domingo, 20 de setembro de 2015

[Futebol e História] A trajetória de Lily Parr: a primeira grande “craque” da história do futebol feminino


O futebol feminino vem seguramente crescendo a passos largos, uma vez que já podemos observar um substancial aumento das ligas femininas oficializadas ao redor do mundo. Infelizmente em nosso país a situação nem de longe é satisfatória, pois o futebol feminino aqui agoniza, ainda que as meninas sempre nos encham de orgulho em praticamente todas as competições que disputem. A opção é sair do país e tentar a vida na Suécia, na Alemanha ou nos Estados Unidos, lugares onde o futebol feminino é fortíssimo.
Desde 1991 que o futebol feminino passou a contar com a sua própria “Copa do Mundo” e de lá para cá foram disputadas 7 edições sendo os Estados Unidos os maiores vencedores, com 3 títulos, seguido da Alemanha com 2 taças e da Noruega e Japão com 1.
Todo o preconceito reinante sobre o futebol feminino – a ignominiosa ideia de que futebol se apresenta como um esporte que deve ser exclusivamente praticado por homens – tem sido combatido progressivamente em nossos dias, mas certamente esta luta começou a muito tempo atrás possivelmente nos pés de uma jovem moça inglesa de nome Lily Parr.


Lily começou a jogar futebol quando tinha apenas 14 anos de idade em uma equipe amadora de sua cidade chamado St.Hellen´s Ladies. Um ano depois, em 1920, passou a trabalhar em uma fábrica de munições em Preston, Inglaterra, onde formaria então a um time com as operárias daquela fábrica.
Rapidamente Lily se tornaria a grande craque da Dick, Kerr Ladies, o nome da equipe, muito em conta por causa de sua grande força física. Conta-se que Lily chutava tão forte que em uma ocasião ao bater um pênalti, acabou por provocar a fratura de um dos braços da goleira do time adversário.
Finalizada a Primeira Guerra Mundial, realizou-se aquele que é considerado o primeiro amistoso internacional entre times femininos: a Dick, Kerr Ladies enfrentou a uma equipe francesa em quatro partidas, com duas vitorias para o time inglês, um empate e uma vitoria para o time francês. Numa das vitórias, Lily Parr marcara todos os gols de sua equipe na goleada por 5 a 1 frente as francesas.

O Dick Kerr Ladies

No entanto, em 1921 seria proibido o futebol feminino na Inglaterra, de modo que restou como solução excursionarem pelo mundo. Ao jogar em uma série de amistosos nos Estados Unidos, os jornalistas locais ficaram tão impressionados com o talento daquela moça que estamparam as páginas dos jornais afirmando que aquela se tratava da mais brilhante jogadora de futebol do planeta.
Lily Parr se despediria do futebol aos 45 anos em 1950, em uma vitoria de sua equipe frente a um time de garotas escocesas, e faleceria em 1978 vitima de um câncer. Antes de falecer, todavia, tivera a felicidade de ver a Federação Inglesa de Futebol anular aquela lei de 1921, permitindo então que o esporte fosse praticado pelas mulheres como filiadas a entidade.
Lily é até hoje reverenciada como uma das maiores jogadoras de todos os tempos. Mais do que isso, certamente fora uma mulher que lutara, dentro e fora do campo, contra os preconceitos arraigados em sociedade em relação a figura feminina. Lily Parr, que golaço!!

Ass. Rafael Prata.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Anna Karina: a atriz “francesa” símbolo da Nouvelle Vague


Talvez o título desta postagem possa parecer um enorme exagero para alguns. Todavia, não há como negar que Anna Karina foi seguramente um dos símbolos máximos da Nouvelle Vague, aka “Nova onda”, o movimento artístico-cinematográfico que revolucionaria o cinema francês a partir de finais dos anos 1950.

Curiosamente, Anna Karina não era francesa. Natural de Copenhague, Dinamarca, Hanna Karin Blarke nascera no dia 22 de setembro de 1940, mas fugira de sua casa e de seu país em direção a Paris por não se dar bem com o seu padrasto. Assim, em 1958, aos 18 anos de idade, Anna Karina chegava a França sem falar o idioma e sem trabalho.
Um certo dia ao caminhar pelas ruas acabou por ser abordada por um agente de modas que a considerou apta para se tornar modelo. Passou então a posar para fotos e atuar em comerciais para a televisão. E foi ai então que ao assistir a um desses comerciais o jovem cineasta Jean-Luc Goddard ficaria abismado com o seu talento, tendo convidado-a então para participar dos seus próximos filmes.
Nesse ínterim, acabaram por se apaixonar e então casaram. Iniciou-se uma das maiores parcerias da história do cinema, que duraria de 1961 a 1967, quando o relacionamento terminara; filmaram juntos então a uma série de películas de sucesso como “Uma mulher é uma mulher” (1961) “Viver a Vida” (1962), “Alphaville”(1965), “O demônio das onze horas (1965), etc.

