quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

“O Olhar estrangeiro” (2006): a visão de Hollywood sobre o personagem Brasil

 “Lá eles fazem muita festa”. É o país do futebol e das mulheres com biquínis curtíssimos. Carnaval.  Tem a violência também que é muito grande. Mas ainda assim é um país de pessoas felizes e gentis. Pelé. Carmen Miranda é do Brasil?! Serio?! Vez ou outra o tema da visão do Brasil pelos estrangeiros reaparece, e muitas são as reações.
Tem quem se exalte com os estrangeiros por considerar que aqueles nutram uma visão estereotipada sobre o país, e tem aqueles que, ainda que se exaltem com essa mesma visão, percebem que, ainda que seja um preconceito externo, muito dessa visão também foi construída internamente.

Enfim, foi procurando discutir esta questão em relação ao Cinema que a cineasta Lucia Murat produziu o documentário “O Olhar Estrangeiro” (2006) baseado no livro “O Brasil dos gringos: Imagem e Cinema” escrito pelo Professor de Cinema da Universidade Federal Fluminense, Tunico Amâncio.
Neste  interessantíssimo documentário de pouco mais que uma hora, somos levados a uma serie de depoimentos proferidos por  renomados diretores, atores e cineastas estrangeiros, como os grandes atores Michel Caine e Jon Voight, que participaram de produções realizadas nessas terras, e que por isso, apresentam suas visões em torno de nosso país.
O documentário perpassa uma serie de filmes mais antigos e outros mais recentes para desnudar a complexa “representação” do Brasil pelo Cinema estrangeiro. Passando por renomados filmes como “O Homem do Rio” (1962) de Phillipe de Brocca, até popularescos recentes como Anaconda (1997) e Lambada (1990), Lucia Murat apresenta todo esse quadro estereotipado e “místico” em torno de nosso país, em alguns dos filmes citados como o “paraíso” por conta da beleza natural, das mulheres, e por outros, como um local inóspito.

 Uma serie de estereótipos é discutido em todo o documentário, como por exemplo a ideia do Brasil como um “paraíso da sensualidade”, bem representado, por exemplo, na película “O Feitiço do Rio” de 1984. Neste estereótipo, o Brasil na verdade é visto como o local das moças bonitas, dos biquínis, dos top less, e sobretudo, das belas praias.
Aliás, um aspecto interessante que o documentário aborda é que na verdade a representação caricata do Brasil é na verdade uma versão mais caricata ainda do Rio de Janeiro. O suposto Brasil representado tem suas locações sobretudo no Rio de Janeiro, e em alguns casos em Salvador, entretanto, em ambos os casos, a representação é obviamente bem caricata desses próprios lugares: O Rio de Janeiro é praia, bebida e mulheres peladas, e a Bahia é o misticismo, a religião.
 Um caso bastante curioso da “representação tupiniquim” feita pelo filmes é demonstrado na película “Lambada – a dança proibida”(1990) do diretor Greydon Clark.  A Película narra a história de uma “princesa índia”, de cor branca, que parte para os Estados Unidos para vencer um concurso de lambada no intuito de demonstrar o desmatamento da Amazônia. A idéia é boa, mas o recurso é horrivel. Além da índia branca, temos uma Amazônia repleta de índios que falam o espanhol, e o pajé, pai da princesa índia, é um índio apache.
Enfim, este documentário de Lucia Murat é riquíssimo para compreender não somente a visão de alguns sobre o nosso país, mas sim uma visão que se estende a muitos, haja vista que o Cinema não deixa de ser um reprodutor de uma visão secular.

Ass: Rafael Costa Prata
Graduado em História na Universidade Federal de Sergipe

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