terça-feira, 7 de janeiro de 2014

“Filmes ruins, árabes malvados: como Hollywood vilificou um povo” (2007): um olhar sobre a representação dos árabes no Cinema americano

        Num passado não tão distante eram os russos. Durante os anos 1950 a 1970, no auge da famigerada “guerra fria”, foram eles os “grandes vilões” a serem explorados no Cinema. Curiosamente, ainda que a guerra fria tenha terminado, o processo continuou nas décadas seguintes, pois, na necessidade de um vilão típico, os grandes filmes de ação de estrelas como Sylvester Stallone, Van Damme, entre outros, continuam a se utilizar desse batido estereotipo sobre os russos.
         Mas chega uma hora que o vilão passa a não ser mais “atrativo” para o público. Deixa de ter uma boa recepção. Passa a não ter tanta “compatibilidade” com os novos tempos históricos. Então o que se deve fazer?! Simples, basta reciclar o processo, alterando apenas o vilão em questão, procurando manter todavia a estrutura da história.
         Foi assim então que, principalmente a partir dos anos 1980, os árabes foram “tomando” gradativamente o espaço dos russos no posto de vilões preferidos do cinema hoollywoodiano. Foi com o intuito justamente de estudar esta questão que o Dr. Jacques Shahen escreveu sua obra “Reel Bads Arabes”, na qual empreende a uma análise de quase mil filmes para observar o papel a que tem sido destinados a eles em tais películas.
        
Desta forma, o documentário que possui pouco mais de 50 minutos, nos mostra desde o estereotipo comum dos arabes utilizado na chamada “era de ouro do Cinema” até a representação dos dias de hoje. Durante as decadas de 1920 a 1960, a ideia ou estereotipo utilizado era o da “arabland”, ou seja, a de um país exótico, habitado por “seres estranhos”, por dançarinas do ventre e mercadores de tapetes voadores. É a arabia de Ali Babá, de Bagdá e de Aladin.
         Porém, no decorrer dos anos 1980 o quadro se modifica em consonância com o quadro geopolítico; como os Estados Unidos passa a entrar em choque com alguns países de predominância árabe, a representação passa a ser “politizada”: os árabes se tornam terroristas sádicos, megalomaníacos que colocam em risco a “paz mundial”, estando nas mãos dos americanos justamente o dever de restaurar a ordem e defender o Ocidente desse “risco”.
        
Passa a chover então uma serie de filmes baratos de ação, como o clássico “True Lies”(1994) com Arnold Schwarzenegger e Jamie Lee Curtis, onde o enredo central é quase sempre o mesmo: um terrorista e uma organização árabe que ameaça explodir alguma localidade americana, pondo em risco a vida de inocentes.
         Enfim, o documentário em questão é importantíssimo, pois nos ajuda a compreender como uma imagem pejorativa, e destrutiva por assim dizer, pode reforçar um ideário político vigente. Em tempos de conflito, o Cinema acaba sendo um instrumento de um país para “alimentar” a raiva de sua população frente a um “inimigo” que muitas vezes é desconhecido, mas que, diante dessa “construção” se apresenta como tal aos olhos de um povo.

Ass: Rafael Costa Prata

Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe

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