...foi como costumeiramente ficou conhecido e apelidado o grande comediante Harold Lloyd no decorrer de toda a sua carreira gloriosa. Com certeza ainda para muitos, este nome também não deve soar conhecido, mas a despeito desta menção, Lloyd, que também era chamado de "O Garoto" devido ao alter ego de suas personagens com feições e atitudes mais juvenis, entrou para a história como um dos maiores comediantes que o nosso Cinema já encontrou.
Harold Lloyd, em sua feição mais típica.
Se pudessemos imaginar e mentalizar uma trindade sagrada da era de ouro da comedia no cinema mudo, encontraríamos então Harold Lloyd ao lado dos supremos Buster Keaton e Charles Chaplin, os quais para mim de tão geniais e absurdos como foram, podem ser caracterizados, com o perdão da heresia e/ou apostasia, como sendo faces únicas, ainda que diferenciadas, de um mesmo ideal supremo, quase sacro do que se torna a essência maior da comédia.
Encontrar-se dentro de tamanha magnitude significa então alcançar um posto que com certeza não foi concedido e conquistado por um qualquer, que em vida não tivesse colhido as honras necessárias e justificadas para tal posição.
Lloyd e seus óculos tão caracteristicos.
Harold Lloyd, com absoluta certeza, foi um dos grandes gênios da comédia em toda a sua dimensão histórica. Seu apelido clássico que nomeia o titulo desta postagem, "O Homem Mosca", nasceu justamente da caracterização de seu personagem mais popular chamado de "O Garoto", que foi composto como um misto de sujeito caipira, idealizador, ingênuo, mas, sobretudo, de extrema força de vontade, esperança e esperteza. Isso tudo é claro somado a altas doses de azar e mais ainda de confusões que engendram o modo desajeitado e repleto de atos desastrados desta personagem.
Tal personagem foi cunhado então encima de um semblante fácil que o imortalizaria também dentro do gênero: Lloyd seria um sujeito do interior, que de lá partiria para a cidade, para vencer naquela, através de um ideal de vencer na vida, representando com toda graça e infortúnios que poderia existir, a vida e os sonhos de inúmeros jovens do campo que seguiam o mesmo caminho em suas trajetórias.
Assim por exemplo nos é apresentado "O Garoto" em sua obra mais conhecida chamada "Safety Last", de 1923, que em português foi traduzida justamente a partir de seu apelido, sendo então denominada de "O Homem Mosca".
Capa de Safety Last, 1923.
A partir desta obra, podemos perceber além de toda a magnitude de Lloyd, também o tipo ideal da personagem, que se caracterizaria justamente por uma absurda habilidade física e por uma capacidade enorme de resolver por sua sagacidade, a inúmeras situações conflitantes do dia a dia. Desta maneira, muito inspirado no Live Action Comedy ou no gênero Vaudeville incorporado nas obras de Buster Keaton, Lloyd também desenvolve um personagem muito rápido, sagaz e acima de tudo flexível.
Também não poderia deixar de ressaltar justamente o que torna Lloyd mais cômico e até de certa forma um fato que sendo de sua autoria nos apresenta uma inovação: Seu personagem pode ser entendido como um certo adolescente ou até no maximo um jovem saindo desta fase. Se as personagens de Chaplin e Keaton são também jovens, mas podem ser considerados adultos mais maduros, a personagem central de Lloyd, por seu físico, por suas vestimentas e principalmente pelos espaços apresentados durante seus filmes e por seus sonhos, podemos apontá-lo como um adolescente.
Não obstante, Lloyd recria inúmeras situações que vão desde a entrada do jovem na faculdade retratada no filme "O Calouro" de 1925, como também a outros momentos que demonstram sua pouca idade a qual aparece na película intitulada "O Caçula" de 1927.
Lloyd praticando Futebol Americano na Universidade retratada no filme "O Calouro" de 1925.
Marcado por seu rosto adolescente, quase que ligeiramente quadrado, com seu óculos característico e seu chapéu de feltro, a personagem de Lloyd torna-se então símbolo de um verdadeiro ideal americano de outrora que representava a vontade nata de vencer na vida a qualquer custa, passando por cima de quaisquer desafios que porventura estivessem a prova, colocando-o até em sérios riscos de vida.
