terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A “Mammy”: um dos mais fortes estereótipos racistas na história do Cinema

premiarão da grande atriz Hattie MacDaniel no Oscar de 1940 como melhor atriz coadjuvante por sua atuação em “ E o vento levou” (1939) fez emergir uma grande contradição: ao ganhar a estatueta, Hattie se tornar a primeira artista afro – americano a ganhar a honraria, entretanto, o papel a que foi destinada se apresenta, e se apresentava a época, como um dos grandes estereótipos raciais.
Hattie, que não tinha obviamente culpa disso, deu papel a “Mammy”, uma ex – escrava, que após o fim da escravidão nos EUA, no pós – recessão, se tornara empregada domestica na casa de um fazendeiro rico, onde, além de cuidar das questões da casa, ajuda na criação dos filhos de seu patrão.
Apesar do prêmio, e dos elogios em outros tantos papeis, Hattie sempre foi alvo de ataques inclusive dos próprios órgãos de luta contra o preconceito, por muitas vezes ter aceitado o papel de domestica em muitos filmes, tanto antes, como depois de “ E o vento levou”.
Mas, como dito, o que emerge disso tudo é justamente a questão do preconceito, do estereótipo; Mammy, a ex – escrava que se torna uma “Boa criada”, uma espécie de ama de leite ou, é um dos mais fortes estereótipos raciais da história, que se refletiria é claro em vários meios, como o Cinema e a Literatura.
Portanto, por trás da construção da graça e do carinho que envolve o estereótipo da “Mammy” está um arraigado preconceito incidente sobre os negros. A “mammy” é quase sempre reproduzida então como uma ex – escrava, “transformada” em domestica no pós – abolição, que convive em “harmonia” com seus antigos donos, como se as dores e cicatrizes de outrora fossem inexistentes.

Aqui em nosso país, com certeza, a imagem mais forte e significativa em nossa cultura desse estereótipo está na construção da personagem literária “Tia Nastácia”, depois transposta para as telas da TV, no clássico literário “O Sítio do Picapau amarelo” do escritor Monteiro Lobato. Tia Nastácia é construída como uma subserviente – e gordinha, sim, porque o quesito físico fazia parte fundamental do estereótipo - empregada domestica da fazenda de Dona Benta, cuja ocupação está nos afazeres da casa e nos cuidados com Pedrinho e Narizinho, novamente como uma espécie de antiga “ama do leite”.
Assim, a “Mammy” era sempre uma ex – escrava que, por mais que a escravidão tivesse terminado, continuaria a viver em função de seus patrões, como se ela própria não tivesse sua vida particular. É alguem que sofre com as agruras e sofrimentos de suas senhorinhas, mas nunca sabemos o que se passa em seu seio pessoal.

O Estereótipo da “Mammy” era tão disseminado que chega a aparecer, por exemplo, em desenhos infantis, como “Tom e Jerry”, na qual se observa a presença da “Mammy”, uma senhora obesa e negra, de identidade desconhecida, pois é quase sempre demonstrada da cintura para baixo.
A “mammy” permanece em vigor até os nossos dias. As vezes, sua imagem passa despercebida, mas de modo algum deixou de existir. Cabe a nós então percebermos que, por detrás de uma representação, as vezes há um estereótipo arraigado por um bom tempo.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

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