Passados mais de
cinquenta anos do ocorrido, a Revolução Cubana, uma série de filmes e
documentários, de tempos em tempos, procuram reconstituir suas visões sobre os
acontecimentos que engendraram este evento marcante da metade do século XX. A
história do grupo de guerrilheiros, comandada por Fidel Castro e Che Guevara,
na luta pela libertação de Cuba frente aos Estados Unidos, simbolizada na
dependência de seu presidente Fulgêncio Batista, continua assim, a ser levada
cotidianamente as telas do Cinema por produções de vários países.
Pois é, lá no distante
ano de 1969, portanto, no “aniversário” de dez anos da revolução, e também dois
anos após a morte de Che, foi produzida a primeira película sobre o evento. A
película “Che: causa perdida” foi produzida ainda no calor das “consequências”
da revolução, num momento de interpretação de suas causas, consequências.
Curiosamente, a película
foi produzida nos Estados Unidos, o “país algoz” do evento. Sim, a película
conta com um grande elenco cinematográfico, a começar pelo grandíssimo cineasta
Richard Fleischer, e pelos grandíssimos atores Omar Sharif (Che Guevara) e Jack
Palance (Fidel Castro), além da composição sonora de um dos maiores gênios da
história do cinema, o músico húngaro Lalo Shiffrin.
A esquerda, Jack Palance como Fidel Castro, e a direita, Omar Shariff como Che Guevara. |
Uma verdadeira epopeia
hollywoodiana. A película se inicia descrevendo os últimos momentos de vida de
Ernesto Che Guevara, partindo então para um flashback onde passa a se descrever
sua inserção no grupo de Fidel e a posterior participação na revolução cubana.
Bom, o resto da história
já conhecemos. O que não podemos deixar de perceber é o caráter “ousado” da obra.
Ora, produzir uma película “enaltecendo” o rival recente de seu próprio país,
passados pouco mais de dez anos do ocorrido não deixa de ser uma atitude
ousada, ainda se tratando de um ambiente tão conservador e alinhado a ideologia
norte-americana como sempre foi a industria cinematográfica.
Polêmicas a parte, a caracterização física das personagens beira a perfeição no filme. |
Obviamente que, para
tal, além da dita “ousadia” havia um posicionamento político claro: o diretor
Richard Fleischer havia pensado o projeto, a partir do roteiro de Michael
Wilson, um homem de esquerda que figurava inclusive como um dos cabeças da
lista negra do Macarthismo.
No entanto, o aspecto
mais curioso em torno desse filme é a sua recepção pela própria esquerda; ao
que se consta o filme foi um “fiasco” em seus propósitos. A esquerda ficou
furiosa frente, principalmente, a uma cena em que um camponês entrega Che aos
militares porque o movimento das tropas atrapalharia a atividade de suas
cabras, cena esta que daria a entender uma falta de adesão popular ao
movimento. Além do que a própria representação do Che, e mais ainda de Fidel
Castro, este bastante apático no filme, foi altamente criticada pela esquerda
latina.
Omar Shariff como Che Guevara: o filme foi produzido apenas dois anos após a morte do guerrilheiro |
Enfim, a película merece
ser vista. O próprio fato de ser uma primeira representação construída ainda no
calor dos acontecimentos, e por “americanos”, já chama a atenção. Ademais, a
película segue uma tradicional enunciação dos fatos descritos a posteriore em
outros filmes. É a saga do utópico médico asmático argentino na ilha de Cuba,
tema este que até hoje reacende os mais intensos debates. No cinema começou
lá, em 1969, com esse tão polêmico filme de Fleischer, que não agradou nem aos “imperialistas”
e muito menos aos esquerdistas.
Mestrando em
História pela Universidade Federal de Sergipe