Com certeza, o mexicano
Roberto Gomez Bolaños foi – e continua a ser – um dos maiores comediantes de
todos os tempos. Seu talento ia muito além da interpretação cômica, passando
principalmente pela construção de personagens que muitas vezes traziam consigo
uma verdadeira crítica social, política, ou de outra ordem.
Em Chapolin, um de seus mais famosos seriados televisivos, na qual
interpreta um desastrado e frágil herói que na ausência do necessário dote
físico ou de “poderes mágicos” oferece apenas a boa vontade e a solidariedade
como instrumento de ajuda, Bolaños nos apresentou um outro personagem caricato
de natureza crítica bastante interessante: o SuperSam, interpretado pelo
magistral Ramon Valdez.
O SuperSam se
apresenta, visível por sua vestimenta, como uma clara mistura entre a figura do
Tio Sam, o símbolo histórico dos Estados Unidos, e o Superman, o herói clássico
dos quadrinhos que não deixa de ser uma outra personificação do país.
O SuperSam: uma clara mescla entre o TioSam e o Superman |
Mas o que se torna mais
interessante nessa sátira é o seu conteúdo. O SuperSam que não é uma figura
constante nos episódios, aparece em poucos episódios, sempre dotado de uma
clara crítica a política externa norte-americana.
Isso porque, nos poucos
episódios em que ele aparece, isso se dá quando alguém em perigo ao convocar o
Chapolin com os dizeres clássicos de chamamento “Ohh, e agora quem poderá nos
defender?!”, quem aparece é o SuperSam, de maneira “intrometida”, sem ter sido
chamado, ou seja, perpassa claramente uma crítica ao típico intervencionismo
americano, característica esta que sempre impulsionou os Estados Unidos a se “intrometerem”,
intervindo nos mais variados assuntos de outros países, conforme a manutenção
de seus interesses políticos e econômicos.
O SuperSam sempre "intervindo" no ambiente do Chapolin |
O SuperSam não é mais
do que uma sátira inteligente e certeira sobre essa mais do que reconhecida
característica norte-americana. Um outro fator que corrobora na construção
dessa crítica se dá na já dita vestimenta da personagem: além da roupa que
mescla o TioSam com o Superman, o personagem possui como arma, uma grande
sacola de dinheiro com “$”, a qual quando utiliza para bater emite o som característico de uma maquina registradora, e o personagem em questão,
alegremente reproduz a frase: “Time is Money”, ou seja, “Tempo é dinheiro”,
numa outra clara alusão ao pragmatismo da política externa americana, quase sempre
visando um ganho capital, em detrimento de qualquer valor moral.
Assim, nos próprios
episódios em que o “SuperSam” aparece, Bolaños procura deixar claro a sua
crítica a esse intervencionismo americano. No primeiro episódio em que esse
personagem aparece, a questão já fica bastante claro na exposição do título do
episódio Livrai-nos dos metidos, Senhor!.
Em
outro episódio intitulado “História de uma mina abandonada prestes a desabar, a personagem de Florinda Meza ao convocar o Chapolin em uma situação de apuro, acaba tendo que lidar com o SuperSam, que aparece para "socorre-la". O curioso nesse episódio é que quando ele aparece, passa a tocar a canção Yanke Doodle, uma canção símbolo dos Estados Unidos.
SuperSam e sua "arma": uma sacola de dinheiro |
Enfim,
em alguns outros episódios, a figura do SuperSam é recorrente sempre
apresentado da mesma maneira: quando alguém em perigo chama pelo Chapolin, este
aparecerá de maneira intrometida, causando a insatisfação do próprio Chapolin,
que tem seu “ambiente” invadido.
Fica visto então que,
por meio dessa curiosa e inteligente sátira, o genial Roberto Gomez Bolaños,
apresentou a sua crítica a esta tão arraigada política externa norte-americana,
e sendo Bolaños um mexicano, sabia muito bem o que era contar com a quase
sempre “influência” desse eterno vizinho chato.
Ass: Rafael Costa Prata
Mestrando em História
pela Universidade Federal de Sergipe
Conteúdo extremamente interessante, que ainda não havia lido em nenhum site da internet. Me ajudou muito, já que tenho uma pagina de fãs, no Instagram, dedicada ao Super Sam do Chapolin Colorado. Meus agradecimentos.
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