Certamente
poucos são os filmes que conseguem tratar com tamanha sutileza, temáticas tão
complexas e dificilmente cicatrizáveis
como são aquelas que envolvem os eventos catastróficos ocorridos durante a
segunda guerra mundial, em especial, o genocídio judaico. A película “O Trem da Vida” (1998) do diretor romeno Radu Mihaileanu
consegue se apresentar como um desses filmes que ao abordar a temática em
questão, assim o faz partindo de uma abordagem pouco usual: a comédia.
Utilizar-se da
comédia para retratar um período tão triste da história da humanidade não deixa
de se apresentar como um ato arriscado, de certa forma, de bastante ousadia,
mas o diretor em questão sabe utiliza-se como o fio condutor de uma obra que
preza pela “suavização” do trágico pelo comico, sem retirar é claro toda a
carga dramática em questão.
“O Trem
da Vida”, filme pouco conhecido
aliás, descreve a saga de uma pequena vila judaica localizada no interior da
França, que ao saber da possível chegada dos nazistas a localidades próximas – e
com isso a chegada dos famigerados trens de deportação – simulam a própria
deportação a fim de enganarem os nazistas quando de suas chegadas, e assim
atingirem a Palestina como meta de conclusão de suas fugas.
Toda a
película é narrada sob o olhar do “louco da aldeia” Schlomo, personagem comico que
acaba por guiar todos os judeus de sua aldeia, através desse delírio de fuga.
Assim, os judeus acabam criando todo um ardil de fuga, na qual cada um passa a
representar segmentos do corpo inimigo em questão, de forma bastante cômica. O
antigo padeiro torna-se o membro da gestapo, os jovens da localidade tornam-se
soldados, tudo para recriar um verdadeiro trem de deportação nazista.
Um fato
curioso que envolve a produção da película, conta que o
aclamado “A Vida é Bela”,
dirigida por Roberto Benigni, teria “bebido diretamente” do roteiro de Radu
Mihaileanu, o qual teria convidado o próprio Benigni para interpretar Schlomo,
mas este recusara, e dentro em pouco tempo, acabaria por apresentar “A Vida é Bela” com traços bastante similares a
película em questão.
Para não
acabar descrevendo fatos do filme, e assim retirar a graça de quem porventura
for assisti-lo, termino por aqui a minha indicação, mas reafirmo que assistir “O
Trem da Vida” se apresenta como uma verdadeira aula de história sobre um
assunto tão complicado por meio de uma abordagem bastante sútil, emocionante.
Ass: Rafael
Costa Prata
Graduado em
História pela Universidade Federal de Sergipe