1979. O aclamado romancista e dramaturgo Gore
Vidal (1925-2012) escreve um roteiro para ser transposto para o Cinema.
Tratava-se da história do famoso Gaius Caesar Germanicus, o famigerado Imperador
Calígula do Império Romano.
Tudo certo até o presente momento, pois
o gênero épico e em especial a produção de películas voltadas ao Império Romano
já haviam se tornado uma tônica de sucesso no mercado cinematográfico. No
entanto, ao contrário das demais películas sobre o Império Romano, Calígula
contou com total repúdio das empresas cinematográficas, dos diretores de renome
em Hollywood, enfim, do alto escalão do cinema norte-americano.
Tudo isso "graças" ao modo como seus
pensadores desejavam retratar a ascensão e a queda de Calígula: através de um
incontável número de cenas de sexo explícito, de masoquismo, bacanais, e etc.
Obviamente que o grande filão do Cinema se chocou diante de tal roteiro e de
imediato recusou-se a participar de tal empreitada.
Não restou outra opção a não ser
procurar “vias alternativas” para a realização do filme. O diretor procurado e escolhido foi o
italiano Tinto Brass, conhecido a época por suas produções eróticas. Restava
contar com o apoio de alguma produtora que pudesse patrocinar a realização do
filme. Eis que a Penthouse, uma grande empresa do ramo pornográfico norte-americano, vislumbrou a chance de se projetar no meio do Cinema,
patrocinando a um filme de grande relevo.
Tinto Brass: o "Rei" dos eróticos italianos nos anos 1970 |
Firmou-se o acordo. Bob Guccione,
criador e dono da Penthouse, passou a patrocinar a produção da película, e
inclusive, também participaria ativamente de sua realização, ao filmar boa parte das cenas eróticas da mesma.
Bob Guccione: o magnata da Penthouse que financiara a película |
Calígula saiu do papel em 1979, e
chegou as telas do Cinema em 1980. Resultado: um verdadeiro filme pornô com
grandes estrelas do Cinema. Isso porque se diretores e produtoras haviam
recusado a participação em sua produção, não foi o caso de algumas das maiores
celebridades da época que acabaram aceitando o convite para participar de tão
polêmico e controverso filme. Foram os casos, principalmente, de Malcom
McDowell, um dos principais atores da época, que acabou por interpretar o
próprio Calígula, de Hellen Mirren, que interpretou Milonia, a esposa de
Calígula, e Peter O´Toole que interpretou Tibério.
O Poster de divulgação da película |
Sexo e Sadismo. São as palavras que
podem resumir a película. Calígula e toda a conjuntura histórica e política do
Império Romano acabam por ser drasticamente reduzidos a uma prática desenfreada de sexo no
decorrer de todo o filme. Sem censura alguma, o filme trazia sexo explícito com
cenas fortíssimas, desde os bacanais com uma enormidade de pessoas, passando
pelas práticas mais sádicas possíveis, até chegar as relações sexuais
incestuosas de Calígula com sua própria irmã.
Malcom McDowell e Hellen Mirren como Calígula e Milonia, respectivamente. |
A película, como era de se imaginar,
acabou sendo rechaçada por toda a crítica especializada. Roger Ebert, o mais
famoso dos críticos americanos, deu nota 0 ao filme, considerando-o um lixo indescritível. Outros tantos críticos reforçaram o fato de que possivelmente em
todo o filme apenas 6 minutos de seus 150 minutos sejam de qualidade, estando o
resto voltado aos bacanais e sadismos de Calígula e de toda a trupe romana.
O curioso da recepção da película por parte do público se dá
no fato de que muitas pessoas desavisadas no decorrer dos anos 1980 e 1990, no
auge das locadoras de filmes, desconheciam o caráter essencialmente
pornográfico do filme e assim colocavam-no na secção dos filmes de cunho
histórico e/ou épico. Como consequência, ao alugarem a película, muitas pessoas
tiveram o constrangimento de desconhecendo tal aspecto, convidarem uma gama
de familiares para assistí-lo e se depararem então com a pornografia total da
película, causando então um enorme desconforto não só para quem convidou mas
para todos os convidados. E é claro, houve quem alugou a película sabendo de
todo o seu conteúdo.
Polêmico, controverso. Sádico e escatológico. Calígula tornou-se um dos filmes mais paradoxalmente repudiados
e “cultuados” da história do Cinema, justamente por toda essa, podemos dizer assim, “ousadia
estética” e principalmente pelo furor causado em meio a sociedade.
Ass.
Rafael Prata
Mestrando
em História na Universidade Federal de Sergipe
Apesar de chocante, vejo muito contexto nesse filme, retratando bem como agem os governantes no q se refere a extravagancias, ganância e até sadismo, q mesmo quando não vemos existem. E para humanizar o personagem Calígula, ainda tem o sentimento dele por sua irmã, havendo até uma cena realmente emocionante deles. Gostei.
ResponderExcluirMinha professora de história da sétima série passou esse filme pra gente. Ela demorou 20 minutos pra falar timidamente: "é gente... acho que esse filme não é muito adequado pra vocês não".
ResponderExcluirDaí você imagina uma turma de sétima série vendo uma coisa dessas.
Em que época? Se forem os professores esquerdistas atuais, é normal!
ExcluirOlha só, o "cidadão de bem" bastante interessado em assistir ao filme... Típico.
ExcluirQuem eram as atrizes que fizeram as cenas de sexo explícito? Por que elas não são citadas? Por não serem famosas?
ResponderExcluirTbm tenho essa curiosidade. Deram uma excelente aula no filme.
ExcluirMELHOR FILME DE TODOS OS TEMPOS. RETRATOU A VERDADE ...QUE SE DANEM OS HIPÓCRITAS QUE PRATICAM AS MESMAS CENAS DE SEXO EXPLÍCITO NOS BASTIDORES DE FILMES FAMILIARES
ResponderExcluirA esposa de Calígula não era "Milonia" e sim Caesonia (Cesonia)
ResponderExcluirNão Cacau...a esposa de Calígula era Milonia Cesônia...vc está falando da mesma pessoa 🤭
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