quarta-feira, 4 de julho de 2012

Quando Hoolywood decide falar sobre seus bastidores


            São raros os filmes que procuram retratar os bastidores de Hoolywood. Isto se torna mais difícil de ser encontrado quando nos voltamos à chamada era de ouro do cinema norte – americano, 1940 – 1960, momento em que o glamour da vida dos grandes atores e atrizes, passava a impressão de que tudo naquele mundo era repleto de beleza, de harmonia, felicidade.
         Contudo, alguns filmes produzidos pela própria indústria hoolywoodiana transgrediram nesse sentido; e por esse motivo causaram certa polêmica. Retratar questões obscuras, problemas do mundo hoolywoodiano, mazelas, era algo complicado, podendo não agradar aos produtores do mundo do Cinema. Musicais, filmes românticos, filmes de gangsteres, etc, todos os gêneros são bem vindo, desde que não falem do que não deve nunca ser de conhecimento do público.
         Neste sentido, dois filmes em especial, curiosamente produzidos no mesmo ano, 1950, conseguem paradigmaticamente ilustrar esta transgressão dita: “Crepúsculo dos Deuses” do genial Billy Wilder e “A Malvada” do também extraordinário Joseph L. Mankiewicz.
         Em ambas as películas, o glamour artístico é deixado para trás, e o que se vê é o desnudar das verdadeiras faces dos artistas, os caminhos obscuros tomados até chegar à fama, e noutros casos, o descontrole frente à queda/decadência em Hoolywood.
         Em Crepúsculo dos Deuses, somos levados a um alucinante noir, conduzido através de uma narração post – mortem do personagem principal – algo bastante inovador -, sobre a vida de uma estrela do cinema mudo, chamada Norma Desmond, interpretada pela sensacional Gloria Swanson, que não sabendo adaptar-se ao Cinema falado, acabou entrando em esquecimento. Seu orgulho e ego são tão grandes que a mesma vive numa falsa ilusão de sua fama. Enfim, spoilers a parte, a grande proeza do filme está no tratamento dado a este tão sonhado glamour hoolywoodiano; Ao demonstrar a queda de uma grande atriz, Wilder nos pergunta até que ponto a ilusão da fama, do reconhecimento, tem sua durabilidade... Algumas figuras paradigmáticas, que não souberam também, por motivos pessoais e diferenciados, transpassar ao mundo do cinema falado, como Buster Keaton, dão as caras no filme, dando um tom mais real ao que está sendo discutido na obra. Outro ponto positivo da obra é a aparição do fantástico diretor Cecil B. de Mille na película, interpretando a si mesmo, um cineasta famoso procurado pela personagem central da película, para dirigir seu suposto filme.
         Poderia me alongar demais sobre vários pontos do filme, mas não desejo assim agir, para não contar partes importantes do mesmo. Vale mais assistir e tirar suas próprias conclusões. Um diálogo marcante que personifica toda a ideal central do filme, está na fala de Norma Desmond quando ao ser indagada do seu desaparecimento no Cinema, afirma que: "Eu sou Grande. Os filmes é que ficaram pequenos". 
         Esta foi à noção que muitos artistas do Cinema Mudo tiveram com o furor causado pela entrada da fala no cinema falado. Norma personifica assim boa parcela de grandes gênios de um passado distante, que acabaram esquecidos pela velocidade do tempo e/ou não souberam adaptar-se a nova conjuntura que se formava.
         Crepúsculo dos Deuses levou o Oscar nas categorias: Melhor direção de arte, melhor trilha sonora e melhor roteiro, tendo sido indicadas para outras categorias, como melhor filme dramático, melhor atriz, melhor ator, tendo perdido estas categorias para seu principal concorrente, seu homônimo em discussão temática, a película “A Malvada” que levou todas estas categorias.
       Em “A Malvada”, o ambiente hoolywoodiano é subliminar, haja vista que na película, o glamour representado incide no Teatro. Contudo, está obvio que o que está sendo representado ali, faz menção ao Cinema. Nesta, somos levados a história de uma pobre moça chamada Eve Harrington, interpretada magistralmente por Anne Baxter, que é obcecada pela renomada atriz teatral Margô Channing, interpretada pela inigualável Bette Davis, a ponto de assisti-la em todas as suas peças, todos os dias da semana. Também partindo de uma narração que começa pelo fim, o filme conta então a gradual transformação da jovem fã em uma moça obcecada pelo sucesso, tentada a assumir o papel de quem venera. Infiltrando-se na vida de Chaning, Eve vai lentamente galgando espaços, seduzindo as pessoas próximas ao cenário artístico até conseguir seus objetivos.  
         Enfim, estas duas grandes películas do ano de 1950, que levaram praticamente a totalidade das estatuetas distribuídas no ano seguinte, são profundamente complementares, e nos ajudam em especial, a refletir sobre o que está por detrás de toda essa beleza, desse mundo fantasioso que se aviva nas telas do Cinema. Nem tudo é tão bonito quanto parece ser. Nem tudo é eterno!

Ass: Rafael Costa Prata
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...