quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O Gênero “Noir” e a Crítica ao Sensacionalismo Midiático.

O Filme “Noir”. Ao ler esta adjetivação fílmica, a aparente primeira reação do leitor deve ser justamente compreender o que se deve entender como “Noir”.  Este termo de origem francesa que tem como tradução mais direta o qualitativo “Escuro”, acaba então por se apresentar, dentro das rédeas do Cinema, como um subgênero do filão dramático cujo aporte de importância dentro da sétima arte é incomensurável.
A Justificativa lógica para esta afirmação reside no fato de que o “Noir” ou o filme “escuro”, por assim dizer, acaba por concentrar em seu bojo justamente um caráter fílmico que vai muito além do glamour, do romantismo hollywoodiano, ou em geral, do clichê cinematográfico comum a uma época.
        O Noir se caracteriza pelo enfoque na psicologia das ações humanas; nas contradições, hipocrisias, veleidades e outras tantas questões que fulguram nas ações humanas e que por ora podem passar despercebidas em criações cinematográficas mais idealizadas.

O Gênero Noir: Relações Humanas em meio a escuridão das ruelas noturnas.
              Este choque de realidade “Noir” surge então no período da Grande Depressão Americana, justamente como uma quebra do paradigma do sonho americano, da utopia de um cinema onde pululam o glamour e o sonho das telas para os expectadores nas salas do Cinema. Do Noir aparecem grandes filmes com temática policial, alguns centrados nas ações da Máfia pelas ruas de Nova York ou Chicago, e grande parte procurando refletir as várias facetas humanas muitas vezes incompreensíveis ou negligenciadas diante do grande palco hipócrita das relações sociais, onde o jogo de sombras das ruas noturnas revela muito além do aceitável em comunidade.

A Escuridão da noite, onde andam Gangsters e mulheres ardilosas, foi palco frequente do gênero Noir.
        Longe de querer definir este gênero tão amplo e complexo que é o Noir, desta maneira e sem querer me alongar demais, procuro definir resumidamente e porcamente o que seria mais ou menos a composição do gênero, justamente para dar escopo à temática que abordarei daqui em diante. Refiro-me as explorações das mídias em geral de fatos do cotidiano, dos absurdos cometidos em busca da melhor manchete; do desrespeito frente às necessidades humanas em pró de um pragmatismo noticiário que deve ser pensado em primeiro lugar.  Daí é que as duas películas que escolhi para esta analise se apresentam então como atualíssimas, haja vista que tais situações ainda continuam em profusão, e por sinal muito longe de se exterminar, pois parece que para boa parte da população, o sensacionalismo e uma quase mórbida curiosidade que vai muito além do mero interesse informativo faz parte de suas vidas.

O Sensacionalismo na TV: É necessário tomar cuidado com o que se escuta e ter seu próprio discernimento dos fatos.

        Vale ressaltar que tal crítica não se fundamenta a um grupo especifico de profissionais, mas em geral a todos aqueles que fomentam tal conduta e/ou pertencem ao mesmo séquito, pois, não só aqueles que fornecem tal “espetáculo midiático”, como veremos em uma das obras aqui escolhidas, são os responsáveis por seu desastroso final. Existem os cumplices. Podemos ser nós; escondidos por detrás da TV, sentados em confortáveis poltronas, fornecendo todo o necessário IBOPE que alimenta esta prática. Obviamente que não se pode generalizar, e não é esta a intenção. Mas utilizando-se de tais filmes, ambos servem de alerta para toda e qualquer pratica humana que mascarada de seus reais interesses, costumam atropelar o respeito e a dignidade humana com outros fins.

As vezes compramos sua versão em papel.

        Em tempos de sequestros relâmpagos, de assaltos e homicídios transmitidos em tempo real para todo o mundo, com uma velocidade incomensurável e dotada de uma narração quase futebolística, é que o filme “A Montanha dos Sete Abutres”, de 1951, do genial diretor Billy Wilder, apresenta toda a sua contemporaneidade. Em linhas gerais, sem querer apresentar todos os traços do filme para não retirar a graça daqueles que pretendem degusta-lo, a película apresenta justamente uma acida critica ao sensacionalismo midiático, personificado na figura central do impetuoso jornalista Chuck Tatum, magistralmente interpretado pelo grande ator Kirk Douglas.

A Montanha dos Sete Abutres: A Exploração da Desgraça Humana em destaque.

