terça-feira, 12 de novembro de 2013

"O Senhor das Moscas": uma distopia sobre os limites da racionalidade humana



Imaginem um grupo de crianças sobrevivendo, sem a supervisão e atuação dos adultos, em meio a uma floresta localizada em uma ilha deserta. A Premissa parece um clichê clássico e banal de algo do tipo “A Lagoa Azul”. Mas não é esse o caso do livro “O Senhor das Moscas”, escrito em 1954 por William Golding, e transposto para o Cinema logo em 1963.
Tanto o livro como o filme descrevem a trajetória de um grupo de crianças de um colégio interno que, após a queda de um avião, passam a viver por conta própria em uma ilha deserta, tendo estas mesmas que criarem suas próprias leis, seus métodos de convivência longe da dita sociedade racional.
O resultado é o esperado: não demora muito para que se crie um clima de extrema selvageria, na qual a violência e a imposição imperam na nova situação dominante. O próprio titulo da obra, “O Senhor das Moscas”, faz uma alusão a Belzebu, o espírito do mal contido na Bíblia. 

As crianças passam a se digladiar em torno de dois grupos: o de Ralph, que para alguns simboliza o sentido democrático, e o de Jack, que para outros simboliza o autoritarismo. É bom mencionar que a obra é escrita na sombra dos escombros da segunda guerra mundial, ou seja, em meio as dores do Holocausto, da destruição provocada por esse período nefasto.
A película produzida em 1963, ou seja, pouco menos de dez anos depois da escrita do livro, consegue levar as telas boa parte do conteúdo moral da obra de Golding. Vale a pena ler tanto a obra, como assistir ao respectivo filme!

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

domingo, 3 de novembro de 2013

Constantin Costa Gavras: um grande símbolo do Cinema Político

           
Nascido em 1933, o cineasta grego radicado na França, Costa – Gavras se tornou conhecido pela crítica, sendo muitas vezes por isso aclamado pela mesma e noutras rechaçado, pelo alto teor crítico e de denuncia que perfazem a quase totalidade de suas obras.  Aos 36 anos, em 1969, ganhou notoriedade com sua obra “Z”, onde narrava e discutia os horrores da ditadura militar na Grécia durante os anos 1960, evento pouco conhecido no Ocidente Europeu, mas que a partir dali então ganhara os holofotes para a sua visibilidade e posterior discussão. Com este filme, o jovem cineasta ganhara o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro.
            Não obstante, desde este primeiro momento, a critica especializada passaria a se ambientar com a sua linha cinematográfica que o denota como um grande cineasta de tendência crítica, cujas obras em geral, denunciam alguma opressão ou barbárie perpetrada em algum momento histórico específico, seja no passado próximo ou no tempo presente. Esta característica cinematográfica intrínseca ao mesmo faz com que toda a sua extensa filmografia não deixe de ser compreendida como fruto de um “Cinema de Autor”.
Esta menção encontra raízes na sua formação como cineasta. Costa Gavras, grego de nascimento, mas radicado na França, estudou, durante os anos 1950, na IDHEC (Instituto de Altos Estudos Cinematográficos) em Paris, onde desde sempre, pode estar em contato, física e ideologicamente, atuando como assistente de direção de grandes diretores franceses, como René Clair e Marcel Ophuls, membros da cinemateca francesa à época.
Nesse mesmo período, Costa Gavras teria contato com todo o espírito revolucionário e/ou de contestação que germinava em solo francês, e que como consequência, se estenderia ao Cinema, atingindo também a Cinemateca, principal centro de difusão, estudo e divulgação do Cinema francês, até os dias de hoje.  
Sua primeira película de renome, “Z”, foi produzida em meio ao calor dos acontecimentos de rebeldia e contestação que caracterizam o março de 1968, e que começaram lá em Paris, o símbolo de toda a inquietação da época, de onde irradiava a energia, as propostas e a ideologia motora para as ações do restante do mundo.
Posteriormente, suas obras apenas o ratificariam como um cineasta político ativo aberto às feridas mundiais, não apenas europeias. Isso se torna visível com o sucesso alcançado por sua película “Missing”, do ano de 1982, que por aqui recebeu o titulo: “Desaparecidos, Um Grande Mistério”, na qual o diretor emerge por dentro da discussão em torno da ditadura militar chilena de Augusto Pinochet, refletindo sobre os bastidores políticos, e, sobretudo a opressão violentíssima, que marcou este evento tão nebuloso e importante na história da América Latina.
Não por menos, na década anterior, nos anos 1970, antes do sucesso de “Missing”, Costa Gavras havia lançado duas películas pouco conhecidas, mas também de especial caráter político e de denuncia: A Obra L'aveu”, por aqui, “A Confissão”, rodada em 1970, um ano após “Missing”, conta a história de um político checoslovaco que é perseguido, torturado, e preso por membros de seu próprio partido, sem ao menos saber em que se baseia a premissa de sua culpa. Em tons kafkianos, a película procura discutir até que ponto a opressão e a violência perpetrada pelo Estado atingem uma sociedade, e entre outras questões, oferece uma visão sobre os eventos que permeiam Primavera de Praga.
Dois anos depois, em 1972, Costa Gavras lança État de siège”, ou “Estado de Sítio”, obra que descreve o sequestro do agente americano e do cônsul brasileiro Aloisio Gomide, pelos Tupamaros, no Uruguai, em uma película procura justamente em seu fundo histórico, discutir a guerrilha urbana uruguaia e seus desdobramentos políticos.
Por conseguinte, fica visto como Costa Gravas se insere dentro desta perspectiva de cinema político, que não procura refletir apenas guerras, revoluções em geral pelo mundo, mas como também, a opressão diária sofrida pelas camadas populares, profissões sufocadas, em uma tomada de posição que muitas vezes lhe acarretou criticas, principalmente no cenário norte – americano, por apresentar um viés de análise de esquerda.
De fato, Costa Gravas também ampliou seu olhar critico para além das revoluções e guerras mundiais, passando também a refletir sobre os problemas causados pelo mundo globalizado e capitalista. Nesse sentido, suas ultimas obras são bastante paradigmáticas para compreender como se dá a moderna critica de Costa Gravas aos conflitos e desilusões do mundo contemporâneo. 
Seu filme, chamado “Le couperet” ou “O Corte”, de 2004, retrata através de uma assustadora e ao mesmo tempo cômica e surpreendente sátira moderna, o nível de impotência e de desequilíbrio a que podem ser acometidas instantaneamente, sem nenhuma forma de remediação, as sociedades contemporâneas frente ao caos social produzido pela emergência desenfreada e incontrolável do fenômeno do desemprego em todo o mundo. Penetrando na mente de um típico engenheiro de classe media alta francesa, Costa – Gavras consegue habilmente abordar de forma cruel e irônica, a impotência do Estado em controlar a desordem social ocasionada pela ruptura do aclamado “Estado do Bem Estar Social”, modelo político, econômico e social típico das nações europeias, quando o desemprego em massa acaba minando suas estruturas, e o Estado não possui mais forças para controlar as decisões das empresas privadas, e em último caso, tomar medidas de cunho social abrangente.
Uma outra recente obra produzida por Costa Gavras, chamada “Éden a L’Ouest”, ou o “O Édem no Oeste”, produzida no ano de 2009, também procura mexer em uma ferida bastante controversa em torno dos problemas contemporâneos encarados pela sociedade francesa, e porque não dizer, da Europa em geral. A Película descreve a situação de um emigrante de nação não revelada, justamente para denotar uma universal situação avassaladora, o qual deixa sua pátria em direção a Paris, descrita aos olhos daquele como o Paraiso terreno, através de uma narrativa em que o personagem, antes envolvido por uma utopia que o envolvia confortavelmente, passa cada vez mais a visualizar a real situação em que se encontra, abandonando assim gradualmente a utopia de um paraíso para adentrar na desilusão real, quando passa a sofrer o preconceito, as perseguições de um estrangeiro em uma terra estranha, enfim, a sentir na pele os efeitos nocivos de sua condição de “desterrado” em um país estranho e não receptivo.
Por fim, através destes inúmeros exemplos, é possível enxergar como Costa Gravas se apresenta como um grande cineasta político disposto a retratar, em suas tramas, os mais variados problemas e questões de nosso tempo.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela UFS.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O "Che" nas telas do Cinema: "O Argentino” e "Guerrilha” (2008) de Steven Soderbergh



