análise superficial do enredo, da história do superhomem já deixaria quase tudo evidente.
Em linhas gerais, o superhomem é descrito como um sujeito que não é deste planeta, nascido então em um planeta distante chamado Krypton, que ao ser destruido, foi mandado em uma nave por seus pais Jor – el e Lara, para a Terra para sobreviver. Aqui chegando, tem de manter em segredo por durante boa parte de sua vida, tanto sua origem não terraquea, como sua força descomunal.

Kar – el, acaba caindo em um celeiro, onde por lá permanece sua nave – quase que uma manjedoura - de uma familia de humildes agricultores, tendo sido criado então por Jonathan Kent e Martha Kent como um verdadeiro terraqueo de nome Clark Kent. Bom, pode parecer forçado, mas o paralelo aqui com Jesus parece ser evidente: um homem, que não é deste mundo, que possui forças além do comum, é enviado de algum lugar por seus pais biologicos, para ser criado por uma familia adotiva.
Aliás, os próprios nomes dos personagens kriptonianos tem sido apontados por estudiosos como reflexo dessa marca judaica na formação da história: o termo “el” dos nomes dos personagens significaria “Deus” em hebraico, sendo assim, “Jor- El”, pai do superman, seria o próprio, e Kal – el, teria como significado justamente “filho de Deus”. 
 Bom, considerando essas questões, é que acredito que a película “O Homem de Aço”, dirigida por Zack Snider em 2013, reforça e procura mais ainda o encontro com essas questões, aprofundando mais ainda qualquer simbologia religiosa em torno da personagem em questão.
O próprio roteirista do filme, David Goye, afirmou em uma entrevista: 
“O Mito de Moises é outra influência. Superman tem raízes no Novo e também no Velho Testamento. Ele é um personagem messiânico e ao mesmo tempo meio Beowulf, meio Gilgamesh, entre outros heróis clássicos que representam a conciliação entre deuses e nós”.
         Ao assistir então o filme, tudo isso me pareceu bastante claro. Além de todas essas questões, muitas passagens do filme parecem querer direcionar mais ainda esta ligação de Kal – el com Jesus Cristo. No filme, Clark Kent passa toda a sua vida peregrinando por localidades, por empregos variados, fugindo de seu destino. Quando encontra suas origens, já está com 33 anos, a idade em que Jesus Cristo falecera.


Uma outra passagem bem interessante do filme se dá quando Clark vai a Igreja pedir conselhos de um padre, e ao sentar-se na cadeira, sua imagem acaba transpondo a imagem de Jesus em um vitral das paredes da Igreja, numa cena que deixa então uma analogia quase que inevitavel.

Outras questões menores, que para muitos podem parecer forçadas, também aguçam essa questão: a própria simbologia da barba de Clark, querendo ou não, direciona um pouco até a imagem caracteristica de Jesus Cristo. Aliás, em boa parte do filme, O Superman é barbudo, algo inedito nos demais filmes. Numa das principais cenas do filme, quando Clark desaba no mar, parece haver um certo batismo dele, e o modo como ele deixa os braços abertos, torna impossivel não achar parecido com a imagem de Jesus de braços abertos na cruz.

Além de tudo isso, tem todo o pano de fundo psicologico do filme: o ser diferenciado que de forma abnegada vive em função do bem para as pessoas. Assim como Jesus, Kal - El na película se entrega em beneficio da humanidade... A luta contra General Zod, que parece ser uma especie de Lucifer na trama, um ser que se descarregou de sua “amizade” com Jor – El.
Uma outra questão que pode ser citada se refere a Jonathan Kent e Martha Kent. Na Bíblia, ao que parece, quando Jesus inicia a sua vida pública, José, seu pai, bem mais velho que Maria, já está morto. Na película, Jonathan Kent, um agricultor que também lida com carpintaria, acaba falecendo antes da revelação de Klark como superman, ficando somente viva Martha Kent..
Enfim, muitas outras questões poderiam ser citadas nesse sentido. Assim, “O Homem de Aço” pode ser apontado como um filme riquissimo em simbolismos, visiveis e latentes, os quais remontam justamente ao aspecto messianico pensado lá atrás por seus criadores.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Orfeu negro (1959): o único filme “brasileiro” a ganhar um Oscar

