sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Mario Monicelli (1915 - 2010): Uma vida inteiramente dedicada ao Cinema



         Durante as segundas feiras de março de 2013, será realizado o curso de extensão A Idade Média de Mario Monicelli: A Saga de Brancaleone” no Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, sob a coordenação do Prof. Msc. Bruno Gonçalves Alvaro.
         Uma ótima oportunidade para conhecer um pouco mais da filmografia desse genial cineasta italiano, e de outro modo, perceber também como suas películas podem servir como bons instrumentos didáticos, na construção do ensino em sala de aula.
         No caso do curso que será ministrado, em destaque aparecerão às películas “O Incrível Exercito de Brancaleone” (1968) e “Brancaleone nas Cruzadas” (1970), no intuito de compreender, entre outras questões, o modo como a Idade Média é representada por Monicelli nas películas em questão.
       Os dois filmes em questão são considerados os maiores sucessos de critica deste cineasta de longuíssima contribuição e produtividade para o Cinema italiano, em destaque, as produções pertencentes à chamada “comedia a italiana”, na qual é considerado o maior realizador.
         Nascido em maio de 1915, em Roma, Mario Monicelli frequentou o Liceu Clássico Giosué Carducci durante a sua adolescência, formando-se em História e Filosofia por aquela instituição. Foi durante este período de ensino, portanto, que Monicelli tivera a chance de entrar em contato com inúmeras obras, em grande parte clássicos da literatura medieval e renascentista italiana, na qual vai “beber” a inspiração que dará corpo a inúmeras de suas películas, em especial a sua visão de Medievo contida nos filmes “Brancaleone”.
         A “Commedia all italiana”, a qual pertencia Monicelli, se caracterizava por ser um gênero fílmico cujas películas procuravam satirizar através da comedia, a realidade italiana do pós – guerra. Desviando o olhar para a ascensão de uma burguesia italiana no pós – 1945, os filmes passam a refletir sobre os anseios, os medos e as decepções de uma sociedade italiana que procurava entrar nos caminhos da reconstrução, com certo medo de olhar ao seu passado recente.
         Mario Monicelli foi um deles. No decorrer dos anos 1950, a década de suas ascensão como cineasta, passa a produzir e dirigir películas com esse tipo de reflexão. Sua película “La Grande Guerra”, de 1959, é paradigmática nesse sentido; nesta, Monicelli entrega a sua visão sobre aquele evento bélico que devastou o mundo. O Resultado obtido foi à aclamação da crítica, o que lhe rendeu o Leão de Ouro do Festival Internacional de Veneza, e uma indicação ao Oscar como melhor filme estrangeiro.

        Em toda a sua carreira, Monicelli procurou trabalhar sempre com um panteão de grandíssimos atores e atrizes, uma espécie de seleção a quem sempre recorria na produção de suas películas; em destaque, atrizes como Sophia Loren e atores como Marcello Mastroianni e Vittorio Gassman ( imortalizado como o protagonista Brancaleone), este último talvez, o maior companheiro de Monicelli em suas empreitadas.
         Em 1963, Monicelli lança uma obra dramática que lhe renderia no mesmo ano à indicação de melhor roteiro original no que tange ao Oscar; Em “Os Companheiros”, o cineasta nos conta a história de um professor – interpretado por Marcello Mastroianni – que passa a liderar um grupo de funcionários de uma empresa têxtil do século XIX frente a uma revolução, a fim de obter melhores condições de trabalho.

         Entretanto, os anos 1960 foi indubitavelmente marcado pela apresentação, no ano de 1966, de sua surreal película “O Incrível Exercito de Brancaleone” que surpreendeu a todos não somente pela ousadia temática, mas como também qualidade artística e de reflexão histórica imposta ao filme.
         O Sucesso do primeiro garantiu além de uma enormidade de criticas positivas, a oportunidade a Monicelli da produção de uma segunda película em continuidade, chamada “Brancaleone nas Cruzadas”, produzida em 1970.
         Através de uma “Idade Média Fantasiada”, Monicelli nos leva a saga do esfarrapado cavaleiro Brancaleone da Norccia em busca da gloria, de façanhas, em aventuras que se passam em um período de cruzadas, de querelas entre papas, de torneios entre cavaleiros, no furor da peste negra, e etc.
         O Resultado obtido é fantástico, pois além de discutir com bastante propriedade uma serie de estruturas medievais – como o sentido da honra para os cavaleiros medievais, a virgindade para as mulheres, as brigas entre o papado na Idade Média Central – através de sátiras, caricaturas, a película consegue também de outro modo, refletir sobre a realidade italiana – e porque não dizer mundial – do pós-guerra.

         Um exemplo nesse sentido, conforme Giulia Crippa, pode ser encontrado no papel do mercador judeu Abacuc. Personagem do primeiro filme, Abacuc, construído como um avido judeu, a personagem acaba por falecer por conta de uma intolerância religiosa. Ao passar por uma ponte, Abacuc encontra um missionário cristão que o obriga a se batizar naquele rio. O Resultado: Abacuc é batizado, mas acaba falecendo por conta de uma gripe contraída no mergulho.
         Uma situação que encontra respaldo num passado recente: a intolerância em tempos de guerra; os nefastos campos de concentração, o holocausto judaico. Daí que, como qualquer outra película, estas apresentam a grande riqueza de tanto falarem de um passado histórico como também do presente em curso. Com certeza, eis a grande riqueza do Cinema, sua dimensão nestes dois sentidos.
         Enfim, Monicelli se aventuraria novamente dentro de um “espaço medieval” em outra película chamada “Bertoldo, Bertoldino e Cacasenno”. Em mais de 50 anos de carreira, este cineasta deixou uma enormidade de películas de grande valor artístico e histórico. Infelizmente, encontrou a morte em uma situação que contraria a sua vida de “produtor de sorrisos”; após desenvolver um câncer de próstata, Mario Monicelli foi internado no Hospital San Giovanni em Roma, onde faleceu em novembro de 2010, aos 95 anos, ao pular da janela do quarto andar, por não aguentar mais os sofrimentos e as limitações impostas pela doença.

       Foi-se o corpo, mas o riso continua sacralizado em suas obras. Branca Branca Branca! Leone! Leone! Leone! Viva Monicelli! E não se esqueçam! Em Março de 2013! Curso de Extensão " A Idade Média de Mario Monicelli: A Saga de Brancaleone" no Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe

Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe

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