sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Sidney Poitier: Uma trajetória de superação frente ao preconceito racial



     Certamente, um dos grandes momentos da vasta carreira de Sidney Poitier foi a sua interpretação na película “Ao Mestre com Carinho”.  Este filme dirigido por James Clavell no ano de 1966, conta a história de um abnegado professor que se recusa a desistir de seu maior sonho: transformar a vida de estudantes de uma escola da periferia. Enfrentando de frente as barreiras e os problemas impostos por aquela difícil realidade, lentamente vai galgando espaços nos corações dos alunos, e ao fim, consegue atingir seus propósitos.
            Trata-se então de um belíssimo filme que até hoje emociona aqueles que procuram assisti-lo. A atuação de Poitier é incomensurável, a sua capacidade de entrega ao personagem é absurda, conferindo um caráter de esperança e amor ao personagem como poucos conseguiriam.
            Mas o que poucos sabem é que, para estar ali, naquele ano de 1966, interpretando uma personagem principal de um grande filme, Sidney Poitier teve de percorrer um caminho árduo, cheio de barreiras, aonde teve de enfrentar obviamente o maior entrave da época: o preconceito racial.

            Nascido em 20 de fevereiro de 1927 em Miami, Estados Unidos, Poitier ingressou no Cinema no inicio dos anos 1950, quando passa a participar de películas de pequeno orçamento, com papeis de pouco destaque. Mas prontamente seu talento será reconhecido: no final dos anos 1950, o ator passa a ser chamado para participar de películas com problemáticas raciais, e nesse sentido, a película “Acorrentados” do ano de 1958, se apresenta como um marco divisor na vida do ator até então com 31 anos de idade.
            Nesta, Poitier atua com o também grande ator Tony Curtis, para dar corpo a um filme que trabalha justamente o choque imposto pelo preconceito racial. Ao retratar a vida de dois fugitivos que estão acorrentados um ao outro, trabalha-se durante todo o filme, um discurso que procura refletir justamente o preconceito em questão.

            Com esse filme, Poitier foi indicado ao Oscar de melhor ator, mas não ganhou. O que não tardaria. Em 1963, Poitier é convidado a participar da película “Uma Voz nas sombras”, onde interpreta um desempregado que passa a trabalhar de graça em uma Igreja, a fim de reparar seus defeitos, morais e arquitetônicos. Com esse filme, Poitier é indicado ao Oscar, e ao ganhar o premio, torna-se o primeiro ator negro a conquistar uma estatueta na História.
            Com certeza Poitier não foi o primeiro grande ator negro. Outros tantos poderiam ter obtido essa honraria, mas as barreiras impostas pelo preconceito acabaram impedindo a concretude dessa questão. Mas Poitier conseguira ultrapassar essas barreiras, simbolizando toda uma luta.
            Dai que, quando Poitier é convidado a interpretar o professor em “Ao Mestre com Carinho”, ele já era um aclamado ator em Hollywood. Suas películas seguintes também se destacam por trazer a tona novamente, questões de ordem racial. Nesse sentido vale-se destacar, entre tantas, duas em especial: “No Calor da Noite” e “Adivinhe quem vem para jantar”, ambas do ano de 1967.

            Na primeira, Poitier interpreta a um detetive que ao investigar um caso, não consegue levar adiante suas investigações, por conta da população racista da cidade que se recusa a prestar informações. No segundo filme, esse de maior destaque, um grande clássico, diga-se de passagem, Poitier interpreta um renomado doutor que se apaixona por uma jovem branca interpretada por Katherine Hepburn. Prontos a se casarem, a jovem o convida então para conhecer sua família em São Francisco, onde, ao chegar, o médico sofrerá todo tipo de preconceito possível por parte dos familiares de sua noiva.

            Enfim, muitas outras películas e atuações de destaque desse grandíssimo ator poderiam ser citadas; após tanto tempo de talento cedido ao mundo do Cinema, Poitier ainda foi aclamado novamente no ano de 2002, quando se tornou o primeiro ator negro a ganhar um Oscar honorário pelo conjunto de sua obra, para o deleite de todo um público, em especial, o também grande ator Denzel Washington, que teve a oportunidade de entregar a seu ídolo, esse premio.
            Um grandíssimo ator de talento inquestionável. Sua aclamação dentro do cenário cinematográfico representa mais do que a vitória solitária de um ser, mas sim a abertura para todo um grupo; Poitier representa de certa forma, uma obstinada busca pela quebra desse ignóbil preconceito que continua a impor barreiras, obstáculos, na vida das pessoas.
            Poitier sabendo vencê-las deu um enorme exemplo. Assim como ele, outros tantos tiveram em quem se mirar. Denzel Washington faz questão de assumir em público essa questão. Amanhã quem sabe outros se inspirarão em Denzel, e sonhemos que um dia, não precisemos necessitar de inspirações, em um mundo marcado por uma igualdade de condições e de não – existência de preconceitos.

Ps: Segue o vídeo em que Denzel Washington entrega o Oscar Honorário pelo conjunto da obra a Sidney Poitier em 2002.

  
Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe

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