Certamente, um dos grandes momentos da vasta
carreira de Sidney Poitier foi a sua interpretação na película “Ao Mestre com
Carinho”. Este filme dirigido por James
Clavell no ano de 1966, conta a história de um abnegado professor que se recusa
a desistir de seu maior sonho: transformar a vida de estudantes de uma escola
da periferia. Enfrentando de frente as barreiras e os problemas impostos por
aquela difícil realidade, lentamente vai galgando espaços nos corações dos
alunos, e ao fim, consegue atingir seus propósitos.
Trata-se então de um belíssimo filme
que até hoje emociona aqueles que procuram assisti-lo. A atuação de Poitier é
incomensurável, a sua capacidade de entrega ao personagem é absurda, conferindo
um caráter de esperança e amor ao personagem como poucos conseguiriam.
Mas o que poucos sabem é que, para
estar ali, naquele ano de 1966, interpretando uma personagem principal de um
grande filme, Sidney Poitier teve de percorrer um caminho árduo, cheio de
barreiras, aonde teve de enfrentar obviamente o maior entrave da época: o
preconceito racial.
Nascido em 20 de fevereiro de 1927
em Miami, Estados Unidos, Poitier ingressou no Cinema no inicio dos anos 1950,
quando passa a participar de películas de pequeno orçamento, com papeis de
pouco destaque. Mas prontamente seu talento será reconhecido: no final dos anos
1950, o ator passa a ser chamado para participar de películas com problemáticas
raciais, e nesse sentido, a película “Acorrentados” do ano de 1958, se
apresenta como um marco divisor na vida do ator até então com 31 anos de idade.
Nesta, Poitier atua com o também grande
ator Tony Curtis, para dar corpo a um filme que trabalha justamente o choque
imposto pelo preconceito racial. Ao retratar a vida de dois fugitivos que estão
acorrentados um ao outro, trabalha-se durante todo o filme, um discurso que
procura refletir justamente o preconceito em questão.
Com esse filme, Poitier foi indicado
ao Oscar de melhor ator, mas não ganhou. O que não tardaria. Em 1963, Poitier é
convidado a participar da película “Uma Voz nas sombras”, onde interpreta um
desempregado que passa a trabalhar de graça em uma Igreja, a fim de reparar
seus defeitos, morais e arquitetônicos. Com esse filme, Poitier é indicado ao
Oscar, e ao ganhar o premio, torna-se o primeiro ator negro a conquistar uma
estatueta na História.
Com certeza Poitier não foi o
primeiro grande ator negro. Outros tantos poderiam ter obtido essa honraria,
mas as barreiras impostas pelo preconceito acabaram impedindo a concretude
dessa questão. Mas Poitier conseguira ultrapassar essas barreiras, simbolizando
toda uma luta.
Dai que, quando Poitier é convidado
a interpretar o professor em “Ao Mestre com Carinho”, ele já era um aclamado
ator em Hollywood. Suas películas seguintes também se destacam por trazer a
tona novamente, questões de ordem racial. Nesse sentido vale-se destacar, entre
tantas, duas em especial: “No Calor da Noite” e “Adivinhe quem vem para
jantar”, ambas do ano de 1967.
Na primeira, Poitier interpreta a um
detetive que ao investigar um caso, não consegue levar adiante suas
investigações, por conta da população racista da cidade que se recusa a prestar
informações. No segundo filme, esse de maior destaque, um grande clássico,
diga-se de passagem, Poitier interpreta um renomado doutor que se apaixona por
uma jovem branca interpretada por Katherine Hepburn. Prontos a se casarem, a jovem
o convida então para conhecer sua família em São Francisco, onde, ao chegar, o
médico sofrerá todo tipo de preconceito possível por parte dos familiares de
sua noiva.
Enfim, muitas outras películas e
atuações de destaque desse grandíssimo ator poderiam ser citadas; após tanto
tempo de talento cedido ao mundo do Cinema, Poitier ainda foi aclamado
novamente no ano de 2002, quando se tornou o primeiro ator negro a ganhar um
Oscar honorário pelo conjunto de sua obra, para o deleite de todo um público,
em especial, o também grande ator Denzel Washington, que teve a oportunidade de
entregar a seu ídolo, esse premio.
Um grandíssimo ator de talento
inquestionável. Sua aclamação dentro do cenário cinematográfico representa mais
do que a vitória solitária de um ser, mas sim a abertura para todo um grupo;
Poitier representa de certa forma, uma obstinada busca pela quebra desse
ignóbil preconceito que continua a impor barreiras, obstáculos, na vida das
pessoas.
Poitier sabendo vencê-las deu
um enorme exemplo. Assim como ele, outros tantos tiveram em quem se mirar. Denzel
Washington faz questão de assumir em público essa questão. Amanhã quem sabe
outros se inspirarão em Denzel, e sonhemos que um dia, não precisemos
necessitar de inspirações, em um mundo marcado por uma igualdade de condições e
de não – existência de preconceitos.
Ps: Segue o vídeo em que Denzel Washington entrega o Oscar Honorário pelo conjunto da obra a Sidney Poitier em 2002.
Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe
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