O Filme foi baseado na peça teatral “Orfeu da Conceição” de Vinicius de Moraes, o qual junto com Tom Jobim construiu também a trilha sonora da película. O Cenário é uma favela no Rio de Janeiro, habitada por personagens interpretados por atores e atrizes de nosso país.
Ao participar do Oscar no ano de 1960, a película “Orfeu Negro” foi agraciado com o prêmio de “Melhor filme estrangeiro”. Teria o Brasil conseguido ganhar a sua primeira estatueta?
Não, porque a película foi considerada uma produção francesa por parte da acadêmia. Isso porque, além de contar com um diretor francês, o renomado Marcel Camus, foi da França de onde vieram as principais fontes capitais de investimento do filme, como também toda a equipe técnica de gravação.
Em linhas gerais, “Orfeu Negro” conta a história de uma jovem retirante nordestina, que parte para o Rio de Janeiro e acaba morando então numa favela carioca. Lá apaixona-se por Orfeu e acaba tendo com um ele um amor platônico e de fim triste.
O Filme, além de ganhar o Oscar de Melhor filme estrangeiro, também levou a Palma de Ouro em Cannes.  Ainda que não tenha sido creditado o Oscar para o Brasil, o filme “Orfeu Negro” é um clássico produzido em nosso país de uma riqueza indescritivel. As imagens do carnaval carioca no nascer dos anos 1960, o uso da bossa nova, entre outras questões, imortalizou e consagrou a imagem do Rio de Janeiro fora de nosso país.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Roma, Cidade Aberta (1945): o Neorrealismo italiano se inicia com um dos filmes mais importantes da História do Cinema

O Neorrealismo italiano foi um movimento artistico caracterizado por procurar levar as telas, com certa frieza até, a realidade social e econômica do país. Essa estética revolucionou o cinema italiano, e mundial, pois “ensinou” como transpassar as telas, as agruras e dramas do dia a dia da população comum. Isso tudo teve seu palco no pós – segunda guerra mundial.

Isto é, no suspiro final da segunda guerra mundial, pois foi ali, no próprio ano de 1945 que Roberto Rossellini lançou um dos filmes mais “imediatos” e profundos da história do Cinema: "Roma, Cidade Aberta". A Película conta a história da Roma ocupada pelos nazistas durante os anos de 1943 e 1994, e a luta da população comum para combater essa situação.
O Filme demonstra então os manejos efetuados por pessoas comuns, como mães de família, crianças, padres, na luta contra o nazismo e o fascismo que governava ainda a cidade romana. De outra forma, demonstra também, como consequência, a coerção e o massacre desses pelo então sistema, que ia desde os fuzilamentos sumários até as torturas indescritíveis. 

A Morte de Pina, uma mãe e uma esposa, é com certeza o momento mais triste da película, sendo até hoje uma das cenas mais fortes da história do Cinema. Ao saber que seu marido, membro da resistência, é preso, Pina corre pelas ruas em sua direção, até que é metralhada no meio da rua na frente de todos, como uma punição, e uma lição dada pelo regime a população que observava.

Feito no imediato segundo do pós – guerra, a película de certa maneira acaba se apresentando como um “relato de guerra”, um testemunho de algo recente que não deve ser esquecido. O modo realista como Rossellini conduziu o filme, demonstrando o ladro micro da guerra ( a luta das pessoas fora das trincheiras), o tornou um dos filmes mais importantes da história do Cinema, além de se tornar o marco inicial dessa estética em questão.
O Filme foi feito dois meses após a liberação da cidade italiana por um cineasta que havia sido membro inclusive da própria resistência.  Daí em diante o Neorrealismo cresceu ganhando cada vez mais espaço e adeptos no cinema italiano, como os cineastas Vittorio de Sicca e Luchino Visconti que em suas películas também procuravam retratar questões profundas da sociedade italiana.
Roma, Cidade Aberta, é assim, um dos filmes mais importantes da história do Cinema; um marco na fundação da estética neorrealista e um marco corajoso do fim da segunda guerra mundial.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

