Lá fora, seu
personagem mais conhecido é traduzido como “Coffin Joe”, sendo seu criador uma
figura bastante reverenciada em solos americanos pelos amantes do gênero terror.
Sim, é o nosso clássico Zé do Caixão, alter-ego cinematográfico de José Mojica
Marins, um abnegado ator, roteirista e cineasta brasileiro que passou a
produzir películas de terror nos nossos anos 1960, algo bastante raro a época.
Nascido em São Paulo
no dia 13 de março de 1936, desde cedo Mojica mostraria o seu interesse pelo
cinema: seu pai havia trabalhado como projetor em uma sala de Cinema, e logo
após um certo tempo, acabou sendo premiado, se tornando o gerente do Cinema
local. Mojica sempre o acompanharia em seu ofício, travando assim os primeiros
contatos com o cinema.
Aos 12 anos de idade,
ganharia de seu pai uma câmera V-8. Ali ensaiaria os seus primeiros curtas,
suas primeiras ideias já na infância. Com 17 anos, fundara com seus amigos uma
amadora companhia de interpretação para atores, intitulada Companhia
Cinematográfica Atlas, voltada sobretudo para a composição de personagens de
terror, haja vista o seu fanatismo pelo gênero, testando inclusive a coragem
dos atores amadores na lide com insetos, algo que inclusive se tornaria sua
marca em seus mais conhecidos filmes.
Todavia, antes de
entrar no mundo do terror, Mojica participaria de uma série de películas de
outros gêneros. Em 1958, produzira a película “A Sina do Aventureiro”, um
verdadeiro western nacional, e em 1962 a película “Meu destino em suas mãos”,
dentre outros filmes. Mas, não tardaria que Mojica definitivamente iniciasse
sua carreira naquele gênero que o tornaria um mito.
Em 1963, colocando em
prática tudo aquilo que havia sonhado, todo aquele treinamento com insetos, e
toda a sua influência, seu fanatismo frente a figura de Drácula, produziu então
a película “À meia noite levarei sua alma”, apresentando assim o seu clássico
personagem, o nosso Josefel Zanatas, ou melhor, o Zé do Caixão.
A história do
famigerado e sádico Zé do Caixão que obcecado na busca pela “Mulher perfeita”
com a qual teria seu herdeiro marcou o Cinema nacional nos anos 1960, tendo
tido por conta de seu sucesso, uma série de continuações. Três anos depois, em
1966, viria “Esta Noite encarnarei no teu cadáver”, em 1974 a película “Exorcismo
Negro” e em 1981 ao filme “A Encarnação do demônio” que teria um remake
produzido em 2008 com o mesmo título.
O sádico Josefel Zanatas, o Zé do Caixão |
No entanto, Mojica
produziria outras películas de terror que não contaram com a participação de Zé
do Caixão. São os casos de “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1967), “Trilogia
do Terror” (1968), “O Despertar da Besta”(1969), “Inferno carnal” (1976), “Delírios
de um anormal” (1977), dentre outros tantos. Mojica também participaria da
produção de uma série de películas de pornochanchada no decorrer dos anos 1970,
um gênero de enorme sucesso a época no cinema nacional.
Aranhas, uma das marcas de Zé do Caixão |
Mas foi a sua figura
como Josefel Zanatas, o Zé do Caixão, que o projetaria como ícone do nosso
cinema. Mojica foi – e continua a ser- um dos sujeitos mais ousados da história
do nosso cinema. Pensar um filme de terror nos anos 1960 no Brasil traduz todo
o teor dessa sua ousadia. Pensar e por em prática. Aranhas caminhando por
pessoas amarradas, cemitérios, personagens sádicos, erotismo velado, todas
estas questões marcam o cinema de autoria de José Mojica Marins, um grandíssimo cineasta que talvez seja mais reverenciado em solo estrangeiro do que em nosso
país.
Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade
Federal de Sergipe