quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Um talento a serviço do mal: a cineasta Leni Riefenstahl (1902-2003) e os filmes de propaganda nazista


Nascida em Berlim no ano de 1902, a atriz e cineasta alemã Leni Riefenstahl, falecida desde 2003, imortalizou-se por conta de suas produções a serviço do regime nazista de Adolf Hitler. No entanto, mais do que uma mera cineasta “paga” pelo regime, Leni realmente se apresentava como uma cineasta de enorme talento, tendo revolucionado algumas das técnicas cinematográficas de então. Fora um verdadeiro talento a serviço do mal.
Conta-se que Leni, aos 30 anos de idade, tivera seu primeiro contato com Adolf Hitler, no ano de 1932, em um comício do partido nazista, quando a jovem teria ficado alucinada com o poder da oratória de Hitler. Quando o Partido Nazista assume o poder em 1933, Hitler então copta a jovem cineasta, que de imediato passa a trabalhar para o regime nazista em seus projetos de fortalecimento e legitimação por meio do Cinema.

Leni na companhia de Adolf Hitler

Leni produz e dirige seu primeiro documento no mesmo ano, chamado “A Vitória da Fé”, na qual reproduz o Quinto Congresso do Partido Nazista, com tomadas em foco da expressão do Fuhrer, numa espécie de ensaio para sua “grande obra” do ano seguinte. Assim foi então que em 1934, Leni lança sua “obra prima”, a película “O Triunfo da Vontade”, um documentário de quase duas horas de duração, cujas imagens impressionam pela natureza épica, pelas inovações no tipo da filmagem. Enfim, a obra não deixaria de ser um “louvor” a figura de Hitler e aos mecanismos do sistema nazista.

Cena de Triunfo da Vontade, de 1934.

Tal filme tornou-se o marco cinematográfico do regime nazista, servindo de modelo para outros regimes totalitários, como paradigma do potencial oferecido pelo Cinema na propagação de ideologias.
Leni, continuando sua “saga de louvor”, lança em 1935, a película “O Dia da liberdade: nossas forças armadas”, um curta de pouco mais de meia hora voltado a louvar as forças armadas alemãs, demonstrando seu dia a dia de treinamento, e reforçando sobretudo, o poder dos “arianos”. Em 1938, a documentárista lança um outro “clássico” de sua autoria, a película “Olympia”, na qual reproduz as cenas de suas filmagens dos Jogos Olímpicos de 1936, ambientados na Alemanha nazista.

Leni em seu processo de filmagem de Olympia, 1938.

Findada a guerra, Leni acabou sendo presa, quando ficou por 4 anos presta na França, e quando foi a julgamento, foi considerada apenas “simpatizante” do sistema. Em sua defesa, Leni costumava afirmar que era uma jovem ingênua e que desconhecia todos os fatos horrendos cometidos pelo regime durante a guerra.
No restante de sua vida, a cineasta procurou dar continuidade a sua carreira como cineasta, no entanto, não obteve  patrocínios obviamente por conta de seu passado, de modo que passou a desenvolver outras atividades próximas ao Cinema, como a Fotografia.
Em 2003, aos 101 anos de idade, Leni Riefenstahl falece em sua casa na Alemanha. Até hoje a sua imagem é de natureza extremamente ambígua: não há como negar seu enorme talento e suas contribuições para o Cinema, no entanto, deve-se pesar o destino de tal talento. Repito, um talento a serviço do mal.
  
Ass: Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe

2 comentários:

  1. Muito bom. De fato, Leni era talentosa, mas teve sua carreira manchada por sua associação com o nazismo... Ou seria o contrário? Será que ainda falaríamos dela se não tivesse feito filmes grandiosos, ainda que financiados por Hitler? Acho que nunca saberemos.
    Abraços!

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  2. Isso mesmo Lê. Dificilmente saberemos se Leni teria tido algum tipo de sucesso caso não patrocinada pelo regime nazista... Tudo muito complicado!

    Abraço!

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