sábado, 16 de agosto de 2014

[Futebol e História] Euclides da Cunha e a “tragédia da piedade” (1909): quando um jogador do Botafogo se tornou vítima circunstancial de uma grande tragédia brasileira

A “tragédia da Piedade”. Nenhuma outra expressão poderia expressar melhor o significado daquele evento.  Uma verdadeira “tragédia” que acometeu até quem não tinha “culpa no cartório”. Naquele fatídico dia 15 de agosto de 1909, o jornalista e escritor Euclides da Cunha, sem suportar mais o peso das traições, parte em direção a casa do jovem tenente Dilermando de Moraes, e com uma arma na mão procura assassiná-lo, mas não consegue. O jovem ternente é mais rápido, pois hábil com o manejo das armas, consegue diferir rapidamente uma série de tiros que tiraria a vida de um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. Tal episódio foi o ponto final de uma história trágica que desde sempre se anunciava. 
       Euclides da Cunha casou-se com Anna Emilia em 1890. Quase sempre muito ocupado, envolto nas suas viagens e ocupações de jornalista atuante, o qual chegou a cobrir in loquo a chamada “Guerra de Canudos”, Euclides costumeiramente deixava sua esposa em casa, postada em sua solidão. Foi num desses momentos que então sua esposa Ana conhecera o jovem cadete Dilermando de Assis, de então 17 anos, dezesseis anos mais novo que ela, a qual possuía 33 anos de idade, e ali começara uma tórrida história de amor.
         Dilermando tornou-se seu amante. Teve dois filhos com ele, ambos batizados com o nome de Euclides da Cunha. Mas até que certo dia, a verdade veio a tona, e a fúria de Euclides da Cunha também. Euclides, que amava demais a sua esposa, ainda assim resolveu seguir com o casamento, pedindo para que esta não mais se encontrasse com seu amante, mas o pedindo não foi aceito.
         Ao descobrir que Anna Emillia continuava a se encontrar com Dilermando, Euclides da Cunha, portando uma arma que conseguira com um parente, entra na casa de Dilermando, na região da Piedade, e antes de atirar, solta a seguinte frase: “Vim para matar ou para morrer”.


Charge de Jornal da época, retratando o duelo entre Dilermando de Moraes e Euclides da Cunha

         Morreu. Mas antes, disfere dois tiros no amante de sua esposa, que atingido cai, mas com vida. O irmão de Dilermando era Dinorah, um jovem zagueiro que atuava no Botafogo F.R, que ao ver a situação, tenta retirar a arma das mãos de Euclides, mas também é atingido por dois tiros.
         Dilermando, embora ferido, consegue pegar a sua arma caída no chão, e disferir assim uma sequência de tiros em Euclides da Cunha, que baleado no pulmão, cai sem vida no chão.

No círculo, o meio campista Dinorah, irmão de Dilermando, a época em que atuava pelo Botafogo.

         Dilermando sobrevive, mas seu irmão Dinorah vê sua carreira como jogador do Botafogo encurtada,  pois após o ocorrido, passa a sofrer de Hemiplegia, tendo que largar a carreira, pois a doença paralisava parte de seu corpo. Dinorah não aguentado o sofrimento, acaba por se suicidar em 1921. Seu irmão Dilermando foi a julgamento, mas foi absolvido por legitima defesa, ainda que a pressão da imprensa tenha sido forte, em favor do falecido Euclides da Cunha.
         Triste fim para um final previsível. Dois mortos. Euclides da Cunha, e o pobre coitado do Dinorah, grande zagueiro do Botafogo, que não tinha nada a ver com a história. Em 12 de maio de 1911, quase dois anos após a “tragédia da Piedade”, Dilermando e Anna Emilia se casam, e vivem juntos até 1926, quando se separam.

Att. Rafael Prata

Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe.

2 comentários:

  1. Rapaz,que babado...e que trágico também :( Nunca soube desse fato.
    Muito interessante a postagem, curioso! Parabéns ^^
    Beijoos :*

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  2. Valeu Thai :) Fico com pena do coitado do Dinorah, que não tinha nada a ver com a História..
    Brigadão pelo comentário :)

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