sexta-feira, 30 de março de 2012

“Sete Dias com Marilyn” : Ode a uma deusa atormentada


             
             Havia um fosso entre a Norma Jeane Mortensen da vida privada e a Marilyn Monroe da vida pública que o público em geral desconhece. Marilyn, esta de conhecimento de todos, foi uma atriz estonteante, marcada por uma absurda sensualidade, que emergia quase quê naturalmente de sua face quase pura e juvenil, sendo ratificada e mais do que legitimada pelas grandes curvas do seu corpo. Marilyn foi o furacão de Hollywood. Ainda o é. Arrancava os suspiros dos jovens que iam ao Cinema, a inveja/admiração das adolescentes que queriam e faziam de tudo para ser como ela; pintavam o cabelo, usavam os saiotes, tentavam reproduzir aquela pintinha clássica na sua bochecha, mas ainda assim, faltava aquele algo inato que só Marilyn tinha: a capacidade de fazer suspirar sem muito esforço.
               Não foi somente o público juvenil que Marilyn conseguiu arrancar suspiros. Suspiros de um público afastado. Mas dentro do seu próprio meio, e curiosamente, de uma esfera politica, que se sobressaem os “maiores suspiros” da vida de Marilyn.
            Até hoje chama a atenção a sua vida amorosa com as grandes personalidades. Casou-se inúmeras vezes. Com escritores, como seu último marido, Arthur Miller. Mas foram seus casos extraconjugais com personalidades fortíssimas, no sentido underground da questão, que chamam a atenção ainda hoje. John Kennedy. Só esta “personalidade” já demonstra em qual terreno Marilyn soube se intrometer. Kennedy não conseguira resistir a ao sensual canto de Feliz Aniversário... Quem conseguiria?!

 Marilyn canta os Parabéns para JFK.

              Contudo, é na percepção destes rápidos e polêmicos casos amorosos que envolvem a vida de Marilyn, que percebemos um aspecto mais profundo da mesma: a incapacidade de se fazer amada, de ser correspondida, em suma, o choque profundo entre a Marilyn e a Norma Jeane.
            Todos suspiravam pela Marilyn. Por sua formosura. Seu charme, sua sensualidade, sua voz provocante, sua dança. Mas, no âmbito pessoal, Marilyn se mostrava em sua face mais real, insegura, frágil, fruto da infância trágica e difícil que teve, marcada pela gravidez indesejada de sua mãe e sua difícil relação com o pai. Marilyn vivera parte da infância e da adolescência em casa de terceiros e em orfanatos.
            Chegando ao mundo de Hollywood, conseguira conquistar um carinho que nunca tivera tido antes. Um carinho que vinha muito de seu carisma e de sua beleza física. Faltava ainda o carinho pelo que ela significava como pessoa. Isso Marilyn nunca conseguira ter em vida. Na verdade, foi Norma Jeane quem nunca teve.
            É essa dicotomia tão clássica e marcante da vida de Marilyn, que a película “Sete dias com Marilyn” consegue resgatar com extrema propriedade, e de uma forma doce, sutil, singular, direta ao ponto. Esta película rodada no ano de 2011, de direção do inglês Simon Curtis, com esplendidas atuações de Michelle Williams e Kenneth Brannagh, é baseada no relato de Colin Clark, um cineasta inglês, que a época, em sua adolescência, havia trabalhado no set de filmagem do filme “O Príncipe Encantado”, hoje conhecera e entrara em contato direto com Marilyn. Contato profundo. Físico. Mais ainda, emocional.

Norma Jeane x Marilyn Monroe: Uma Batalha curta.


            Não vou falar tanto do filme para não contar detalhes que poderiam estragar quem vai assisti-lo. Só quero destacar as fabulosas interpretações de Michelle Williams e Kenneth Brannagh. Chega a ser arrepiante. Michelle Williams chega a encarnar a própria Marilyn, e não digo isso, por caracteres físicos. Sim, ela está parecida, mas o que impressiona mesmo é o lado da interpretação, que é justamente o que deve ser observado.  O Tom suave e sensual da voz, a sensualidade disfarçada no véu de doçura e pureza... e até um toque especial que Marilyn exibia ao falar, ela soube levar as telas.
            Brannagh interpreta de forma excepcional, um também complexo e fabuloso Laurence Olivier. Talvez o maior ator britânico de todos os tempos. Tão complexo quanto Marilyn, Olivier era perfeccionista ao extremo, e até por ser quem era, levava os limites da interpretação a todo o custo. O Filme retrata bem os inúmeros choques que manteve com Marilyn durante a filmagem de “O Príncipe Encantado”. Olivier não é o vilão do filme. Essa não é a intenção da película, ainda que em certo momento você crie certa repulsa ao mesmo. É um filme humano, que não endeusa nenhum dos lados.

Michelle Willians e Kenneth Brannaght


            O Filme ainda tem a especial capacidade de renascer algumas polemicas adormecidas, como a paixão adormecida de Oliver por Marilyn que poderia ter influenciado no seu trato durante a gravação do filme, e como também, e mais ainda, certa discussão sobre o fato de Marilyn ter sido ou não, uma boa atriz.
            Este segundo ponto é o que considero mais interessante, pois até em especialistas sobre a mesma, os biógrafos, isso não é consenso. O Filme deixa a sua opinião clara – que eu compartilho – afirmando que Marilyn era sim uma boa atriz, certamente não é a melhor da história, e muito menos a pior, passando longe da “loura burra” que tentaram concretizar sobre sua imagem, de forma tão doentia e ignorante, quando não percebiam que tal imagem não deixava de ser o tipo de película, que, graças ao mundo cinematográfico em que Marilyn se inseriu, acabava por ser sempre procurada.
            Marilyn não foi uma Elisabeth Taylor, Ava Gardner, Sophia Loren, Vivien Leigh. Mas não foi essa “moça vazia, bonita que só fez filmes porque tinha contatos e gravava suas falas fáceis de ultima hora” que tentaram pintar por muito tempo.
              O Proprio Laurence Oliver na película, após passar o filme todo a criticando e rotulando como má atriz, em uma cena profunda, acaba percebendo que Marilyn tinha um jeito pessoal de filmar, de interpretar, assim como os demais atores e atrizes também tinham.
            Enfim, o espectro da beleza, e essa dificuldade em separar o que era publico do que era privado, com certeza dificultou a vida de Marilyn, e piorou a fraca estabilidade de seu lado emocional. Marilyn quis abandonar Hollywood. O Filme demonstra isso. O Proprio pobre Colin Clark a convida a abandonar tudo isso. Mas ela não conseguia. Havia se casado inúmeras vezes na tentativa de ocupar o vazio interno onde residia a Norma Jeane, para completar a felicidade do lado Marilyn hollywoodiano. Tudo em vão!
            Em decorrência de sua endêmica depressão, e de sua compulsividade por remédios, esse seu artifício de fuga do mundo, Marylin faleceu no ano de 1962, aos 36 anos de idade, no auge de sua maturidade artística e forma física.

            Foi-se Norma Jeane. Eternizou-se Marilyn.

            Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe.
     

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