Anna Karina em "Viver a Vida" (1962)

Com outros gênios do cinema francês, Anna Karina atuara em La Ronde (1964) de Roger Vadim e A Religiosa (1967) de Jacques Rivette. A sua capacidade marcante de unir tão perfeitamente a beleza com a personalidade forte de uma mulher independente era tanta que em 1967 o músico e compositor francês Serge Gainsbourg produzira então uma comédia musical em sua homenagem intitulada “Anna”, tendo esta atuado na peça.
Fora da “Nouvelle Vague”, Anna Karina atuaria no NeoRealismo Italiano de Luchino Visconti em “O Estrangeiro” (1967), película homônima a obra literária do francês Albert Camus.

Anna Karina em "O Estrangeiro" (1967) de Luchino Visconti
Anna Karina continuaria a sua carreira atuando em uma série de películas de variados diretores. Por certo, repetimos, a sua capacidade de conferir as suas personagens uma beleza doce em contraste a personalidades profundamente marcantes acabou por lhe conceber uma cadeira cativa como uma das maiores atrizes da história do cinema mundial.
Certa vez, perguntado sobre a inspiração para compor a personagem Mia Wallace do filme Pulp Fiction, o diretor Quentin Tarantino respondera que não tivera outra se não a da personagem de Anna Karina na película “Bande á part” (1964).
Hoje em dia, Anna Karina continua firme e forte aos 74 anos de idade, viajando pelo mundo a fim de receber as homenagens devidas em inúmeras amostras na qual se projetam uma série de filmes em que atuara. Ta aí uma atriz que, como sua personagem, certamente soube viver muito bem a sua vida!

Ass. Rafael Costa Prata.

sábado, 30 de maio de 2015

Uma ode aos anos 1980/1990: que saudade daqueles “bons tempos” das locadoras de VHS