        Tatum é um jornalista despedido dos principais jornais de Nova York devido aos seus excessos de confabulações de noticias, aos seus envolvimentos com esposas de editores, enfim, é tudo que pode ser considerado como deplorável no meio da ética jornalística. Daí então Tatum “exila-se” em uma pequena cidade do Novo México, onde irá trabalhar em um jornal regional apenas para a sua sobrevivência. Incomodado com a falta de grandes manchetes e pela pouca sorte de oportunidades de utilizar todo o seu “talento literário” na arte do rebuscamento sensacionalista, Tatum então, por sorte ou agrura do destino, acaba se deparando com a história um mineiro soterrado em uma caverna localizada na Montanha dos Sete Abutres. 

Kirk Douglas interpreta o ambicioso e pragmático Chuck Tatum

            Ávido por uma grande manchete que lhe faça recuperar a fama de outrora, desde o principio Tatum vai transformar a triste situação do mineiro em um circo onde o que menos importa é a salvação daquele ser humano. Pelo contrário, para Tatum o que importa é que aquele permaneça naquele buraco, soterrado e sem respiração, o máximo de tempo possível, que seja uma semana, ou um mês, lhe conferindo tempo para escrever seus exclusivos artigos diários. Sim, exclusivos, porque Tatum com sua ardilosa retorica vai fomentando relações sociais de contato com as principais autoridades locais, como por exemplo, o Xerife que é ao mesmo tempo Prefeito, garantindo que toda aquela situação pode ser benéfica para todos, desde que permaneçam aliados. 

O Mineiro Leo Minosa: Seu interminavel sofrimento é a escada da ambição alheia.

           Enfim, o filme aborda muito mais questões que aparecem em torno da triste história do mineiro Leo Minosa, como a cumplicidade da população em torno daquele circo, os interesses familiares e etc. Daqui não passarei, pois o melhor a se fazer é assistir a película.
O Circo armado em torno de Leo Minosa: Curiosidade e Exploração.

        Mineiro, caverna, buraco, escuridão, jornalistas, circo armado. Não quero ocasionar polêmica criando uma analogia quase esdruxula em relação aos “Mineiros do Chile”, pois não é o fato em si quem carrega o sensacionalismo, mas sim a maneira, ou postura editorial tomada pelos meios midiáticos procuram abordar tais questões. Daí nada mais do que justo mencionar que há grupos que praticam do mais puro sensacionalismo, como também há boas e necessárias exceções que só se preocupam em noticiar, como reza a boa cartilha da ética da Informação.


Mineiros do Chile: Será que o tratamento dado ao caso foi o mesmo?





         Por Conseguinte, uma outra obra da mesma época nos ajuda a suscitar outras considerações de ordem tão polêmica como as que esta primeira película também procura questionar. O Filme “A Embriaguez do Sucesso”, de 1957, do diretor Alexander Mackendrick, aprofunda mais ainda tais questões, ao refletir sobre os bastidores do meio jornalístico, e todos os jogos de interesses e atrativos que podem e em muitos casos existem na execução desta tarefa.   

A Embriaguez do Sucesso: O Cinismo Midiático

               Por meio da conflituosa relação entre um ambicioso assessor de imprensa chamado Sidney Falco, interpretado pelo grande ator Tony Curtis, e pelo impetuoso e mau caráter colunista J.J. Hunsecker, interpretado por outro grande chamado Burt Lancaster, o filme narra a linha tênue envolvendo o jogo de interesses pessoais, a difamação e destruição de pessoas, ou até a elevação de outras por meio de interesses pagos (aqui no país conhecido popularmente como Jabá), entre outras questões. 

Tony Curtis a esquerda como Sidney Falco, e Burt Lancaster a direita como J.J  Hunsecker.

O Foco principal da película está justamente na manipulação das colunas jornalísticas; na maneira como diante de tal obscuro jogo de poderes, conversas afiadas em bares noturnos de Nova York, onde conversam os grandes figurões do país como senadores, políticos, outros colunistas, e assessores ávidos como Falco, doidos por qualquer fofoca para vender e assim plantar suas noticias a quem lhe pagar melhor. Outras questões mais profundas também são abordadas. O Conselho é o mesmo dado em relação ao primeiro filme: Vale conferir e tirar suas próprias conclusões.
        Dito isto, encerro esta postagem ratificando novamente como o Noir, gênero a que se encaixam ambos os filmes, deve ser sempre uma categoria, que por mais que não tenha definição concebida, aliás, que assim seja, pois nunca foi sua intenção, sempre lembrada pelos amantes do Cinema como um filão importantíssimo cinematográfico e de crítica social.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe.

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