“O Olhar estrangeiro” (2006): a visão de Hollywood sobre o personagem Brasil

 “Lá eles fazem muita festa”. É o país do futebol e das mulheres com biquínis curtíssimos. Carnaval.  Tem a violência também que é muito grande. Mas ainda assim é um país de pessoas felizes e gentis. Pelé. Carmen Miranda é do Brasil?! Serio?! Vez ou outra o tema da visão do Brasil pelos estrangeiros reaparece, e muitas são as reações.
Tem quem se exalte com os estrangeiros por considerar que aqueles nutram uma visão estereotipada sobre o país, e tem aqueles que, ainda que se exaltem com essa mesma visão, percebem que, ainda que seja um preconceito externo, muito dessa visão também foi construída internamente.

Enfim, foi procurando discutir esta questão em relação ao Cinema que a cineasta Lucia Murat produziu o documentário “O Olhar Estrangeiro” (2006) baseado no livro “O Brasil dos gringos: Imagem e Cinema” escrito pelo Professor de Cinema da Universidade Federal Fluminense, Tunico Amâncio.
Neste  interessantíssimo documentário de pouco mais que uma hora, somos levados a uma serie de depoimentos proferidos por  renomados diretores, atores e cineastas estrangeiros, como os grandes atores Michel Caine e Jon Voight, que participaram de produções realizadas nessas terras, e que por isso, apresentam suas visões em torno de nosso país.
O documentário perpassa uma serie de filmes mais antigos e outros mais recentes para desnudar a complexa “representação” do Brasil pelo Cinema estrangeiro. Passando por renomados filmes como “O Homem do Rio” (1962) de Phillipe de Brocca, até popularescos recentes como Anaconda (1997) e Lambada (1990), Lucia Murat apresenta todo esse quadro estereotipado e “místico” em torno de nosso país, em alguns dos filmes citados como o “paraíso” por conta da beleza natural, das mulheres, e por outros, como um local inóspito.

 Uma serie de estereótipos é discutido em todo o documentário, como por exemplo a ideia do Brasil como um “paraíso da sensualidade”, bem representado, por exemplo, na película “O Feitiço do Rio” de 1984. Neste estereótipo, o Brasil na verdade é visto como o local das moças bonitas, dos biquínis, dos top less, e sobretudo, das belas praias.
Aliás, um aspecto interessante que o documentário aborda é que na verdade a representação caricata do Brasil é na verdade uma versão mais caricata ainda do Rio de Janeiro. O suposto Brasil representado tem suas locações sobretudo no Rio de Janeiro, e em alguns casos em Salvador, entretanto, em ambos os casos, a representação é obviamente bem caricata desses próprios lugares: O Rio de Janeiro é praia, bebida e mulheres peladas, e a Bahia é o misticismo, a religião.
 Um caso bastante curioso da “representação tupiniquim” feita pelo filmes é demonstrado na película “Lambada – a dança proibida”(1990) do diretor Greydon Clark.  A Película narra a história de uma “princesa índia”, de cor branca, que parte para os Estados Unidos para vencer um concurso de lambada no intuito de demonstrar o desmatamento da Amazônia. A idéia é boa, mas o recurso é horrivel. Além da índia branca, temos uma Amazônia repleta de índios que falam o espanhol, e o pajé, pai da princesa índia, é um índio apache.
Enfim, este documentário de Lucia Murat é riquíssimo para compreender não somente a visão de alguns sobre o nosso país, mas sim uma visão que se estende a muitos, haja vista que o Cinema não deixa de ser um reprodutor de uma visão secular.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História na Universidade Federal de Sergipe

