segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Planeta dos Macacos: A Origem (2011): Uma incisiva crítica ao Capitalismo e a barbárie humana sobre os animais


Confesso que nutro certo preconceito frente aos chamados “remakes” de clássicos do Cinema. Muito deste preconceito, se é que pode ser justificado, se dá por conta de muitas refilmagens que pouco acrescentavam – tecnicamente e mais ainda no aprofundamento da temática - frente ao que já havia sido produzido anteriormente, aproveitando-se apenas do sucesso da franquia em questão, para obter mais dividendos.

Entretanto, obviamente que muitos são os casos de exceção. Neste sentido, surpreendeu-me bastante a produção da película “Planeta dos Macacos: A Origem” (2011), pois, se tratando de um remake de uma franquia de enorme sucesso dos anos 1960 e 1970 (quando se produziu cinco filmes sobre a questão, e uma serie televisiva de enorme sucesso), surge àquela dúvida: Qual inovação temática pode ser oferecida por esta película?! Há algo mais a acrescentar? Estaremos diante de mais um “reboot” mercadológico desnecessário?
Grandíssima surpresa foi então a minha percepção sobre o conteúdo apresentado por este remake dirigido por um até então desconhecido diretor de nome Rupert Wyatt. A Película apresenta nos 100 minutos de sua exibição, um fortíssimo conteúdo de caráter contestatório, calcado em um posicionamento politico de base ambientalista. Isto porque, as principais criticas empreendidas pelo filme, são feitas sobre o Capitalismo e suas vilanias, e noutro ponto, numa raiz central, as barbáries cometidas pelos seres humanos frente aos animais. E são críticas bem incisivas e muito bem fundamentadas.
Levemente inspirado no clássico literário homônimo, de autoria do escritor francês Pierre Boulle, a película inova ao reciclar esta história já bem ambientada no Cinema, trazendo novos caracteres atualíssimos ao filme, em especial, como dito, questões que se referem ao tratamento dos animais, e em um âmago mais profundo, a falta de percepção humana sobre os seus próprios métodos, sua ligação com tudo àquilo que compõe seu ecossistema.

O Filme conta a história de um cientista, interpretado por James Franco, que procura desenvolver uma cura para o Mal de Alzheimer, motivado pela degeneração a que passa seu próprio pai.  Portanto, na empresa em que trabalha, os testes genéticos são feitos sobre chipanzés. Após uma serie de testes em uma símia de nome “Olhos Brilhantes”, a empresa considera que a droga pode ser um risco aos humanos, procedendo então a uma matança indiscriminada dos chipanzés que estão ali para testarem os produtos. Apenas sobrevive, um pequeno símio, filho desta macaca de nome “Olhos Brilhantes” ,que é resgatado pelo cientista, e criado em sua casa até os oito anos de idade.
Com uma inteligência absurda, logo se vê que os experimentos feitos sobre sua mãe surtem efeito hereditariamente neste. Cesar cresce nutrindo um forte amor pelo seu dono, a quem considera um pai, sendo criado como uma criança. Enfim, o filme se segue, e daí em diante, encontramos a reviravolta do filme que nos direciona a todas as questões polemizadas pelo mesmo.
Ao demonstrar o doce e carinhoso Cesar transformado em um desiludido macaco por conta das atrocidades que percebe contra seus iguais no decorrer de sua breve vida, o filme nos leva a pensar até que ponto somos nós os vilões desta história. Na verdade, é este o ponto que guia toda a trajetória do filme: a certeza que somos nós os culpados por tudo.
Torna-se praticamente impossível não “torcer” pelos macacos em seus objetivos, na medida em que, o filme apresenta todas as justificativas para tal – a descrição dos abusos sofridos, os descasos nos testes com os animais, etc. - , criando uma triste e acachapante situação de desconforto em nós – o público -, pois teoricamente estaríamos torcendo contra a nossa espécie.