      
    É bastante provável que eu seja criticado por conta do teor desta postagem. Alguns leitores certamente me considerarão um nostálgico em excesso, enquanto que outros poderão até me taxar de hipócrita. Pode ser até que eu realmente seja um nostálgico inveterado, hipócrita seguramente não sou. Ditas estas palavras, caro leitor, tratarei agora daqueles “bons tempos de locadora”.
Para que vocês possam compreender com exatidão o que denomino “bons tempos”, peço-lhes que ao menos momentaneamente ignorem, por mais difícil que isto seja, todo o incomensurável quadro de inovações que se tem observado frente aos aspectos áudio-visuais dos filmes atuais e sobretudo da  louvada “logística” que cada vez mais nos cerca e nos permite um acesso cada vez maior a estas produções. Esqueçam tudo isso em favor da subjetividade.
Dito de outra maneira, é preciso que você leitor ignore momentaneamente a enorme facilidade com que nos deparamos hoje em dia para ter o acesso aos filmes, seriados, e etc, tudo isso na ponta dos nossos dedos através do computador ou no sofá de casa diante do netflix.
Tudo isso é muito bom, eu sei, mas eu quero evocar aqui uma outra época. Naqueles “bons tempos” certamente não existia toda esta comodidade e muito menos a capacidade de acesso a uma incontável quantidade de películas oriundas de todas as partes do mundo. Naquele tempo,  os anos 1980/1990, dependíamos do estoque manjado e repetido de filmes disponibilizados por aquela locadora situada em nosso bairro. É claro que vez ou outra chegavam alguns lançamentos, porém, para termos acesso demorava-se uma eternidade, uma vez que a procura por essas “joias” era sempre grande.
Pouquíssimos e repetidos filmes, era o que contávamos. Talvez a disponibilidade pudesse ser acrescida quando aquele ousado primo se registrava em locadoras de algum outro bairro. Aí certamente era dia de festa pois nos veriamos possivelmente diante de um outro acervo de películas. Foi o caso do meu irmão, Marcelo, que no afã de conseguir o acesso aos filmes dos “Trapalhões” que não constavam na locadora do nosso bairro, acabou por se registrar numa outra locadora, fora do bairro, por saber que lá se encontravam aquelas “raríssimas” fitas da trupe do Didi. Não me lembro se ele retornou a locadora para alugar outros filmes. Creio que não. Foi coisa de fã mesmo. Os trapalhões, bastava ter o acesso a esse conteúdo. Recordo-me também de quando passava os fins de semana na casa do meu primo Thiago para então alugarmos as VHSs da locadora de seu bairro.
De qualquer forma, naqueles “bons tempos” era costume a gurizada se reunir nos finais de semana para locar e assistir os ditos filmes de sempre. Era dia de assistir ao mesmo episódio de Changeman e ao mesmo VHS de “O Retorno dos Mortos-Vivos” pela centésima vez, sempre como se fosse a primeira. Na outra semana, o esquema se repetia, talvez alterando-se apenas os filmes escolhidos, os quais certamente já haviam sido assistidos em demasia anteriormente. Ah, parabéns Dona Acácia (minha mãe)! A senhora chegou a ganhar um grande prêmio (uma caixa de chocolate) por ter sido a pessoa que mais alugou VHSs em um ano! Que vício hein! 
Saudades da senhora, dona Helena! Como será que a senhora está? Bons tempos de quando a Senhora era dona da Telecom!
Nesses tempos era tudo muito limitado mesmo. Hoje nós temos o acesso ilimitado a tudo aquilo que desejamos assistir. Um click, um download feito: filme. avi. Claro que hoje em dia é tudo muito melhor! Provavelmente em um mês consigo assistir a mesma quantidade de filmes que assistia em 1 ano naquela época. Filmes da Dinamarca, da África do Sul, do Canadá, enfim, de qualquer parte do globo. Naquela época, sem chances!
Naqueles tempos a gurizada construía a sua própria locadora de VHS. Meu irmão Marcelo tinha a dele. O armário repleto de fitas enfileiradinhas e devidamente numeradas. Lembro-me até hoje que a fita de número 079 era a do filme “A Volta dos Mortos Vivos” (1985), um dos filmes preferidos da minha infância. Marcelinho ficava atento a televisão. Chamada do Intercine. Aliás, saudades de você também Intercine! Se o filme fosse do agrado, dava REC no velho videocassete e gravava o filme. Acho que ele chegou a ter umas 100 fitas. Não sei se exagero. Tinha até uma agenda organizadora, explicando quais filmes se encontravam gravados em cada uma daquelas fitas. Marcelinho devia ter lá pelos seus 13 a 15 anos quando era viciado em gravar VHS. Eu só assistia.
Mas ai o tempo passou. A tecnologia dos DVDs chegou e as locadoras conseguiram resistir só por mais um tempinho. O que será que a senhora faz da vida agora, dona Helena?! E os funcionários daquela época?! 
Toda vez que passo em frente ao que foi o estabelecimento da Senhora, me ocorre um misto de tristeza com alegria. Que flashback! Será que ainda tem as VHS dos Changeman lá dentro?! 
É, eu admito. Sou um nostálgico inveterado. Sim, hoje os tempos são melhores. Seria hipócrisia negá-lo...
... Mas que saudade eu tenho de Dona Helena!

Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Shiro Ishii e a Unidade 731: a nefasta história da “Auschwitz asiática” e do seu “Josef Mengele Japonês ”.


Todo mundo conhece as atrocidades cometidas pelos nazistas em seus campos de concentração durante a segunda guerra mundial. Auschwitz, localizado ao sul da Polônia, foi um dentre tantos campos no qual se realizaram uma série de barbáries contra os judeus, homossexuais, ciganos, e etc.
Num dos complexos que formava a rede Auschwitz-Birkenau, operava o “Anjo da Morte”. Tratava-se de Josef Mengele, o oficial médico chefe daquele complexo. Ali, Menguele efetuaria uma série de atrocidades frente a uma série de cobaias vivas. Injeção de tinta de caneta nos olhos, desmembramento de corpos vivos, testes com gêmeos (sua fixação), e etc. A lista das atrocidades cometida por Menguele é interminável, assim como a de todo o corpo do nazismo.
Infelizmente, ao que parece, tais condutas não foram exclusivas deste nefasto médico nazista, uma vez que naquele mesmo momento, a mesma conduta era realizada pelo microbiólogo japonês Shiro Ishii, conhecido como o “Mengele Japonês” por conta das atrocidades que cometera durante a chamada guerra sino-japonesa (1937-1945).

Shiro Ishii: o "Josef Menguele Japonês"

Comandando a Unidade 731 do Exército Imperial Japonês,  oficialmente conhecida como o Departamento de Prevenção de epidemias e purificação da água, o microbiólogo acabou por realizar uma cadeia de atrocidades indescritíveis.