Para alguns, o maior revolucionário de todos, símbolo da luta contra as injustiças sociais. Para outros, um torturador cruel, averso aos direitos humanos. Sua imagem mais famosa, uma fotografia retirada por Alberto Korda em 1960, é talvez a mais famosa e retratada no mundo ainda hoje, fruto de seu caráter carismático ainda vivo.
Ernesto Che Guevara de la Sierna, representante maior da revolução cubana, junto a Fidel Castro, foi levado as telas do Cinema pelo diretor Steven Soderbergh, em duas películas entrelaçadas, que juntas descrevem os meandros da atuação deste, primeiramente na Revolução Cubana, e por fim, sua morte nas matas bolivianas.
O resultado desta difícil empreitada biográfica, foi belíssimo. Polêmicas a parte – sim, pois há quem tenha achado a película muito glorificante em torno da figura de Che – o filme consegue retratar com bastante beleza todo o cenário político dos anos 1950 aos 1960. As imagens  dos debates realizados na ONU, quando Che rebatia e acusava o Imperialismo Norte – Americano são de uma reconstrução fabulosa.

De igual maneira, “Che – o Argentino” (2008) e “Che – Guerrilha” (2008) não deixam de demonstrar vários traços da personalidade em questão: seu apego a fidelidade a causa, sua repulsa a traição – e neste ponto se retrata muito bem as execuções dos traidores nos “paredões das matas cubanas”, e etc.
A representação das personagens em questão são louváveis. Benício D.Toro como Che Guevara nos causa uma certa confusão de tão parecido que ficou, tanto fisicamente como gestualmente. O brasileiro Rodrigo Santoro participa do filme como Raul Castro.
Por fim, ambos os filmes são recomendadíssimos para aqueles que procuram entender a força da imagem deste líder controverso, discutido, construido e reconstruido ainda hoje.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe
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