No
recente dia 28 de novembro de 2014 fomos noticiados daquilo que, por mais que
soubéssemos que chegaria o dia, tardávamos para não ouvir: a noticia do
falecimento do genial comediante mexicano Roberto Gómez Bolaños. Por mais absurdo
ou exagerado que possa parecer, algumas pessoas lamentaram, sentiram e choraram
a morte como se tivessem perdido a alguém próximo, um familiar ou um amigo.
Fui um
deles. Vi a noticia. De imediato não acreditei, pois achei que se trataria de
mais um dos inúmeros boatos que reiteradamente se espalhavam pela net informando
uma falsa morte de Bolaños. Mas então veio o choque de realidade: dessa vez era
verdade. Sai da frente do computador, pensei em descer do andar do meu quarto, quando
me dei conta que o meu rosto estava “suado”. Foi quando notei que sentia o peso das
lágrimas caindo pelo rosto. Mais do que o mero peso das lágrimas, passei a
notar mais ainda o quanto sou fanático e admirador daquele homem que acabava de
partir.
Em letargia,
comecei então a procurar dentro de mim os motivos para tal “choro”. Vi então
que Bolaños tinha sido um “parente próximo” tão presente no decorrer de toda a
minha vida. Lembrei-me das inúmeras tardes em que passei assistindo a Chaves e
Chapolin com os meus primos; lembrei também das fitas VHS que pedia emprestado
aos meus primos Thiago e Juninho quando assistia então incessantemente sem
parar aos episódios de Chapolin durante a minha infância, atropelando inclusive as horas
da madrugada e conseguindo vencer assim na sua companhia toda a minha eterna insônia.
Lembrei-me
também da minha infância na Atalaia Nova. Naquele ambiente, tinha a minha
disposição uma bela praia para “jogar bola”, mas somente partia nesse sentido
após assistir pela milésima vez ao episódio de Acapulco. Assistindo a esse
episódio sentia uma vontade de ir a praia estando paradoxalmente na praia. Queria estar em Acapulco.
Notei
também que o peso da idade ia chegando, mas que a companhia da trupe de Bolaños
continuava. Dos meus 5 aos 25 anos atuais, a evidência de que continuava a
assistí-los como se fosse a primeira vez. Uma espécie de subterfúgio, a procura
pela nostalgia da infância, da simplicidade, do humor puro... ou por algum
outro motivo... o certo é que ali chorei por algum ou certamente vários motivos.
Bolaños
era gênio. Mais do que “só” um genial comediante, foi também um sensacional
roteirista. Escrevia de tudo e com absurda qualidade, daí o seu apelido de “Chespirito”,
uma alusão a Shakespeare e a sua pequena estatura. Nenhum outro em toda a América Latina conseguiu o que Bolaños conseguira. Era, foi e continuará sendo adorado por todos os países da América Latina. Bolaños talvez tenha sido o único ponto em comum em todos os países latinos. Todos o conheciam.
Foi justamente por isso que não somente o México parou no dia 28 de novembro de 2014. Os demais países da América Latina também.
Talvez nenhum outro artista tenha conseguido a façanha de ser tão adorado em
tantos países. A simplicidade com que abordava questões do cotidiano social
desses países talvez possa explicar a adoração sobre Bolaños.
Despedida de Bolaños no estádio Azteca: 40 mil pessoas. |
Posso
ter exagerado nesta postagem, mas fui sincero. Outras pessoas devem ter chorado
também. Cada um com seus motivos particulares. Chorei porque Bolaños foi parte substancial da minha infância, estando inclusive em momentos difíceis da mesma
quando me exilava nos episódios de Chapolin como uma espécie de “fuga da
realidade”.
Como
fanático pelo gênero cômico também chorei porque, do ponto de vista técnico,
acabava de perder um dos meus maiores ídolos, o qual sempre residiu no meu panteão
sagrado da comédia juntamente com Charles Chaplin e Buster Keaton. Acabava de
falecer o criador do Chaves, aquele menino pobre tão típico das localidades de toda a América Latina, do Chapolin, aquele herói magrelo e
medroso cuja bondade e a vontade de ajudar ao próximo era seu único "super poder".
Morria também o homem que criticava o intervencionismo e o imperialismo
americano por meio do “SuperSam”, personagem de Chapolin, e igualmente uma das
pessoas que fizeram nascer em mim o gosto pelo cinema justamente por conta dos
episódios na qual o mesmo encenava cenas de filmes clássicos nos episódios de Chapolin.
Morria
assim Bolaños. Chorei por vários motivos de maneira que seria impossível listar-los aqui. Mas a obra é eterna, como dizem. Minha sobrinha Júlia de
apenas 5 anos não perde a um dos episódios de Chaves. Seu quarto é decorado com
um boneco de pelúcia do mesmo. Quantas gerações assistiram e continuarão a
assistir Chaves?!
Precisa
mesmo explicar porque Bolaños era tão genial?! O pequeno Rafael assistia em
meados de 1996, e a pequena Júlia assiste em 2014. No Peru, Uruguai, Venezuela,
Paraguai, Argentina, Equador, outros tantos continuam a assistir...
Eu sei
que Bolaños diante de sua missão de nos fazer rir não desejaria ver a sua culpa no
choro de milhões por toda a América Latina. Perdoe-nos Bolaños, foi
praticamente impossível segurar o choro... “Foi sem querer querendo”.
Muito
obrigado por tudo mesmo!
Ass. Rafael Prata
Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe
Lindo
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