Fotografia áerea da Unidade 731

Utilizando-se de presos de guerra soviéticos, filipinos e de outras nacionalidades, os cientistas de Shiro Ishii realizaram vivissecções de pessoas vivas, retirando-lhes os órgãos, sem anestesia, para testar a resistência daqueles até a hora da morte. Colocavam pessoas sob condições absurdas de temperatura, em câmaras de descompressão, e etc. Ademais, introduziam nas pessoas doenças como tifo, cólera, peste bubônica e etc.

Os Cientistas de Shiri Ishii em um de seus nefastos experimentos


Tudo isso foi levado as telas na fortíssima película “Campo 731 – Bactérias, a maldade humana”, uma produção chinesa de 1988. Nesta película, são “reconstruídas” uma grande parte dos experimentos realizados neste campo de concentração japonês com uma verosimilhança que assusta e provoca ânsias de vomito. Certamente não é um filme fácil de se assistir. O triste é imaginar que trata-se de algo que acontecera realmente.

"731: Bactérias, a maldade humana (1988)"

Após a segunda guerra mundial, tais atrocidades acabaram sendo acobertadas por um longo tempo, mas as barbáries de Shiro Ishii e de seus cientistas na Unidade 731 lentamente foram descobertas.

Ass. Rafael Prata

Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe

sábado, 16 de maio de 2015

Cannibal Holocaust (1980): o filme de terror mais polêmico de todos os tempos

Imaginem um diretor de cinema sendo preso logo após a produção de um filme sob a acusação de assassinato de sua trupe de atores... Pois é, foi o que aconteceu com o cineasta italiano Ruggero Deodato logo após o lançamento de sua famigerada película Cannibal Holocaust nas lides de 1980. Deodato foi preso ao ser acusado de ter produzido a morte de seus atores e de uma centena de animais nessa película.
De fato, o conteúdo da película permite estas suspeitas, pois realmente é tudo muito real neste snuff movie.  O filme descreve a história de quatro documentaristas de tribos indígenas que partem em direção a Amazônia para filmar as tribos daquela localidade. Ali chegando acabam sendo vítimas do canibalismo dos índios. Um antropólogo se encaminha então para saber do paradeiro daqueles, conseguindo recuperar a filmagem efetuada por aqueles documentaristas desaparecidos.



Bom, tem que ter pulso pra assistir ao filme todo sem pular as cenas de atrocidades (eu não consegui). São 95 minutos de toda ordem de trucidamentos humanos e animais que, como mencionei, parecem muito reais. Daí então a necessidade de Deodato de se justificar perante a justiça, provando cena a cena que tratavam-se de efeitos especiais. No dia da audiência, os atores tiveram, inclusive, que adentrar na corte italiana para demonstrar assim que encontravam-se vivos. O curioso é que esta “suspeita” foi planejada pelo próprio diretor, o qual havia ordenado contratualmente aos atores da película que aqueles “sumissem” após a produção da película, para reforçar esta impressão. Infelizmente o cineasta italiano, no afã de sua maluquice, efetuou mesmo uma série de barbaridades com animais durante a produção do filme, tendo dito, anos após ao filme, que se arrependera desta questão.
A película acabou sendo proibida na própria Itália, no Reino Unido, e em 33 outros países do mundo, se tornando, por consequência, um dos filmes mais “cultuados” por amantes do terror extremo.

Ps. O trailer da película: 



Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe

segunda-feira, 4 de maio de 2015

[Futebol e História]: Teria sido o craque austríaco Matthias Sindelar uma vítima do Nazismo?

Ele era o melhor jogador da seleção austríaca de futebol na década de 1930, e seguramente um dos melhores jogadores de todo o mundo. Matthias Sindelar, conhecido como “The paper-man” por conta de sua magreza, encantava com a sua alta velocidade, capacidade de drible e faro de gol, ao público por onde passava.
No auge de sua carreira, aos 30 anos de idade, participa então da Copa do Mundo de 1934, realizada na Itália sob o regime do fascista Benito Mussolini. Ajudando a sua equipe, Sindelar leva a Áustria a quarta colocação no torneio, até hoje a melhor desta seleção em copas do mundo. Após a Copa, Sindelar continuara a sua carreira defendendo o Áustria Viena, e como também, a sua seleção a obter a classificação para a copa seguinte, que seria realizada em 1938 na França.
Mas acontece que, no inicio daquele dito ano de 1938,  a Alemanha nazista anexaria a Áustria aos seus territórios. Como consequência, os craques daquela seleção austríaca de 1934 acabaram sendo “convocados” a integrarem o time alemão naquela dita copa. Grande parte dos jogadores austríacos aceitaram, no entanto, Sindelar se recusara afirmando que estava acometido por uma grave contusão.


