Durante
as segundas feiras de março de 2013, será realizado o curso de extensão “A Idade Média de Mario Monicelli: A Saga de
Brancaleone” no Departamento de História da Universidade Federal de
Sergipe, sob a coordenação do Prof. Msc. Bruno Gonçalves Alvaro.
Uma ótima oportunidade para conhecer um
pouco mais da filmografia desse genial cineasta italiano, e de outro modo,
perceber também como suas películas podem servir como bons instrumentos
didáticos, na construção do ensino em sala de aula.
No caso do curso que será ministrado,
em destaque aparecerão às películas “O Incrível Exercito de Brancaleone” (1968)
e “Brancaleone nas Cruzadas” (1970), no intuito de compreender, entre outras
questões, o modo como a Idade Média é representada por Monicelli nas películas
em questão.
Os dois filmes em questão são
considerados os maiores sucessos de critica deste cineasta de longuíssima
contribuição e produtividade para o Cinema italiano, em destaque, as produções
pertencentes à chamada “comedia a italiana”, na qual é considerado o maior
realizador.
Nascido em maio de 1915, em Roma, Mario
Monicelli frequentou o Liceu Clássico Giosué Carducci durante a sua
adolescência, formando-se em História e Filosofia por aquela instituição. Foi
durante este período de ensino, portanto, que Monicelli tivera a chance de
entrar em contato com inúmeras obras, em grande parte clássicos da literatura
medieval e renascentista italiana, na qual vai “beber” a inspiração que dará
corpo a inúmeras de suas películas, em especial a sua visão de Medievo contida
nos filmes “Brancaleone”.
A “Commedia all italiana”, a qual
pertencia Monicelli, se caracterizava por ser um gênero fílmico cujas películas
procuravam satirizar através da comedia, a realidade italiana do pós – guerra.
Desviando o olhar para a ascensão de uma burguesia italiana no pós – 1945, os
filmes passam a refletir sobre os anseios, os medos e as decepções de uma
sociedade italiana que procurava entrar nos caminhos da reconstrução, com certo
medo de olhar ao seu passado recente.
Mario Monicelli foi um deles. No
decorrer dos anos 1950, a década de suas ascensão como cineasta, passa a
produzir e dirigir películas com esse tipo de reflexão. Sua película “La Grande
Guerra”, de 1959, é paradigmática nesse sentido; nesta, Monicelli entrega a sua
visão sobre aquele evento bélico que devastou o mundo. O Resultado obtido foi à
aclamação da crítica, o que lhe rendeu o Leão de Ouro do Festival Internacional
de Veneza, e uma indicação ao Oscar como melhor filme estrangeiro.
Em toda a sua carreira, Monicelli
procurou trabalhar sempre com um panteão de grandíssimos atores e atrizes, uma
espécie de seleção a quem sempre recorria na produção de suas películas; em
destaque, atrizes como Sophia Loren e atores como Marcello Mastroianni e
Vittorio Gassman ( imortalizado como o protagonista Brancaleone), este último
talvez, o maior companheiro de Monicelli em suas empreitadas.
Em 1963, Monicelli lança uma obra
dramática que lhe renderia no mesmo ano à indicação de melhor roteiro original
no que tange ao Oscar; Em “Os Companheiros”, o cineasta nos conta a história de
um professor – interpretado por Marcello Mastroianni – que passa a liderar um
grupo de funcionários de uma empresa têxtil do século XIX frente a uma revolução,
a fim de obter melhores condições de trabalho.
Entretanto, os anos 1960 foi
indubitavelmente marcado pela apresentação, no ano de 1966, de sua surreal
película “O Incrível Exercito de
Brancaleone” que surpreendeu a todos não somente pela ousadia temática, mas
como também qualidade artística e de reflexão histórica imposta ao filme.
O Sucesso do primeiro garantiu além de
uma enormidade de criticas positivas, a oportunidade a Monicelli da produção de
uma segunda película em continuidade, chamada “Brancaleone nas Cruzadas”, produzida em 1970.
Através de uma “Idade Média
Fantasiada”, Monicelli nos leva a saga do esfarrapado cavaleiro Brancaleone da
Norccia em busca da gloria, de façanhas, em aventuras que se passam em um
período de cruzadas, de querelas entre papas, de torneios entre cavaleiros, no
furor da peste negra, e etc.
O Resultado obtido é fantástico, pois
além de discutir com bastante propriedade uma serie de estruturas medievais –
como o sentido da honra para os cavaleiros medievais, a virgindade para as
mulheres, as brigas entre o papado na Idade Média Central – através de sátiras,
caricaturas, a película consegue também de outro modo, refletir sobre a
realidade italiana – e porque não dizer mundial – do pós-guerra.
Um exemplo nesse sentido, conforme Giulia
Crippa, pode ser encontrado no papel do mercador judeu Abacuc. Personagem do
primeiro filme, Abacuc, construído como um avido judeu, a personagem acaba por
falecer por conta de uma intolerância religiosa. Ao passar por uma ponte, Abacuc
encontra um missionário cristão que o obriga a se batizar naquele rio. O
Resultado: Abacuc é batizado, mas acaba falecendo por conta de uma gripe
contraída no mergulho.
Uma situação que encontra respaldo num
passado recente: a intolerância em tempos de guerra; os nefastos campos de
concentração, o holocausto judaico. Daí que, como qualquer outra película,
estas apresentam a grande riqueza de tanto falarem de um passado histórico como
também do presente em curso. Com certeza, eis a grande riqueza do Cinema, sua
dimensão nestes dois sentidos.
Enfim, Monicelli se aventuraria
novamente dentro de um “espaço medieval” em outra película chamada “Bertoldo,
Bertoldino e Cacasenno”. Em mais de 50 anos de carreira, este cineasta deixou
uma enormidade de películas de grande valor artístico e histórico.
Infelizmente, encontrou a morte em uma situação que contraria a sua vida de
“produtor de sorrisos”; após desenvolver um câncer de próstata, Mario Monicelli
foi internado no Hospital San Giovanni em Roma, onde faleceu em novembro de
2010, aos 95 anos, ao pular da janela do quarto andar, por não aguentar mais os
sofrimentos e as limitações impostas pela doença.
Foi-se o corpo, mas o riso continua
sacralizado em suas obras. Branca Branca Branca! Leone! Leone! Leone! Viva Monicelli! E não se esqueçam! Em Março de 2013! Curso de Extensão " A Idade Média de Mario Monicelli: A Saga de Brancaleone" no Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe
Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe
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