Lloyd: Um desajeitado jovem sonhador.
Por conseguinte durante a execução de "Safety Last", o jovem destrambelhado e desajeitado que saído do interior para vencer a vida na cidade, procurando enricar para assim pedir a mão de sua amada noiva, acaba por se meter em variadas confusões, ao passo que nos é dado o momento épico de sua transformação em Homem Mosca durante o desenlace final da obra, que por aqui não fiz questão de detalhar justamente para não tirar-lhes o gosto e a vontade de acertá-la.
Lloyd em uma das cenas mais clássicas e formidáveis da história do Cinema, acaba então escalando um prédio comercial até o seu ultimo andar, até que acaba pendurado em um relógio. A Cena é absurdamente hilária, e como tantas outras no decorrer deste filme e de outros, acabou por imortalizar esta figura tão simples e ao mesmo tempo cômica na história do Cinema.
Lloyd pendurado no Rélogio: O Momento mais cômico da Obra.
Por assim dizer, Harold Lloyd apresentava um alter ego sonhador, típica de qualquer jovem de ontem e de hoje, que diante de seus sonhos muitas vezes se mete em enrascadas, mas que persistindo no sonho, prefere tentar ainda que não saiba os riscos imediatos, a desistir.
Enfim, esta postagem segue a titulo de menção a mais uma grande personalidade da Comédia mundial e também obviamente do Cinema em toda a sua extensão. Quem ainda não viu suas obras, não se desespere, pois ainda é tempo, e seus filmes podem ser encontrados até com certa facilidade. Sugiro a todos que assistam primeiramente a Safety Last ou como já referido como seu titulo de tradução, ao filme quase biográfico da personagem, O Homem Mosca.
Daí por diante, a diversão e os sorrisos são mais do que garantia. Podem confiar!
Chover no molhado. Foi à primeira expressão que me veio à mente quando em resoluto decidi que não iria levar a diante essa postagem. Sim porque escrever sobre uma personalidade cômica de reconhecimento tão acentuado em todo o mundo, e em especial na América Latina, poderia se tornar mais um exercício de repetição, contudo, deixando esses entraves de ordem especulativa de lado, eis que decidi trazer a tona apenas um comentário sobre Roberto Gomez Bolanos e sua importância artístico-histórica para o cenário latino-americano.
Não se trata de alçá-lo de um comentário tão profundo sobre suas qualidades, inovações ou sobre suas principais obras que são tão reconhecidas e identificadas no seio do nosso imaginário que seria totalmente desnecessário efetuar por aqui tais observações. Atenho-me apenas, repito, aos aspectos mais sutis de toda a sua trajetória, dando destaque as suas influências e sobre como Bolanos sobre inteligentemente torna-se um cômico que refletia as realidades sociais da nossa América mais pobre, com toques de doçura e de extrema realidade, em seus mais conhecidos trabalhos.
Há um ditado que diz: “Todo palhaço sempre chora antes de dormir”. Talvez por isso, os grandes gênios da comédia de toda a nossa história, souberam converter realidades sociais absurdas que mais se assemelhavam a grandes tragicomédias da vida real, sabendo daí transformar toda a dureza em um grande conjunto de obras, de alter egos, enfim, uma produção artística incomensurável que ao mesmo tempo torna-se de singela delicadeza cômica, como também traz a tona praticamente aspectos autobiográficos muito marcantes e fortes.
"Todo Palhaço chora antes de Dormir"
Exemplos disso não faltam, e claro que não se trata de uma regra geral, mas é quase impossível não levar em conta que os grandes vultos da comédia mundial se encaixam ou se encaixaram perfeitamente neste modelo.
Afinal, todo mundo conhece um Charles Chaplin das telinhas do Cinema que projetou em seu alter ego mais famoso, a personagem Carlitos, retratos ao mesmo tempo cômicos e mais ainda autobiográficos de sua infância conturbada, onde teve de sobreviver às duras penas, órfão de pai, e filho de uma mãe com problemas mentais. Ora, até que ponto Carlitos não é o proprio Chaplin sorrindo para as suas desgraças do passado?
Carlitos ou Charles Chaplin: Real ou Fantasia?