O Curioso é que Hitler organizou uma partida para comemorar a anexação da Áustria a Alemanha, partida esta que ao fim seria a última de Sindelar por sua seleção. Sindelar barbarizou na partida, e ao marcar o primeiro gol, comemorou efusivamente diante da tribuna em que se encontrava Hitler, que ficou com enorme raiva daquele “ousado” jogador que além de zombar, estava se recusando a participar do escrete alemão.


No inicio de 1939,  Sindelar seria encontrado morto com a sua namorada Camilla Castagnola em seu apartamento em Viena. O Laudo realizado indicaria uma morte acidental por conta de uma asfixia causada pela inalação de monóxido de carbono, todavia, sua morte também levantaria uma série de suspeitas “alternativas”. Consta-se que Sindelar já estava sendo investigado pela GESTAPO, a policia secreta do Reich, tendo na sua ficha sido classificado como “pró-judeu”, e inclusive, sua suposta origem judia sido posteriormente apagada.


Sindelar morria assim aos 35 anos de idade, sendo enterrado então no mesmo cemitério em que se encontravam sepultados Beethoven, Straus e Schubert.

Ass. Rafael Prata

Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe

sábado, 28 de março de 2015

[Futebol e História] Real Madrid x Barcelona: uma rivalidade que vai muito além das linhas do campo


No último domingo, 22/03/2015, assistimos a mais um belo duelo entre os dois principais clubes da Espanha: o Real Madrid e o Barcelona. De um lado, a trupe sul americana de Messi, Neymar, Suarez e companhia, e do outro, o esquadrão de Cristiano Ronaldo, Benzema, Gareth Bale, dentre tantas outras estrelas que habitualmente engrandecem tal peleja. O Barcelona venceu por 2x1, com 2 gols de Suarez, tendo Cristiano Ronaldo anotado o gol dos madrilenhos.
Mais do que um grande clássico, o duelo envolvendo tais clubes comporta uma dimensão histórica e simbólica que ultrapassa os meros limites das linhas do campo. As origens desta que é talvez a maior rivalidade futebolística do planeta, pode – e deve – ser procurada também em um cenário que não é o da bola, mas sim o da conjuntura política de uma nação no decurso de sua trajetória histórica.
        Em outras palavras, a história política da Espanha no decorrer do século XX muitas vezes se confunde com a história da formação e da intensificação da rivalidade entre o Barça e o Real no decorrer de sua história. O Real Madrid, o clube da capital, ainda hoje tende a ser visto como o clube da elite, da realeza, agremiação esta que seria em muitos momentos intensamente auxiliada por forças políticas, como ocorrera, em especial, nas ações do ditador Francisco Franco. Já o Barça é tido como o clube da “dissidência”, é o símbolo da força e da determinação do “povo catalão”, sempre disposto a bater de frente ao poder centralizador das forças políticas espanholas quando necessário.

O Brasileiro Evaristo de Macedo atuou por ambos os clubes nos anos 1950/1960: no Barça(1957/1962) e no Real (1962/1965)


        Tal bipolaridade remete profundamente aos atos políticos que marcariam a primeira metade do século XX espanhol, quando estes acabavam influenciando também no cenário da bola. Acontece que quando o generalíssimo Francisco Franco assume ao poder espanhol, este passará a se utilizar do Real Madrid, seu clube de coração, como instrumento político, patrocinando-o intensamente. O Real Madrid que obviamente já era muito grande nas lides de 1940, se tornaria maior ainda, pois Franco passou a patrocinar a contratação de todos aqueles jogadores que fossem considerados os melhores do mundo no momento, atravessando inclusive as contratações que seriam do interesse do Barcelona. Foi deste modo, por exemplo, que Francisco Franco teria auxiliado na montagem daquele que é considerado o maior time da história do Real Madrid, quando o time passou a contar com Di Stefano, Puskas, Gento, e inclusive o brasileiro Didi, entre 1951-1960. Esta “seleção”acabou ganhando, durante o período, 5 taça dos campeões da Europa (o equivalente a atual Champions League) e 4 campeonatos espanhóis, praticamente dominando o cenário futebolístico ibérico.

O Brasileiro Didi: contratação de peso do Real Madrid em 1959

     A contratação do citado Di Stefano revela, inclusive, a natureza das ligações entre Francisco Franco e o Real Madrid, uma vez que o jogador estava praticamente acertado com o Barcelona, no entanto, o ditador Franco acabou cobrindo a oferta, trazendo-o para o time madrilenho, onde se tornaria o maior ídolo da história do clube.

Francisco Franco: um "patrocinador" do Real Madrid?

