“Lá eles fazem muita
festa”. É o país do futebol e das mulheres com biquínis curtíssimos. Carnaval. Tem a violência também que é muito grande. Mas
ainda assim é um país de pessoas felizes e gentis. Pelé. Carmen Miranda é do
Brasil?! Serio?! Vez ou outra o tema da visão do Brasil pelos estrangeiros
reaparece, e muitas são as reações.
Tem quem se exalte
com os estrangeiros por considerar que aqueles nutram uma visão estereotipada
sobre o país, e tem aqueles que, ainda que se exaltem com essa mesma visão, percebem
que, ainda que seja um preconceito externo, muito dessa visão também foi
construída internamente.
Enfim, foi procurando
discutir esta questão em relação ao Cinema que a cineasta Lucia Murat produziu
o documentário “O Olhar Estrangeiro”
(2006) baseado no livro “O Brasil dos gringos: Imagem e Cinema” escrito pelo
Professor de Cinema da Universidade Federal Fluminense, Tunico Amâncio.
Neste interessantíssimo documentário de pouco mais
que uma hora, somos levados a uma serie de depoimentos proferidos por renomados diretores, atores e cineastas
estrangeiros, como os grandes atores Michel Caine e Jon Voight, que
participaram de produções realizadas nessas terras, e que por isso, apresentam
suas visões em torno de nosso país.
O documentário
perpassa uma serie de filmes mais antigos e outros mais recentes para desnudar
a complexa “representação” do Brasil pelo Cinema estrangeiro. Passando por
renomados filmes como “O Homem do Rio” (1962) de Phillipe de Brocca, até
popularescos recentes como Anaconda (1997) e Lambada (1990), Lucia Murat
apresenta todo esse quadro estereotipado e “místico” em torno de nosso país, em
alguns dos filmes citados como o “paraíso” por conta da beleza natural, das
mulheres, e por outros, como um local inóspito.
Uma serie de estereótipos é discutido em todo
o documentário, como por exemplo a ideia do Brasil como um “paraíso da
sensualidade”, bem representado, por exemplo, na película “O Feitiço do Rio” de
1984. Neste estereótipo, o Brasil na verdade é visto como o local das moças
bonitas, dos biquínis, dos top less, e sobretudo, das belas praias.
Aliás, um aspecto
interessante que o documentário aborda é que na verdade a representação
caricata do Brasil é na verdade uma versão mais caricata ainda do Rio de
Janeiro. O suposto Brasil representado tem suas locações sobretudo no Rio de
Janeiro, e em alguns casos em Salvador, entretanto, em ambos os casos, a
representação é obviamente bem caricata desses próprios lugares: O Rio de
Janeiro é praia, bebida e mulheres peladas, e a Bahia é o misticismo, a
religião.
Um caso bastante curioso da “representação
tupiniquim” feita pelo filmes é demonstrado na película “Lambada – a dança
proibida”(1990) do diretor Greydon Clark.
A Película narra a história de uma “princesa índia”, de cor branca, que
parte para os Estados Unidos para vencer um concurso de lambada no intuito de
demonstrar o desmatamento da Amazônia. A idéia é boa, mas o recurso é horrivel.
Além da índia branca, temos uma Amazônia repleta de índios que falam o
espanhol, e o pajé, pai da princesa índia, é um índio apache.
Enfim, este
documentário de Lucia Murat é riquíssimo para compreender não somente a visão
de alguns sobre o nosso país, mas sim uma visão que se estende a muitos, haja
vista que o Cinema não deixa de ser um reprodutor de uma visão secular.
Ass: Rafael Costa
Prata
Graduado em História
na Universidade Federal de Sergipe
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