The
Walking Dead. Eis o
nome de um dos seriados televisivos de maior sucesso em todo o mundo. Baseado
em uma graphic novel escrita por Robert Kirkman – e desenhada por
Tony Moore -, o seriado descreve a atuação de um grupo de sobreviventes em um
mundo pós – apocalipse, quando o planeta está inteiramente dominado por mortos –
vivos.
Além desse seriado, muitas outras
produções culturais, como livros e as citadas graphic novels sobre a temática
inundam o mercado, demonstrando como os “zumbis” estão em seu ápice, com uma
grandíssima aceitação de mercado.
Mas nem sempre foi assim. Aliás,
a história do sucesso comercial dos ditos mortos – vivos no Cinema, tem sua
origem há um bom certo tempo atrás, e com um fio condutor diferente, de viés “místico religioso”.
Nesse sentido, a primeira
película voltada a temática dos “zumbis” foi o clássico do ano de 1932, “Zumbi
Branco”, dirigido por Victor Hapelrin, e protagonizado pelo ícone do terror,
Bela Lugosi. Nessa película, assim como em outras da época e de décadas seguintes, a história do zumbi é criada sobre o ponto de vista da religião, ou
seja, partindo da ideia da “produção de zumbis” por meio da prática de voodus.
Curiosamente esse foi o fio condutor das películas até mais ou menos o final dos anos 1960, quando a
questão se altera. Mas, assim como em “Zumbi Branco”, outras películas como “A
Morta Viva” (1943) e “Epidemia de Zumbis” (1966) vão sempre utilizar a prática
de voodus na construção de seus enredos. Dessa maneira uma serie de filmes
parecidos são construídos, tomando como premissa sempre a ideia que através das
mesmas é possível conseguir a subserviência das pessoas. Bom, nesses filmes
acaba sobressaindo até uma ideia preconceituosa do Haiti, sempre descrito e
representado com ojeriza. Quem vai lá pode está correndo perigo, e quem voltou
de lá é temível.
Nessas películas, no entanto, o “zumbi”
não é o de nossos tempos. Não é o morto vivo que reanimado sai de sua sepultura sedento por carne humana. O “Zumbi Haitiano” é quase sempre uma pessoa viva,
que por conta do processo “mágico” acaba se tornando um escravo do praticante
da magia, mas não um “comedor de carne humana.
No entanto, como dito, o final
dos anos 1960, mais precisamente o ano de 1968, representa a ruptura dessa
questão, e principalmente a entrega de um novo estilo, um novo roteiro, um “novo
zumbi”. Foi com o cineasta George Romero que a temática ganha uma nova face,
mais aterrorizante, mais sanguinolenta, deixando de lado esse aspecto
religioso.
Com sua película “A Noite dos
Mortos Vivos” de 1968, Romero renova o estilo e apresenta o que seria
praticamente a “certidão de nascimento” e o “RG” do “zumbi moderno”. Os zumbis
agora são “mortos – vivos”, que por algum motivo, justificativa que vai variar
de acordo com os filmes, são reanimados e acabam saindo de suas tumbas em busca
da carne humana viva que ajuda a saciar a dor da morte.
Essa película, que já analisei os
aspectos sociais e ideológicos da mesma nesse blog, revolucionou não só a
temática, como também o gênero do terror em geral na época. Causou furor de um
lado, e medo e reclamações por outro lado, no entanto, daí em diante se tornou
o modelo a ser seguido. Uma serie de filmes, inclusive do próprio George
Romero, como o “Despertar dos Mortos” (1978) e “Dia dos Mortos”(1985), vão dar continuidade
as novas características da temática, alcançando cada vez mais o público e o
sucesso comercial.
Os anos 1980 foi o palco ideal da
temática pois uma serie de filmes populares foram produzidos em larga escala. Clássicos
do chamado “TERRIR”, gênero que de certa forma significa a mistura do terror
com a comédia, como a trilogia “O Retorno dos Mortos Vivos”( 1985, 1988,1993) são símbolos comerciais da temática na década em questão. Aliás, o
sucesso foi tanto que um dos clipes musicais mais conhecidos de todos os
tempos, se não for o mais conhecido, chamado “Thriller”(1982) do astro da música pop,
Michael Jackson, é inteiramente dominado por zumbis.
Guerra Mundial Z (2013), Extermínio (2002), Zumbilândia (2009), e uma serie de outras películas dão prova
que a temática não descansa e não encontra antipatia por parte do público. A
Idéia de acordar um dia e se chocar com uma horda de mortos – vivos batendo a
porta parece exercer um fascínio aos olhos do público.
De outra maneira, como já
demonstrei nesse blog por meio das análises dos filmes de George Romero, a
temática muitas vezes possibilita e até serve como um espaço bem prolifero para
se manifestar uma crítica social, que vai desde o racismo – A Noite dos MortosVivos (1968) é o paradigma disso -, ao consumismo “ O Despertar dos Mortos”(1978), e
até outras questões, ainda que não necessariamente todos os filmes do gênero
estejam dotados dessa questão.
Assim, dita estas questões,
percebemos o quanto o gênero se renova, se altera, se aperfeiçoa, mas continua
atendendo a “demanda” de um público que parece sentir carinho pelas
horripilantes figuras. Talvez por não possuírem um talento especifico, e terem
sua força representada na coletividade, os “mortos vivos” se adaptem mais aos
novos tempos. Assassinos seriais no Cinema, como Jason Vorhess, Mike Myers e
Freddy Kruegger parecem ter cansado o público, mas os “mortos vivos” ainda que “batidos”
ainda não cansaram. Porque será? Os tempos mudam e eles continuam por ai,
reanimados, por conta de um gás, um experimento mal feito, ou o quer que seja,
batendo na porta das pessoas, pedindo além de um pedacinho de suas carnes, o
ibope de cada dia.
Ass: Rafael Costa Prata
Mestrando em História pela Universidade Federal de
Sergipe
Muito bom o texto!! Muito bom mesmo. Não conhecia o “Zumbi Haitiano” ,me pareceu preconceituoso mesmo. E é como você disse, os filmes vão se renovando mas,no fim das contas, a essência é a mesma!
ResponderExcluirBeijooos!!
Thai :)
Valeu Thai :) Então, os primeiros filmes de terror sobre "zumbis" tinham essa temática mais voltada a religião. Querendo ou não, acabava passando uma ideia preconceituosa sobre questões do voodu haitiano. Mas ai G.Romero "chegou" e remodelou a temática... Brigadão pelos elógios... :)
ResponderExcluirÓtima análise. Também desconhecia esses questionamentos levantados no texto. Que venha o próximo diretor para dar uma nova roupagem nessa temática. Esse é o bacana do cinema.
ResponderExcluirValeu Edvaldo Alves.. :) Sou muito fã do gênero, e em particular de George Romero porque este, como procurei demonstrar na postagem, além do terror naturalmente característico do filme, também conseguia levantar alguns questionamentos de ordem social... :)
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