Em seu filme “O Garoto” de 1921, ele nos conta a história do vagabundo Carlitos, tentando tomar conta de uma criança órfã encontrada nas ruas. Sempre o tema do abandono e do “ser órfão” aparecia nas películas de Chaplin. Ele soube superar através de seu talento maximo, e alcançou um patamar que na minha opinião o eleva ao maior gênio da história da humanidade. Bom, Chaplin é Chaplin, não há o que discutir.
Carlitos e o Garoto
De igual maneira sobreveio o talento de Buster Keaton, filho de uma família de trapezistas e comediantes do circo de comédias de variedades ou o chamado “Vaudeville”, que soube vencer uma infância atribulada com relação às crises de seu pai, para alçar vôos mais altos.
Buster Keaton: Também uma Infância muito dificil.
Procurando em nossa realidade, eu vos cito o grande Sebastião Bernardes de Souza Prata. Quem seria? O nosso genial e sublime Grande Otelo. Nasceu negro em um momento em que a sociedade brasileira ainda exprimia doses diretas de preconceito e onde a inclusão artística também se tornava difícil, tivera desde o berço uma infância trágica. Seu pai, quando este era ainda criança, morreu esfaqueado, e sua mãe era alcoólatra. Grande Otelo sobrevivia fazendo comédias e gracinhas nos barzinhos e nas gafieiras do Rio de Janeiro. Desse pano sombrio sobreveio talvez o maior artista de nossa história, reconhecido em todo mundo, a ponto de ter sido convidado pelo aclamado Orson Welles em 1942 para participar do filme “Its all true”. Seus personagens também refletiam traços autobiográficos como malandros de gafieiras tomados pelo alcoolismo e pela melancolia.
Grande Otelo: Orson Welles veio conhecê-lo.
Enfim, eu poderia ficar aqui eternamente falando sobre cada uma destas personagens, o que nos tomaria o maior tempo do mundo, e também acaba por ser injusto, ficar um ou outro de fora, o que obviamente aqui não me ocorreu à intenção. Dentre vários, quisera citar alguns exemplos que me pularam à mente em instantâneo momento.
Mas sim, não são os únicos, são apenas uma parcela reduzida de uma lista enorme a ser um dia, e desejo assim, ser comentada.
Não obstante, a pobreza e as mazelas da infância tornam-se uma realidade tanto na Europa, no Brasil, como também em outras regiões marcadas tão duramente pelo fenômeno como podemos imaginar. O México é uma delas. Estereótipos a parte qual a imagem mental que refletimos ao pensar esta nação? Com certeza a conquista brasileira do tricampeonato mundial do Mundo em 1970, mas também e mais ainda considero a elevação de um grupo de comediantes que acabaram por se tornar símbolos da infância de todos, e aqui ainda continuam emergindo nas nossas mentes, como que marcados por uma química eterna, que não se desfaz e que continua irradiando emoção e alegria para nossos filhos, netos e assim por diante. A pergunta afinal é :Qual o segredo da trupe de comediantes comandada por Roberto Gomez Bolanos? Talvez o maior segredo, é não ter segredos. A Simplicidade quando abarca um talento puro traz a tona o sucesso. É dessa premissa que eu me pergunto qual foi o grande “toque real” de um sujeito baixinho, que media menos de 160m, chamado Roberto Gomez Bolanos, para emplacar por mais de 30 anos um sucesso tão forte e mundialmente conhecido como são suas series de comédia?
Bolanos: Um Baixinho de enorme talento.
Obviamente que todo este sucesso não nasceu sozinho, teve participação direta de outros gênios da comédia mexicana como Ramon Valdez e Carlos Villagran, mas toda a emergência do conjunto acaba nos levando a sorrir e procurar entender este baixinho mexicano, que de tão inteligente e de tal forma talentoso, passou a ser chamado por seus próximos de “Pequeno Shakespeare”, devido a sua capacidade de escrever roteiros de séries, filmes, comédias, com extrema facilidade e acima de tudo qualidade.
“El Chavo”. Seu maior sucesso. Esta expressão significa “O Garoto ou O Moleque”, e era assim como o nosso querido personagem Chaves era apresentado na sua nação natal: “El Chavo del Ocho”. Exibido inicialmente a partir de 1970, a serie “El Chavo” até hoje atinge índices exorbitantes de lares e fãs em todo mundo, sendo imediatamente um recorde a ser reconhecido, pois se trata de uma serie cômica de pequenos investimentos, datada de quarenta anos atrás, e oriundos de um mercado pouco reconhecido, como é o mexicano.