Quando os macacos começam a demonstrar sentimentos e características biológicas – como consciência de vida, habilidades motoras como a fala – passamos a acreditar que encontramos o tão desejado elo perdido que nos leva até a diferença entre as espécies: os humanos aprenderam a arte do mal.
Por mais maniqueísta que possa aparentar esta visão, este é o motor certo da história. Comprovamos isso a partir da própria atuação do líder símio, o macaco Cesar. Em nenhum momento este ordena a aniquilação da raça humana, não profere insultos a nós. Muito pelo contrário, quando este empreende a sua luta, muitos são os gritos de “Não” para seus comandados, para que aqueles não atinjam aos civis, as pessoas, os soldados, etc. Eles são fortes, possuem uma musculatura privilegiadíssima, possuem motivos para fazer o mal – a vingança – mas assim não o fazem. Por quê?! 

É a bondade, a pureza, e a simples vontade de retornar as suas “casas” que guiam os macacos em todo o filme. Quando os símios conseguem irromper a horda de policiais altamente armados, conseguindo atingir uma floresta bem afastada de Nova York, o cientista ao encontrar Cesar nesta floresta, ouve da boca do mesmo esta própria questão: Cesar está em casa.
É o reencontro tão sonhado daqueles com seu habitat natural, a natureza com suas arvores e troncos, muito longe das jaulas dos laboratórios e das macas onde repousam nas horas de experimentos. Desta feita, a liderança e a Ideologia pacifista frente aos humanos e libertadora frente aos seus irmãos, de Cesar, empreende a uma forte crítica ao capitalismo, que é de forma subliminar, apontado como a raiz de todos estes problemas.

Cesar ao proibir a matança indiscriminada de civis, soldados, pessoas que aparentemente não possuem culpa por tudo isto – mas de outro modo, são beneficiados de forma indireta por tudo aquilo que é feito – demonstra uma justiça quase que utópica. Eles são justos acima de tudo. Não querem nada mais que a liberdade. A Vingança, o ódio somente é direcionado aqueles que tanto fizeram mal, de forma direta, aos símios. Uma cena é paradigmática neste sentido: É o dono da grande corporação genética que acaba morrendo, ao confrontar um velho macaco, marcado por anos e anos de experiências sofridas, a que este mesmo empresário definiria como “alguém que sabe como demais se comportar nas macas de experimentos”. O Macaco não o mata violentamente. Apenas não presta ajuda, quando este está por cair em um precipício.
De certa maneira, podemos até, de forma ousada, acreditar que a película se aproxima – ainda que de forma bem leve – de uma visão marxista. Ao possuir em si, o germe de sua própria destruição, o Capitalismo – simbolizado na indústria genética – produziu os meios – a inteligência que impulsiona a libertação símia – para conferir a liberdade de seu proletariados – os símios, alvos dos experimentos; importantíssimos para a maximização dos lucros da empresa -.
Aqui não há futurismo, não há uma amanhã dominado por macacos. Há só um Presente real e cru: a dominação dos símios pelos humanos. Não há um “planeta dos macacos”. Há uma vontade inata de apenas atravessar uma ponte que separa Nova York de uma floresta que desejam retornar, para se livrarem de tudo aquilo. É esta a conjuntura apresentada pelo filme.
Ainda neste mesmo bojo, a película também empreende a outra grande polêmica: Até que ponto deve ser permitida estas experiências genéticas? Quais são ou deveriam ser os limites das mesmas? Até que ponto os animais devem pagar por algo que visa o beneficio da raça humana?!

Obviamente isto tudo é muito polêmico, pois não podemos negar que, boa parte dos medicamentos e cirurgias que permitiram aumentar a melhoria de vida da raça humana perpassa por questões do tipo. Temos visto hoje em dia, uma gama de discussões acerca justamente destas questões. O Abuso acometido sobre os animais no que tange não somente, em alguns casos, a experimentos feitos de forma violenta, e até em questões mais supérfluas, como o uso de roupas de pele por companhias de moda.
Enfim, é por essas e outras questões, que o remake produzido traz consigo algumas boas e coerentes reflexões. Ao pensar sobre a “descartabilidade” dos animais nestes experimentos, calcada por uma atitude humana, que certamente vela uma atitude que em alguns casos beira a barbárie, o filme nos faz refletir sobre os próprios rumos da humanidade. Será que o ser humano pensa em si mesmo? Ou pensa somente no vil metal?! Na película, a cura para a Alzheimer é apenas um pretexto para a maximização dos lucros da empresa biogenética.
Há de se pensar então, quem é humano e quem é animal neste mundo.

Ass.: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe

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