       E foi assim que a rivalidade entre ambos os clubes foi se intensificando por conta de questões políticas. No Camp Nou, o estádio do Barcelona, quando os clássicos eram realizados naquele, a torcida catalã aproveitava esse momento para vaiar intensamente ao general Franco, cantando e xingando inclusive na língua catalã, que havia sido proibida pelo mesmo Francisco Franco.
    Ainda assim nos anos 1950, o Barcelona conseguiu resistir ao poderio madrilenho, tendo obtido também, naquela década, o número de 4 troféus da liga local. Mas os anos 1960/1970 seria devastador, pois o Real Madrid ganharia 14 troféus dos 20 em disputa durante aquelas duas décadas, enquanto que o Barcelona apenas 2. Tudo isso, consta-se, com a égide do generalíssimo Franco. Há quem diga ainda que o Santiago Bernabeu, o estádio do Real Madrid, fundado em 1947, também teria sido construído com o dinheiro dos cofres espanhóis, a mando de Franco. O próprio Santiago Bernabeu, ex-jogador do clube e que passara a nomear o estádio, havia lutado no exército de Franco durante a guerra civil espanhola.
Não há duvidas que tal peleja coloca em jogo o maior duelo futebolístico do mundo. Um duelo que vai muito além de questões da bola, tendo sido “fortalecido” por questões históricas. O Real Madrid, o clube mais rico do mundo, continua a ser uma grande potência, montando verdadeiros esquadrões de “galáticos” ano após ano. O Barcelona, seu maior rival, após um longo período de crise, ressurgiu com bastante força a partir de 2003, tornando-se hoje, junto com o seu rival, a maior potência futebolística do planeta.
    
Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe.        

sábado, 28 de fevereiro de 2015

José Mojica Marins, o Zé do Caixão: um verdadeiro “monstro” do Terror Nacional

Lá fora, seu personagem mais conhecido é traduzido como “Coffin Joe”, sendo seu criador uma figura bastante reverenciada em solos americanos pelos amantes do gênero terror. Sim, é o nosso clássico Zé do Caixão, alter-ego cinematográfico de José Mojica Marins, um abnegado ator, roteirista e cineasta brasileiro que passou a produzir películas de terror nos nossos anos 1960, algo bastante raro a época.
Nascido em São Paulo no dia 13 de março de 1936, desde cedo Mojica mostraria o seu interesse pelo cinema: seu pai havia trabalhado como projetor em uma sala de Cinema, e logo após um certo tempo, acabou sendo premiado, se tornando o gerente do Cinema local. Mojica sempre o acompanharia em seu ofício, travando assim os primeiros contatos com o cinema.
Aos 12 anos de idade, ganharia de seu pai uma câmera V-8. Ali ensaiaria os seus primeiros curtas, suas primeiras ideias já na infância. Com 17 anos, fundara com seus amigos uma amadora companhia de interpretação para atores, intitulada Companhia Cinematográfica Atlas, voltada sobretudo para a composição de personagens de terror, haja vista o seu fanatismo pelo gênero, testando inclusive a coragem dos atores amadores na lide com insetos, algo que inclusive se tornaria sua marca em seus mais conhecidos filmes.
Todavia, antes de entrar no mundo do terror, Mojica participaria de uma série de películas de outros gêneros. Em 1958, produzira a película “A Sina do Aventureiro”, um verdadeiro western nacional, e em 1962 a película “Meu destino em suas mãos”, dentre outros filmes. Mas, não tardaria que Mojica definitivamente iniciasse sua carreira naquele gênero que o tornaria um mito.

Em 1963, colocando em prática tudo aquilo que havia sonhado, todo aquele treinamento com insetos, e toda a sua influência, seu fanatismo frente a figura de Drácula, produziu então a película “À meia noite levarei sua alma”, apresentando assim o seu clássico personagem, o nosso Josefel Zanatas, ou melhor, o Zé do Caixão.
A história do famigerado e sádico Zé do Caixão que obcecado na busca pela “Mulher perfeita” com a qual teria seu herdeiro marcou o Cinema nacional nos anos 1960, tendo tido por conta de seu sucesso, uma série de continuações. Três anos depois, em 1966, viria “Esta Noite encarnarei no teu cadáver”, em 1974 a película “Exorcismo Negro” e em 1981 ao filme “A Encarnação do demônio” que teria um remake produzido em 2008 com o mesmo título.

O sádico Josefel Zanatas, o Zé do Caixão

No entanto, Mojica produziria outras películas de terror que não contaram com a participação de Zé do Caixão. São os casos de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1967), “Trilogia do Terror” (1968), “O Despertar da Besta”(1969), “Inferno carnal” (1976), “Delírios de um anormal” (1977), dentre outros tantos. Mojica também participaria da produção de uma série de películas de pornochanchada no decorrer dos anos 1970, um gênero de enorme sucesso a época no cinema nacional.

