A premiarão da grande atriz Hattie
MacDaniel no Oscar de 1940 como melhor atriz coadjuvante por sua atuação em “ E
o vento levou” (1939) fez emergir uma grande contradição: ao ganhar a
estatueta, Hattie se tornar a primeira artista afro – americano a ganhar a
honraria, entretanto, o papel a que foi destinada se apresenta, e se
apresentava a época, como um dos grandes estereótipos raciais.
Hattie, que não tinha obviamente culpa
disso, deu papel a “Mammy”, uma ex – escrava, que após o fim da escravidão nos
EUA, no pós – recessão, se tornara empregada domestica na casa de um fazendeiro
rico, onde, além de cuidar das questões da casa, ajuda na criação dos filhos de
seu patrão.
Apesar do prêmio, e dos elogios em outros
tantos papeis, Hattie sempre foi alvo de ataques inclusive dos próprios órgãos de luta contra o preconceito, por muitas vezes ter aceitado o papel de
domestica em muitos filmes, tanto antes, como depois de “ E o vento levou”.
Mas, como dito, o que emerge disso tudo é
justamente a questão do preconceito, do estereótipo; Mammy, a ex – escrava que
se torna uma “Boa criada”, uma espécie de ama de leite ou, é um dos mais fortes
estereótipos raciais da história, que se refletiria é claro em vários meios, como
o Cinema e a Literatura.
Portanto, por trás da construção da graça e
do carinho que envolve o estereótipo da “Mammy” está um arraigado preconceito
incidente sobre os negros. A “mammy” é quase sempre reproduzida então como uma
ex – escrava, “transformada” em domestica no pós – abolição, que convive em
“harmonia” com seus antigos donos, como se as dores e cicatrizes de outrora
fossem inexistentes.
Aqui em nosso país, com certeza, a imagem
mais forte e significativa em nossa cultura desse estereótipo está na
construção da personagem literária “Tia Nastácia”, depois transposta para as
telas da TV, no clássico literário “O Sítio do Picapau amarelo” do escritor
Monteiro Lobato. Tia Nastácia é construída como uma subserviente – e gordinha,
sim, porque o quesito físico fazia parte fundamental do estereótipo - empregada
domestica da fazenda de Dona Benta, cuja ocupação está nos afazeres da casa e
nos cuidados com Pedrinho e Narizinho, novamente como uma espécie de antiga
“ama do leite”.
Assim, a “Mammy” era sempre uma ex –
escrava que, por mais que a escravidão tivesse terminado, continuaria a viver
em função de seus patrões, como se ela própria não tivesse sua vida particular.
É alguem que sofre com as agruras e sofrimentos de suas senhorinhas, mas nunca
sabemos o que se passa em seu seio pessoal.
O Estereótipo da “Mammy” era tão
disseminado que chega a aparecer, por exemplo, em desenhos infantis, como “Tom
e Jerry”, na qual se observa a presença da “Mammy”, uma senhora obesa e negra,
de identidade desconhecida, pois é quase sempre demonstrada da cintura para
baixo.
A “mammy” permanece em vigor até os nossos
dias. As vezes, sua imagem passa despercebida, mas de modo algum deixou de
existir. Cabe a nós então percebermos que, por detrás de uma representação, as
vezes há um estereótipo arraigado por um bom tempo.
Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade
Federal de Sergipe
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