segunda-feira, 25 de agosto de 2014

X-men e os conturbados anos 1960 nos Estados Unidos: seriam Prof. Xavier e Magneto claras alusões a Martin Luther King e Malcom X?!

Assim como os filmes, os quadrinhos, e as demais produções de natureza artísticas, acabam por revelar, consciente e/ou inconscientemente, questões cruciais de natureza política, econômica e social de sua época de produção. Nesse sentido, ainda que seus criadores muitas vezes não notem essa “influência” do contexto no resultado da obra, ela aparece, as vezes de maneira um pouco confusa, as vezes bastante clara.
Acredito que o caso das histórias em quadrinhos dos X-men, podem até ser caracterizados no segundo caso em questão. Sim, por mais que a alusão a questões de sua época de produção, a série começou a ser produzida em 1963, muitas vezes apareçam subliminarmente, algumas outras parecem emergir como metáforas bem observáveis e claras.
É o caso da suposta e polêmica analogia entre as duas principais personagens da saga, e duas importantíssimas figuras históricas americanas. Em outras palavras, muitos estudiosos tem defendido que as personagens Prof.Xavier e Magneto seriam claras alusões as lideranças Martin Luther King e Malcom X.
Desenho que faz alusão a suposta analogia entre as personagens.

Os quadrinhos e até os filmes mais recentes na qual a “complementaridade” e ao mesmo tempo as “divergências” das personagens são expostas ajudariam na demonstração dessas alusões. Ambos as personagens são “mutantes” que a seu modo, lutam pela inserção e aceitação dos “mutantes” em sociedade: o primeiro a base da construção do respeito, da desconstrução do preconceito, e o segundo pela via mais brusca, a violência.
Tal construção das personagens denotaria claramente a atuação dessas lideranças no decorrer dos anos 1960, momento que, como dito, foram iniciados os quadrinhos dessa saga. Martin Luther King Jr, pastor de formação, liderou o movimento dos direitos civis para os negros nos Estados Unidos, durante todo os anos 1960, até ser assassinado em 1968. Em sua defesa, o ideal do “I Have a dream”: ou seja, a defesa de um mundo em que todas as pessoas pudessem viver pacificamente, sem qualquer discriminação. Seu artificio era a oratória, a paz.

Professor Xavier e Magneto: entre algumas concordâncias e várias discordâncias

Malcom X foi contemporâneo a Luther King, mas apesar de basicamente defenderem o mesmo ponto, divergiam em alguns aspectos cruciais: Malcom X defendia um fortalecimento da causa negra nos EUA por meio da força, haja vista que acreditava que o caminho da conversa não estava resultando em nada. Acabou sendo assassinado também, três anos antes de Luther King, em 1965.
Enfim, muitos críticos dos quadrinhos tem sustentado essa questão, mas também tem observado que tais personagens não podem ser reduzidas a apenas uma simbologia de luta. Em outras palavras, tanto nos quadrinhos como nos filmes, as personagens em questão acabam por representar outros grupos que historicamente tem sofrido com preconceitos, discriminações, e etc.
O próprio caso de Magneto é singular nesse sentido. Tal personagem é uma sobrevivente dos horrores do Holocausto. Sua personagem também simboliza a luta dos judeus que passaram pelo terror do nazismo e tiveram que sobreviver a posteriore na lembrança do  terror sofrido e muitas vezes do preconceito que continuou a existir.
Tal como os filmes, repito, as histórias em quadrinhos, são importantes meios para analisarmos o contexto histórico em questão. No caso de X-men, ainda que eu não tenha conhecimento tão profundo para analisá-los, pelo pouco que sei, muitas tematicas dos anos 1960 são partes fundamentais em suas histórias: o contexto da Guerra fria nos anos 1960 e sua corrida armamentista, o medo em relação aos mutantes como possíveis “outros”, ou seja, “comunistas”,  muito bem demonstrando na película “X-men: the first class” (2011), dentre várias questões.

Ass. Rafael Prata
Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe

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