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Dossiê ODESSA (1974): Um thriller policial sobre a real fuga dos nazistas no pós - segunda guerra mundial

        

   Baseado no romance homônimo de Frederick Forsyth, um renomado escritor de thrillers policiais e de suspense dos anos 1970 e 1980, a película “O Dossiê ODESSA” leva as telas do Cinema uma história que, apesar de ficcional, possui estreita relação com a realidade.
            O Filme, rodado em 1974, em linhas gerais, descreve a história de um curioso jornalista alemão chamado Peter Miller que, por ocaso do destino, é levado a ler o diário de um judeu solitário que havia cometido o suicídio em um bairro pobre de Berlim. Ao lê-lo, Miller então acaba se deparando com os horrores do holocausto, e como também acaba entrando em contanto com a Organização ODESSA, criada no fim da segunda guerra, no intuito de forjar uma nova identidade para os grandes do escalão nazista fugirem sem serem punidos para localidades distantes.
            No filme, um dos grandes auxiliares de Miller é o “caçador de nazistas” Simon Wiesenthal (1908 – 2005), personalidade real de grande importância para a história da humanidade, porém pouco conhecido. Wiesenthal fora um sobrevivente dos campos de concentração de Plasow e Mauthasen, onde permenecera por quatro anos. Arquiteto de formação, Wiesenthal, após sair do campo não encontrou mais do que sua esposa como sobrevivente do holocausto, tendo perdido então todos os seus demais familiares. 

           Logo, com o termino da guerra, Wiesenthal se sentia desnorteado, sem rumo, e principalmente com um sentimento de justiça em relação aos que fizeram tanto mal durante aquele período. Wiesenthal então passa a investigar por conta própria, e de forma perigosa, os caminhos de ex-membros da GESTAPO e da SS no pós – guerra, formando progressivamente um centro de documentação na busca por esses paradeiros, no intuito de que aqueles fossem finalmente levados a Justiça.
            A ODESSA, descrita no filme, portanto existiu, e sua sigla significava justamente “Organização de antigos membros da SS”, tendo sido financiada por muitos que acreditavam no ideario nazista, e que assim sendo, passaram a fomentar um fundo monetario e estratégico de fuga em direção, principalmente, a paises da América do Sul. O famigerado Adolf Eichman, um tenente – coronel da SS responsavel por toda a organização da “Solução Final” – foi inclusive um desses que fugiram por meio da ODESSA, tendo partido da Alemanha com toda uma documentação falsificada, e vivido assim por mais de dez anos na Argentina com o nome de Ricardo Klement. Em 1960, com a investigação crucial de Wiesenthal, Eichman foi descoberto e preso pelo MOSSAD que o levou a julgamento.

          Outro caso bastante famoso nesse sentido é a fuga de Josef Mengele, o “anjo da morte”, que era o medico chefe nos experimentos do nazismo. Após a guerra, Mengele se utilizou dessa ratline, e fugiu para a Argentina, depois se mudou para o Paraguai, e por fim, acabou vivendo o fim de sua vida aqui no Brasil, sem ser percebido, na cidade de no interior de São Paulo. Quando iam prendê-lo, ao que parece, Mengele morrera de afogamento, em um dos casos mais esquisitos até hoje descritos.
Por fim, a película “Dossie Odessa”, apesar de ficcional, apresenta assim um realistico quadro de atuação das ratlines, ou linhas de ratos, criadas pelos nazistas e seus financiadores durante o pós – guerra. Através da ODESSA, muitos nazistas conseguiram sobreviver escondidos por durante muito tempo, como, além de Eichman, Gustav Barbie, Klaus Wagner, e Josef Mengele. Infelizmente, alguns até hoje conseguiram sair ilesos por seus atos.
           