Mas Chaves continua mais do que nunca na ativa. Mais realista, mais autentico e contemporâneo do podemos imaginar. Por que esta obra não perde sua credibilidade, originalidade ou até sua graça?
Ora, porque ao assistirmos Chaves nós nos encontramos diariamente com nada menos do que nossas realidades, ou pelo menos, ao que se encontra ao nosso redor. Chaves é um garoto órfão, mendigo que vive dentro de um barril, e que diante de suas atrapalhadas do dia a dia, mendiga o pão de cada dia para sustentar sua fome, dentro de uma realidade, de um ambiente que também nada se diferencia dos primórdios de uma favela, que é a Vila onde todos moram.
Chaves em sua Moradia: Um Barril
Ainda nessa sobrevivência atordoada, Chaves nos dá inúmeras lições de moral, obviamente que adocicadas, mas que nem por isso não nos emocionam, ou quem nunca ficou ao menos sensibilizado com os pedidos de comida de chaves, ou quando este foi acusado de ladrão, ou mais ainda quando em um episodio épico, este morrendo de fome, se recusa de comer, oferecendo seu pão ao também de situação critica, um senhor desempregado, que não paga seu aluguel em dia, carrancudo mas que no fundo é de coração puro, chamado seu Madruga?
Chaves e seu Madruga: Um Companheirismo baseado em Amor e Odio.
Pode parecer clichê, mas não é, e é justamente desse tipo de criação direta e ao mesmo tempo doce e que como pano de fundo sempre traz um sentido de esperança e que tudo pode mudar, que enlaça todo o sucesso da serie Chaves e o carinho que todos sentimos por ela. Afinal, temos ou não um retrato tão direto e incisivo das nossas realidades?
Pobreza, desemprego, mazelas, abandono... criatividade na arte de sobreviver, esperança por um dia melhor.
É por isso que Chaves fez e faz tanto sucesso em toda a América Latina, não só o Brasil, como também no Peru, Colômbia, Venezuela e etc. Pois somos todos uma grande nação envolta basicamente nos mesmos problemas sociais, uns mais fortes e mais marcantes, e outros menores, mas todos com a mesma raiz e a mesma situação.
Periferia: Um Quadro social.
A parte este contexto social, Roberto Gomes Bolanos é um sujeito de extrema inteligência que se torna evidente ainda que seus programas de comédia tenham sido evidentemente de investimentos mais limitados.
Grande gênio idolatrado no México, sua inspiração artística retoma ao seu grande ídolo que foi Charles Chaplin, como também aos outros gênios da comédia onde visivelmente podemos perceber influências, como o proprio Buster Keaton como também Harold Lloyd. Uma comédia sutil, doce, também de variedades, com um palco moral e social maior até do que podemos supor.
Em alguns episódios de sua segunda obra tão conhecida quanto foi Chaves, intitulada “Chapolin”, Bolanos nos leva a um anti-herói mítico, medroso e covarde, mas de coração puro. Em boa parte dos episódios, demonstrando sua capacidade intelectual, as histórias nos levam a grandes fatos históricos como a relação entre Cleópatra e Julio Cesar, como também a grandes lendas da literatura mundial como "Romeu e Julieta", do proprio Shakespeare, "Guilherme e Tell", e também o clássico "Branca de Neve", demonstrando como Bolanos era um artista imensamente versado e fazia por merecer seu titulo de “Pequeno Shakespeare”, de onde vem o termo Chespirito.
Chapolin: Bolanos em uma Satira a Hitler.
Sendo assim, eu encerro por aqui este breve comentário, mais uma vez homenageando da minha parte a um grande comediante, que já não precisa mais ser condecorado, mas que ainda assim não poderia também deixar de estar no hall dos grandes gênios da comédia, tal qual aquele garoto órfão inglês, cujo Bolanos era maior admirador, e que a partir deste, eu encerro a postagem, com uma homenagem do mesmo Bolanos ao grande Chaplin.
" Todo Palhaço chora antes de dormir.."
Mas sempre faz sorrir.
Ass: Rafael Costa Prata Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe.