Uma típica criança, minutos antes de dormir, ao
ouvir uma famosa história bíblica indaga então ao seu interlocutor, com toda a
curiosidade e sapiência infantil, porque o Rei de Israel permitira que o
pequeno e jovem Davi enfrentasse o temível e grande Golias. O Senhor que
contava-lhe a história, explica-lhe então que não há como responder. A criança
percebia assim talvez o traço menos abordado e possivelmente mais polêmico da história
em questão.
Em
“No vale das sombras”, Haggis, que além de diretor foi o roteirista, discute um
outro ponto bastante polêmico para a sociedade norte-americana, cujos debates
ainda que se acentuassem, ainda encontravam certo esquecimento: as mazelas
emocionais provocadas pelas guerras e a famigerada política externa norte –
americana.
Partindo
destas premissas, a película procura discutir de maneira bastante crítica a
natureza da política externa norte-americana durante a chamada “Caça ao Terror”
no Iraque, abordando inúmeras questões decorrentes da mesma: a convocatória de
jovens para o exército, o encontro com a violência em sua face da barbárie bélica, as mazelas emocionais provocadas pela guerra e o retorno doentio destes
combatentes para os Estados Unidos, a falta de auxilio do Estado frente aos
mesmos diante de tais consequências, e como também, o estado de desumanização provocada pela guerra nos soldados americanos no trato com a
população das regiões em conflito.
Vale muito assistir o filme.. Tratei de não apresentar os
fatos da história para não prejudicar a reflexão daqueles que porventura irão
assisti-lo. Por fim, o grande ponto que reúne todos os debates e reflexões que
Paul Higgis realizou na película se resume novamente na metáfora de Davi e Golias,
e a dúvida da criança: Porque o próprio Rei – o presidente – não foi lutar
contra Golias?! Porque ele envia os jovens para combatê-los?! Porque a guerra é feita de crianças?!
Ass. Rafael Prata
Mestrando em História na Universidade Federal de Sergipe
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