Ass: Rafael Costa Prata

Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Um passado bem distante: quando o Cinema era “coisa de pobre”

Diversão pueril. Entretenimento barato, passageiro. Programa das “massas”. Não parece, mas a sétima arte já foi vista exclusivamente dessa forma. Não parece porque, ao que parece, o paradigma se inverteu: o produtou encareceu, se tornando cada vez mais um “artigo de luxo”, um programa cada vez mais caro e por isso pouco acessivel a boa parte da população em nossos dias.
Entretanto, lá em seus primordios, o Cinema era visto até pelos intelectuais da época como “uma máquina de embrutecimento e de dissolução, um passamento de iletrados, de criaturas miseráveis iludidas por sua ocupação” (Georges Duhamel).

O Cinema se inicia assim com um público aparentemente restrito: o proletariado. Nos chamados “Nickelodeons”, que eram as pequenas salas de Cinema no inicio do século XX, os proletários pagavam barato para assistirem a inúmeros vídeos curtos sobre diversas temáticas, na sua grande maioria do gênero comédia ou pequenos curtas de ação. Os burgueses ao desprezarem essa nova arte, optavam pelo Teatro, tido como uma arte de rico e de verdadeira beleza.
No entanto, aos poucos os mesmos burgueses que desprezavam o Cinema, passam a notar o quanto seu alto poder de recepção poderia significar também uma nova forma de enriquecimento. Por conseguinte, gradualmente o Cinema vai perdendo esse “aurea proletária”, quando o que era uma quase artesanal vai se tornando uma mega industria.
Com o surgimento das grandes empresas do Cinema, e por conseguinte dos grandes longas – metragens, tanto os nickelodeons entram em declinio, como também o próprio Cinema lentamente vai se encarecendo, tanto pelos custos de produção, e principalmente, pela necessidade da maximização dos lucros.
Hoje em dia, ao contrário deste passado remotíssimo, nos assustamos pois os ingressos estão cada vez mais caros. Assistir a um filme nos Cinemas, muitas vezes dominados e controlados por grandes carteis, se apresenta até como uma atividade que exige certa programação estratégica, haja vista que por conta de seu preço não é todo dia que podemos atender a este desejo. Um pai de familia com três filhos muitas vezes acaba tendo que pagar quase RS 100,00 para assistir a um filme com seus entes, pois, além dos ingressos caríssimos, acaba tendo que custear com os lanches também muito caros dispostos na antesala do Cinema.
Definitivamente, hoje, Cinema não é mais “coisa de pobre”.

Ass: Rafael Costa Prata

Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Nelson “Mandiba” Mandela (1918 – 2013): uma grande vida reproduz belos filmes biográficos

O Dia 5 de dezembro de 2013 ficou marcado como momento de “despedida” daquele que certamente foi um dos maiores homens da história da humanidade: Nelson Mandela.  Simbolo de perseverança, luta, de pacifismo e da crença na igualdade entre todos, Mandela faleceu aos 95 anos, tendo deixado assim para todos nós, um legado incomensuravel.
Figura maior na intensa luta contra o famigerado Apartheid – uma politica de estado de teor segregacionista vigente na Africa do Sul de 1948 a 1994 -, Mandela foi uma das personalidades históricas mais retratadas no Cinema, desde a produção de seriados a filmes.
Um homem que permaneceu preso por 27 anos (1964 – 1990) por conta de seus ideais pacifistas e igualitários, entre outras questões, certamente tem um poder de reprodução inestimável.

Infelizmente, Nelson Mandela não viveu a tempo de conferir aquela que talvez seja a sua biografia definitiva, “Mandela: Long walk to freedom”, película que seria lançada em poucos dias, a qual contará a história do pequeno “Mandiba” desde o seu nascimento em 1918, passando pela  sua luta contra o apartheid, chegando a presidência da África do Sul em 1994. O ator Idris Elba teve a difícil tarefa de representar a intensa vida de Mandela nessa biografia, que de certa maneira, não deixará de ser uma homenagem a esta grande personalidade.


Entretanto, outras grandes películas, e até seriados, já haviam sido produzidos anteriormente, em torno da vida da paradigmática vida de Nelson Mandela.
A primeira grande película em torno de Mandela foi produzida no remoto ano de 1987, quando o líder ainda se encontrava na prisão. Neste filme chamado “Mandela”, coube ao ator americano Danny Glover interpreta-lo, retratando desde a sua juventude como advogado até a sua inserção na luta contra o apartheid.
Em 1997, três anos após Mandela ser libertado, outra película foi produzida.  “Mandela e De Clerk” narra a história de amizade entre o ultimo presidente branco sulafricano, Frederik De Clerk, interpretado por Michel Caine, e Nelson Mandela, interpretado neste filme pelo genial Sidney Poitier.
Dez anos depois, uma nova cinebiografia foi produzida. “Goodbye Bafana” (2007) retrata os anos de aprisionamento de Mandela, em Robben Island, centrando-se em sua relação com um carcereiro branco racista.  Nesta película, Mandela é interpretado pelo ator Dennis Haysbert, e o cacereiro que tem sua vida transformada no contato com Mandela, pelo ator Joseph Fiennes.
 Em 2009, a película “Endgame” é produzida no sentido de retratar os últimos dias do regime do Apartheid, e todas as negociações políticas travadas para que isso se tornasse possível, centrando-se na figura de Mandela, interpretado pelo ator Clarke Peters, como o agente do processo.

No mesmo ano de 2009, é produzida aquela que até o presente momento, é a película de maior sucesso em torno da figura de Mandela: “Invictus”. O Filme conta os meandros da libertação de Mandela e posteriormente sua participação na Copa do Mundo de Rugby de 1995, realizado na Africa do Sul. Centrando-se na relação entre Mandela, interpretado magistralmente por Morgan Freeman, e o capitão da seleção de rugby sulafraficana François Piennar, a película demonstra como o evento foi importante na luta pela unidade da população sulafricana.
Por fim, no ano de 2012, Mandela foi levado as telas por meio de um outro vies: o de sua esposa, Winnie Mandela. Em “Winnie”, interpretada por Jennifer Widson, somos levados a história do casal e de todos os obstaculos sofridos pelo mesmo no decorrer de suas vidas. Nesta película, Mandela é interpretado por Terrence Howard.
Muitas outras películas serão produzidas em torno de sua figura. Documentários são incontaveis. Mandela foi um sujeito de uma riqueza espiritual, ideologica e política dificil de descrever. Todos estes filmes procuraram, cada um de sua maneira, retratar partes da vida, traços do homem, do sujeito político que fora Mandela.  Dificil tarefa quando se trata de alguém como Mandiba.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

"The Kiss" (1896): o beijo mais polêmico da história do Cinema!

       Quando os irmãos Lumière criaram o cinematógrafo em 1896, o trabalho consistiu no trabalho de aperfeiçoamento do cinetoscópio inventado por Thomas Edison um ano antes, ou seja, em 1895. Curiosamente, o pai do cinetoscópio e do telefone, Thomas Edison, ajudou também a produzir aquele que talvez seja a primeira grande obra polêmica da história do Cinema: "The Kiss", ou “O Beijo”, o primeiro beijo a ser filmado para as telas do Cinema.

Com pouco menos de 30 segundos, a cena reproduz um beijo entre a atriz May Irvin e o ator John Rice, o bastante para causar um rebuliço na sociedade. Há de se pensar que, até aquele presente momento, manifestações de carinho/amor se manifestavam geralmente em ambientes fechados, na presença do lar, de maneira que a reprodução de algo tão “intimo” acabou chocando na época.
    
     Esta cena foi gravada justamente por Thomas Edison que logo de cara reproduziu esse “tabu”, que ao que se conta conseguiu revoltar boa parte das plateias que consideraram a cena um verdadeiro ultraje. O pequeno curta experimental, e principalmente a sua recepção, nos ajudam assim a compreender o comportamento e a mentalidade de uma época, no caso, o nascer do século XX.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

sábado, 30 de novembro de 2013

“O Despertar dos mortos” (1978): uma sútil critica ao consumismo "black friday" de cada dia...

