domingo, 7 de dezembro de 2014

Roberto Gómez Bolaños (1929-2014): o dia em que “Chespirito” me fez chorar.

No recente dia 28 de novembro de 2014 fomos noticiados daquilo que, por mais que soubéssemos que chegaria o dia, tardávamos para não ouvir: a noticia do falecimento do genial comediante mexicano Roberto Gómez Bolaños. Por mais absurdo ou exagerado que possa parecer, algumas pessoas lamentaram, sentiram e choraram a morte como se tivessem perdido a alguém próximo, um familiar ou um amigo.
Fui um deles. Vi a noticia. De imediato não acreditei, pois achei que se trataria de mais um dos inúmeros boatos que reiteradamente se espalhavam pela net informando uma falsa morte de Bolaños. Mas então veio o choque de realidade: dessa vez era verdade. Sai da frente do computador, pensei em descer do andar do meu quarto, quando me dei conta que o meu rosto estava “suado”.  Foi quando notei que sentia o peso das lágrimas caindo pelo rosto. Mais do que o mero peso das lágrimas, passei a notar mais ainda o quanto sou fanático e admirador daquele homem que acabava de partir.


Em letargia, comecei então a procurar dentro de mim os motivos para tal “choro”. Vi então que Bolaños tinha sido um “parente próximo” tão presente no decorrer de toda a minha vida. Lembrei-me das inúmeras tardes em que passei assistindo a Chaves e Chapolin com os meus primos; lembrei também das fitas VHS que pedia emprestado aos meus primos Thiago e Juninho quando assistia então incessantemente sem parar aos episódios de Chapolin durante a minha infância, atropelando inclusive as horas da madrugada e  conseguindo vencer assim na sua companhia toda a minha eterna insônia.
Lembrei-me também da minha infância na Atalaia Nova. Naquele ambiente, tinha a minha disposição uma bela praia para “jogar bola”, mas somente partia nesse sentido após assistir pela milésima vez ao episódio de Acapulco. Assistindo a esse episódio sentia uma vontade de ir a praia estando paradoxalmente na praia. Queria estar em Acapulco.
Notei também que o peso da idade ia chegando, mas que a companhia da trupe de Bolaños continuava. Dos meus 5 aos 25 anos atuais, a evidência de que continuava a assistí-los como se fosse a primeira vez. Uma espécie de subterfúgio, a procura pela nostalgia da infância, da simplicidade, do humor puro... ou por algum outro motivo... o certo é que ali chorei por algum ou certamente vários motivos. 


Bolaños era gênio. Mais do que “só” um genial comediante, foi também um sensacional roteirista. Escrevia de tudo e com absurda qualidade, daí o seu apelido de “Chespirito”, uma alusão a Shakespeare e a sua pequena estatura. Nenhum outro em toda a América Latina conseguiu o que Bolaños conseguira. Era, foi e continuará sendo adorado por todos os países da América Latina. Bolaños talvez tenha sido o único ponto em comum em todos os países latinos. Todos o conheciam.
Foi justamente por isso que não somente o México parou no dia 28 de novembro de 2014. Os demais países da América Latina também. Talvez nenhum outro artista tenha conseguido a façanha de ser tão adorado em tantos países. A simplicidade com que abordava questões do cotidiano social desses países talvez possa explicar a adoração sobre Bolaños.

Despedida de Bolaños no estádio Azteca: 40 mil pessoas.

Posso ter exagerado nesta postagem, mas fui sincero. Outras pessoas devem ter chorado também. Cada um com seus motivos particulares. Chorei porque Bolaños foi parte substancial da minha infância, estando inclusive em momentos difíceis da mesma quando me exilava nos episódios de Chapolin como uma espécie de “fuga da realidade”.
Como fanático pelo gênero cômico também chorei porque, do ponto de vista técnico, acabava de perder um dos meus maiores ídolos, o qual sempre residiu no meu panteão sagrado da comédia juntamente com Charles Chaplin e Buster Keaton. Acabava de falecer o criador do Chaves, aquele menino pobre tão típico das localidades de toda a América Latina, do Chapolin, aquele herói magrelo e medroso cuja bondade e a vontade de ajudar ao próximo era seu único "super poder". Morria também o homem que criticava o intervencionismo e o imperialismo americano por meio do “SuperSam”, personagem de Chapolin, e igualmente uma das pessoas que fizeram nascer em mim o gosto pelo cinema justamente por conta dos episódios na qual o mesmo encenava cenas de filmes clássicos nos episódios de Chapolin.


Morria assim Bolaños. Chorei por vários motivos de maneira que seria impossível listar-los aqui. Mas a obra é eterna, como dizem. Minha sobrinha Júlia de apenas 5 anos não perde a um dos episódios de Chaves. Seu quarto é decorado com um boneco de pelúcia do mesmo. Quantas gerações assistiram e continuarão a assistir Chaves?!

Precisa mesmo explicar porque Bolaños era tão genial?! O pequeno Rafael assistia em meados de 1996, e a pequena Júlia assiste em 2014. No Peru, Uruguai, Venezuela, Paraguai, Argentina, Equador, outros tantos continuam a assistir...
Eu sei que Bolaños diante de sua missão de nos fazer rir não desejaria ver a sua culpa no choro de milhões por toda a América Latina. Perdoe-nos Bolaños, foi praticamente impossível segurar o choro... “Foi sem querer querendo”. 

Muito obrigado por tudo mesmo! 

Ass. Rafael Prata
Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe

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