Aranhas, uma das marcas de Zé do Caixão

Mas foi a sua figura como Josefel Zanatas, o Zé do Caixão, que o projetaria como ícone do nosso cinema. Mojica foi – e continua a ser- um dos sujeitos mais ousados da história do nosso cinema. Pensar um filme de terror nos anos 1960 no Brasil traduz todo o teor dessa sua ousadia. Pensar e por em prática. Aranhas caminhando por pessoas amarradas, cemitérios, personagens sádicos, erotismo velado, todas estas questões marcam o cinema de autoria de José Mojica Marins, um grandíssimo cineasta que talvez seja mais reverenciado em solo estrangeiro do que em nosso país.

Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Index “cinematográfico”: Um Top3 de filmes “banidos” pelo Vaticano


    Em 1559 a Igreja criou o Index Librorum Prohibitorum, uma lista de obras literárias consideradas de conteúdo herético constantemente “atualizadas” pelo Papa, e sob a administração direta do Santo Ofício, da Inquisição. O “costume” persistiu até 1948, ou seja, por quase quatrocentos anos, quando foi publicada a sua última lista, tendo sida extinta em 1966, em definitivo, pelo Papa Paulo VI.
    Curiosamente, apesar de “extinto”, o Index vez ou outra mostra a sua face em outro ramo de produção cultural: o Cinema. Não obstante, tem sido uma prática bastante corriqueira por parte do Vaticano a de oferecer um “admonitum”, ou seja, uma advertência ao fiel em relação a alguns filmes que por conta do conteúdo herético, deveriam se manter afastados.
     Desse modo, uma série de filmes tem sido contestados e censurados pela Igreja que, dependendo do país, consegue até travar a sua circulação. Olha lá, é o Index cinematográfico! Só para ilustrar tal questão, vou listar três dos filmes mais “odiados” pela Igreja, e que por isso deram a maior confusão na época de sua exibição. 
     Certamente um dos casos mais famosos se refere a película “A Vida de Brian” produzido e realizado em 1978 pelo grupo de comédia britânico Monty Python. A película que descreve em tons absurdamente cômicos, a confusão que se torna a vida de um sujeito comum de nome Brian que acaba sendo confundido com o Messias e por isso vira objeto de adoração, causou um estardalhaço absurdo por parte de lideranças religiosas. Manifestações religiosas eram efetuadas pedindo a banição do filme em localidades dos Estados Unidos, e lideranças religiosas reforçavam a “blasfêmia” que era o filme contra a figura de Jesus Cristo. Em suas defesas, os comediantes negavam a acusação, afirmando que em nenhum momento haviam satirizado a figura de Jesus, mas sim, apenas haviam discutido, em tons cômicos, aspectos da fé, e inclusive, questões bem transversais como o sindicalismo, a política, e etc.

Cena de "A Vida de Brian" (1978)

    Um outro caso bastante conhecido foi o da película “Eu vos saúdo Maria", produzido e dirigido por Jean-Luc Godard em 1985. A película “reconstrói” a história da jovem Maria e de seu marido José num cenário localizado no século XXI. Bastante humanizado, contando inclusive com cenas de nudez, a película causaria uma polêmica enorme em todo mundo, sendo inclusive proibida aqui no Brasil pelo Presidente a época, José Sarney.

"Eu vos saúdo Maria" (1985)

Por fim, talvez o caso mais polêmico tenha sido o da película “A Última tentação de Cristo”, dirigida por Martin Scorsese em 1988, baseada no homônimo literário do grego Nikos Kazantzakis. Apesar do filme incluir em seus letreiros iniciais um aviso de que a obra não se baseava em nenhum dos evangelhos, não houve como não causar polêmica. Ao narrar a vida de um Jesus arrependido por suas escolhas e bastante humanizado, inclusive com uma vida de casado frente a Maria Madalena, a película acabou por gerar uma série de protestos e de ataques enfurecidos por parte de setores fundamentalistas cristãos, como o que aconteceu no Teatro Parisiense Saint Michel no mesmo ano, quando uma série de coqueteis molotovs foram arremessados em meio a exibição do filme, ferindo treze pessoas. O Vaticano, como era de se esperar, condenou a película considerando-o blasfemo, herético, incluindo-o no Index Librorum Prohibitorum. 

"A Última tentação de Cristo" (1988)

Outros tantos filmes poderiam ser citados. A lista não é de forma alguma pequena! Ainda hoje inúmeros filmes são condenados nessa listinha herética... O Index que tudo vê, e excomunga é claro!

Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe

sábado, 17 de janeiro de 2015

Calígula (1979): quando o que era para se tornar um "épico" se tornou o “pornô” mais famoso e polêmico da história do Cinema

1979. O aclamado romancista e dramaturgo Gore Vidal (1925-2012) escreve um roteiro para ser transposto para o Cinema. Tratava-se da história do famoso Gaius Caesar Germanicus, o famigerado Imperador Calígula do Império Romano.
         Tudo certo até o presente momento, pois o gênero épico e em especial a produção de películas voltadas ao Império Romano já haviam se tornado uma tônica de sucesso no mercado cinematográfico. No entanto, ao contrário das demais películas sobre o Império Romano, Calígula contou com total repúdio das empresas cinematográficas, dos diretores de renome em Hollywood, enfim, do alto escalão do cinema norte-americano.
    Tudo isso "graças" ao modo como seus pensadores desejavam retratar a ascensão e a queda de Calígula: através de um incontável número de cenas de sexo explícito, de masoquismo, bacanais, e etc. Obviamente que o grande filão do Cinema se chocou diante de tal roteiro e de imediato recusou-se a participar de tal empreitada.
         Não restou outra opção a não ser procurar “vias alternativas” para a realização do filme. O diretor procurado e escolhido foi o italiano Tinto Brass, conhecido a época por suas produções eróticas. Restava contar com o apoio de alguma produtora que pudesse patrocinar a realização do filme. Eis que a Penthouse, uma grande empresa do ramo pornográfico norte-americano, vislumbrou a chance de se projetar no meio do Cinema, patrocinando a um filme de grande relevo.

Tinto Brass: o "Rei" dos eróticos italianos nos anos 1970

         Firmou-se o acordo. Bob Guccione, criador e dono da Penthouse, passou a patrocinar a produção da película, e inclusive, também participaria ativamente de sua realização, ao filmar boa parte das cenas eróticas da mesma.

Bob Guccione: o magnata da Penthouse que financiara a película

         Calígula saiu do papel em 1979, e chegou as telas do Cinema em 1980. Resultado: um verdadeiro filme pornô com grandes estrelas do Cinema. Isso porque se diretores e produtoras haviam recusado a participação em sua produção, não foi o caso de algumas das maiores celebridades da época que acabaram aceitando o convite para participar de tão polêmico e controverso filme. Foram os casos, principalmente, de Malcom McDowell, um dos principais atores da época, que acabou por interpretar o próprio Calígula, de Hellen Mirren, que interpretou Milonia, a esposa de Calígula, e Peter O´Toole que interpretou Tibério.

O Poster de divulgação da película

         Sexo e Sadismo. São as palavras que podem resumir a película. Calígula e toda a conjuntura histórica e política do Império Romano acabam por ser drasticamente reduzidos a uma prática desenfreada de sexo no decorrer de todo o filme. Sem censura alguma, o filme trazia sexo explícito com cenas fortíssimas, desde os bacanais com uma enormidade de pessoas, passando pelas práticas mais sádicas possíveis, até chegar as relações sexuais incestuosas de Calígula com sua própria irmã.

Malcom McDowell e Hellen Mirren como Calígula e Milonia, respectivamente.

         A película, como era de se imaginar, acabou sendo rechaçada por toda a crítica especializada. Roger Ebert, o mais famoso dos críticos americanos, deu nota 0 ao filme, considerando-o um lixo indescritível. Outros tantos críticos reforçaram o fato de que possivelmente em todo o filme apenas 6 minutos de seus 150 minutos sejam de qualidade, estando o resto voltado aos bacanais e sadismos de Calígula e de toda a trupe romana.
         O curioso da recepção da película por parte do público se dá no fato de que muitas pessoas desavisadas no decorrer dos anos 1980 e 1990, no auge das locadoras de filmes, desconheciam o caráter essencialmente pornográfico do filme e assim colocavam-no na secção dos filmes de cunho histórico e/ou épico. Como consequência, ao alugarem a película, muitas pessoas tiveram o constrangimento de desconhecendo tal aspecto, convidarem uma gama de familiares para assistí-lo e se depararem então com a pornografia total da película, causando então um enorme desconforto não só para quem convidou mas para todos os convidados. E é claro, houve quem alugou a película sabendo de todo o seu conteúdo. 
     Polêmico, controverso. Sádico e escatológico. Calígula tornou-se um dos filmes mais paradoxalmente repudiados e “cultuados” da história do Cinema, justamente por toda essa, podemos dizer assim, “ousadia estética” e principalmente pelo furor causado em meio a sociedade.

Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe
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