George Romero é talvez o maior cineasta do gênero terror de todos os tempos. Entretanto, é pouco reverenciado. Em uma outra postagem, demonstrei como este ousado diretor, através da película “A Noite dos mortos vivos” (1968), demonstrou e combateu a segregação racial que era uma tônica constante na sociedade norte – americana. Uma crítica forte e substancial em um filme de terror, gênero que, na maioria dos casos, é costumeiramente desprovido de qualquer consciência social.

Passados dez anos da produção de seu primeiro filme, George Romero retorna com mais uma película em torno dos famigerados “mortos vivos”. Desta vez, a película que se chamaria O Despertar dos Mortos”, de forma velada, entre muitas questões, faria uma sutil critica ao exagero, ao consumismo exacerbado de nossa sociedade.
A película que se passa em um shooping tem então um argumento claro e incisivo: de imediato, os seres humanos que conseguem sobreviver, se refugiam em um shooping, algo que parece remontar a um lar, um local onde, mais que qualquer outro, se sentem naturalmente bem. De outro modo, naquele local fechado, conseguem, a despeito de todo o caos social externo, manter toda uma vida centrada no consumo de produtos industrializados e etc, aspectos que a todo momento são reproduzidos no filme.
No entanto, a critica de Romero talvez seja mais decisiva em alguns pontos; em dias de black Friday, ou de liquidição em massa, os zumbis seriamos nós. Nossa atitude consumista se assemelharia a conduta daqueles que, sedentos, correm atrás de seu alimento por puro instinto. No nosso caso, o instinto é o consumismo.
Quando os zumbis caminham sem rumo, subindo e descendo escadas rolantes, caminhando entre lojas, se esbarrando nos manequins, o paralelo que se traça é a própria situação do homem moderno, confinado no cada vez mais imediato consumismo predador. Será que não caminhamos sem rumo, sem proposta, como verdadeiros zumbis, muitas vezes no feitiço do consumismo?

 Há uma cena inclusive bastante engraçada nesse tom: o auto falante do shooping chega a anunciar uma liquidação em uma das lojas, e curiosamente, por algum instinto fortíssimo mantido, os zumbis caminham, em sua lentidão habitual, a caminho da loja onde a liquidação estaria ocorrendo. Chegando lá, os portões estão fechados, e os zumbis “se revoltam”, se esbarrando e jogando os corpos frente a seus portões. Seria o consumismo nosso instinto mais indestrutivel?
Enfim, por essas e outras questões, é que as películas produzidas por George Romero devem sempre ser vistas como portadoras de alguma crítica social. Seus filmes, do gênero terror, mais comumente em torno dos mortos vivos, conseguem assim levar a uma reflexão em torno de certos temas bastante atuais em nossa sociedade.

Ass: Rafael Costa Prata

Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

domingo, 24 de novembro de 2013

“A Porta da Loucura” (1936): Quando Hollywood dá sua opinião sobre as drogas


         Se hoje em dia a temática em torno da legalização das drogas acarreta uma serie de polêmicas e opiniões contrárias, o que dirá a visão geral sobre as mesmas no nascer do século XX?!
Com certeza, no iniciar do século XX, a questão era ainda mais controversa; na verdade, o posicionamento era mais direto: a droga é um mal a ser extirpado da sociedade custe o que custar.
    
Nesse sentido, um dos filmes propagandisticos, ou melhor anti – propagandistico, mais significativos em torno da questão é o clássico “Reefer Madness” (1936) do diretor Louis Gasnier. A película, que em sua tradução seria “A Porta da Loucura”, em linhas gerais, acaba por demonstrar toda a mentalidade da época acerca dos efeitos das drogas , ou a ideia que se tinha de seus efeitos, em especial, da “marihuana” – a maconha – na sociedade norte americana.
      Logo, desde o principio o filme possui um propósito claro: demonstrar como as drogas são nocivas e destroem o lar norte - americano. Filho que se volta contra pai, filha que engravida, amigos que se matam... Tudo por conta do efeito devastador das drogas.
      O Filme que tem pouco mais de 1 hora tem um enredo simples: conta a história de um casal de traficantes que passa a enriquecer ao vender drogas a jovens americanos, os quais vão gradualmente se desviando dos preceitos básicos de uma vida em sociedade. O tempo curto da película se justifica pelo fato de ter sido pensado e patrocinado por uma Igreja para ser exibida nas escolas, nos cultos e em outros locais onde a presença de jovens fosse maciça.
        Em uma das passagens dos filmes, chega a se mencionar que:
“Um rapaz de 16 anos mata a família com um machado. Uma garota de 17 anos se deixa seduzir por cinco homens mais velhos ao mesmo tempo. Tudo isso por causa do uso de narcóticos. Pensou em crise de abstinência de crack, abuso de LSD ou overdose de ecstasy? Errou! É tudo culpa da maconha.”
   
Em todo o momento, o filme se segue procurando conceder um enquadramento profundo e incisivo no rosto dos personagens, demonstrando as suas faces calmas antes da inserção no mundo das drogas, e posteriormente a transformação para uma nova conduta sombrio oriundo da inserção naquele meio.
      De fato, o filme é bastante interessante para se compreender a mentalidade da época acerca da questão. Os exageros em torno dos efeitos produzidos pelas drogas nos ajudam a compreender entretanto o medo daqueles frente aos seus efeitos, e principalmente, a vontade que o seio norte – americano nutria de conseguir parar a chegada das drogas em suas portas.
         O Tema em questão, passados quase 80 anos da produção do filme, ainda mantêm a sua natureza controversa, de modo que, este filme de posicionamento visivelmente definido, não deixa, por outro lado, de manter a sua atualidade preservada diante dos debates de hoje em dia.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Alladin (1992): a polêmica em torno do preconceito frente aos muçulmanos na canção “Arabian Nights”




O que era para ser uma bela e simples canção de abertura para uma animação de futuro sucesso se tornou um grande e imediato “problema” para a Disney. Após sua exibição no Cinema, Alladin tornou-se um sucesso estrondoso. Esta animação que narra as aventuras do jovem ladrão, seu amor impossível pela princesa Jasmine, e o mágico gênio da lâmpada, custou 28 milhões de dólares arrecadou mais de 500 milhões em todo o mundo, para os cofres da Disney. Entretanto, o primeiro minuto de sua reprodução traria um grande problema a sua produtora.


Acontece que a animação se inicia com uma bela imagem de um deserto tendo como fundo musical a canção “Arabian Nights”. No seu estrofe inicial se observa os seguintes versos:



Venho de uma terra, de um lugar

Onde sempre se vê Uma caravana passar.

Vão cortar sua orelha

Pra mostrar pra você

Como é bárbaro o nosso lar
 


De imediato, percebeu-se o preconceito frente aos muçulmanos nestes versos. Como reação, o Comitê Árabe – Americano Antidiscriminação protestou exigindo que a Disney alterasse a canção. Pedido aceito. Os versos iniciais foram alterados para:


Oh, eu venho de uma terra, de um lugar

Onde sempre se vê Uma caravana passar.

É uma imensidão

Um calor e exaustão

Como é bárbaro o nosso lar.



Percebemos que na estrofe condenada, os muçulmanos são descritos com o hábito de cotidianamente arrancarem as orelhas dos outros e o sentido da palavra “bárbaro” denota algo selvagem. Entretanto, de forma curiosa, a mudança ocorrida, ou seja, a apresentação dos novos versos, fazem com que a mesma palavra – bárbaro – já passe a significa algo como “maravilhoso”.
Isso tudo não surpreende quando temos em vista que boa parte dos filmes americanos dos anos 1980 e 1990 (e ainda hoje) denotam um estereotipo bastante depreciativo em torno dos árabes, na maioria das vezes descritos como terroristas, os “inimigos outros” desse novo tempo. Antes russos, agora árabes.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado na Universidade Federal de Sergipe.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...